Diário de Notícias

Colégio interno do grupo do PaRk é tudo menos castigo

Em Portugal ainda associamos a escola em regime de internato a castelos com ameias e histórias de suspense. Uma ideia que a Inspired Education pretende contrariar com a sua nova residência de estudantes na St. Peter’s School, em Palmela.

- TEXTO MARIA JOÃO MARTINS dnot@dn.pt

Não esconde que tem um imaginário alimentado pelas sagas de Enid Blyton, As Gémeas no Colégio de Santa Clara ou O Colégio das Quatro Torres. Como tantos de nós, Bárbara Beck Lancastre sonhou em tempos com piquenique­s noturnos e mistérios por desvendar e, mesmo que não favoreça atividades do género nas escolas que tem sob tutela enquanto diretora-geral da Inspired Education em Portugal, acredita que os “internatos podem fazer os alunos muito felizes.”

Vem isto a propósito do anúncio da abertura em Portugal da primeira escola internacio­nal em regime de internato: funcionará já no ano letivo prestes a começar, na St. Peter’s School, em Palmela, e destina-se, neste ano inaugural, a jovens com idades compreendi­das entre os 14 e os 18 anos, faixas etárias que frequentam os anos escolares já inseridos no currículo internacio­nal (do 8.º ao 12.º ano): “A Inspired”, conta ao DN Bárbara Lancastre, “tem muita experiênci­a em escolas internas e quisemos trazer um pouco do conceito para Portugal, onde ainda se encara este tipo de escolas com relutância, associando-as à ideia de castigo.” Nada poderia estar mais longe da realidade, assegura, porque o que acontece é que, noutros países (com o Reino Unido à cabeça), estas escolas “são procuradas, antes de mais, por pais que querem um ensino diversific­ado e de grande qualidade para os filhos”. O que, no caso destas escolas, significa exigência académica, mas também muita atenção ao desporto e às artes performati­vas e visuais: “A experiênci­a diz-nos que os alunos empenhados numa atividade extracurri­cular que os preencha não se estão a distrair do essencial, ficam é ainda mais motivados para o estudo e conseguem melhores resultados.” Este tipo de experiênci­a, com todas as atividades concentrad­as em ambiente escolar, com pausas mas sem necessidad­e de deslocaçõe­s, tem ainda outro tipo de vantagem: “O de lhes ensinar a gerir da melhor forma o seu próprio tempo.”

A performanc­e não é, todavia, a única preocupaçã­o. Tão ou mais importante é a segurança e o conforto dos alunos: “Temos muitas regras nessa matéria porque não podemos ignorar que o mundo é muito mais complexo, e até perigoso, hoje do que era há algumas décadas.” Antes de mais, a segurança sanitária: “Em tempo que ainda é de pandemia, um internato garante às famílias que estes jovens estão mais protegidos e não correm o risco de ver o ano letivo interrompi­do por causa de uma eventual quarentena, com as consequênc­ias que isso tem para as aprendizag­ens e para a saúde mental.”

Mas também segurança física e emocional. Para além do pessoal docente e não docente que acompanhar­á o dia-a-dia dos estudantes, há uma família que vive a tempo inteiro na residência e que lhes serve de tutores. “São pessoas muito experiente­s neste tipo de trabalho, a quem cabe dar-lhes um tipo de apoio mais afetivo e que estabelece pontes diretas entre a escola e as suas famílias.” De resto, serão estes os responsáve­is pelo alinhament­o dos jovens nos quartos duplos, já que não serão colocados por idades, mas de acordo com o perfil psicológic­o e com os interesses em comum. “Essa gestão depende apenas dos tutores, a quem caberá fazer a avaliação psicológic­a dos alunos.”

Esta atenção global aos alunos passa ainda pelo cuidado com o que comem, em função das necessidad­es físicas mas também culturais de cada um. Para além da equipa da cozinha, o nutricioni­sta da St. Peter’s terá de trabalhar para jovens portuguese­s, mas também russos, angolanos, brasileiro­s, chineses e os que, entretanto, se juntarem ao grupo.

Um interesse crescente por Portugal

Com sede em Londres, a Inspired Education é um dos maiores grupos privados de educação do mundo, com 70 escolas a funcionar em todos os continente­s. Em Portugal começou por adquirir alguns estabecom lecimentos de ensino, compatívei­s com os seus princípios, como as quatro escolas da rede PaRK (Alfragide, Cascais e duas em Lisboa) e a St. Peter’s mas, anuncia Bárbara Lancastre, está para breve a construção de raiz de uma escola Inspired. Ao todo, em oito anos de funcioname­nto em Portugal, já foram investidos pela Inspired cerca de 150 milhões de euros.

Este interesse crescente pelo nosso país, diz a diretora nacional, deve-se, antes de mais, “à conscienci­alização das vantagens que Portugal tem para oferecer: o clima, a segurança, a excelente comida.” A tais atrativos somou-se, nos últimos anos (pelo menos, nos anos anteriores à pandemia) a circunstân­cia de o país ser cada vez mais procurado por estrangeir­os com o desejo de aqui fixar residência: “A St. Peter’s já era muito procurada por famílias chinesas. Agora temos também muitas famílias a voltar para Portugal depois do Brexit e que querem que os filhos continuem a estudar num currículo internacio­nal.” A este potencial público há que somar os portuguese­s um interesse crescente por este tipo de oferta. Para estes, a St Peter’s terá também uma modalidade que pode ser interessan­te: o regime de semi-internato, que permitirá aos alunos ir a casa ao fim de semana. Bárbara, que já teve uma filha neste sistema, recomenda.

Para já, a procura tem sido muito satisfatór­ia: “Já temos 15 alunos confirmado­s para a residência, o que supera as nossas expectativ­as para um primeiro ano de funcioname­nto, sobretudo num país em que, como sabemos, ainda não há essa cultura do internato.”

A tal sucesso não será estranha tanto a localizaçã­o da St. Peter’s (em Palmela, a dois passos da serra e das praias) como os interiores da residência, concebidos para erradicar de vez a ideia sinistra de dormitório. Com 18 quartos duplos (nove para raparigas e (nove para rapazes), área de estudo e de convívio, concebidos por uma equipa especializ­ada em arquitetur­a escolar, não parece convidar a planos de fuga na calada da noite.

Estas escolas “são procuradas, antes de mais, por pais que querem um ensino diversific­ado e de grande qualidade para os filhos”.

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A primeira escola internacio­nal em regime de internato abre portas em Palmela no próximo ano letivo.
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