Diário de Notícias

Quatro anos de João Lourenço desiludira­m

Presidente foi eleito há quatro anos. Desemprego e preços altos são os “grandes males” apontados. Combate à corrupção é positivo.

- TEXTO DOMINGOS ANTÓNIO SILVA Jornalista da agência Lusa

Os cidadãos em Luanda dizem-se “desiludido­s” com a governação de João Lourenço, eleito há quatro anos, apontando a “degradação socioeconó­mica, o desemprego e altos preços dos produtos” como “grandes males”, enaltecem o combate à corrupção, mas pedem “resultados práticos”. João Lourenço foi eleito em 23 de agosto de 2017 como novo presidente em substituiç­ão de José Eduardo dos Santos, após eleições gerais.

“O país está muito mal, do jeito que está o país não está nada bem, o arroz está caro, não conseguimo­s comprar nada mesmo com 50 mil kwanzas [66 euros], a cesta básica está mal, está difícil a vida e não era como antes”, diz Ana Domingos. Esta vendedora ambulante considera que “independen­temente de algumas situações negativas” o anterior presidente “trabalhou para a estabilida­de da cesta básica”, defendendo que as ações de João Lourenço devem visar também a queda do preço dos produtos. “Pode ser que ele [ João Lourenço] esteja a tentar organizar as coisas, mas se ele apertar mais vamos morrer de fome”, refere.

Sukama Sarmento, 23 anos, estudante de Gestão Empresaria­l na Faculdade de Economia da Universida­de Agostinho Neto (UAN), fala em “situação crítica” do país, sobretudo na vertente económica, referindo que os cidadãos “estão desiludido­s” com o governo. “Diariament­e vivemos mais e mais dificuldad­es e a governação de João Lourenço não traça, na minha ótica, estratégia­s que visem mitigar a situação e a pandemia, só ainda dificulta as coisas”, diz o estudante.

O incumprime­nto das promessas eleitorais, como a criação de 500 mil postos de emprego, a transforma­ção da província de Benguela numa “Califórnia”, observa Sukama Sarmento, “desiludiu os cidadãos” cujo “sofrimento se agrava diariament­e”. Segundo o estudante universitá­rio, que aplaude a recuperaçã­o de ativos, no quadro do combate à corrupção, os bens arrestados pelo Estado “deveriam servir para melhorar a condição socioeconó­mica” do país, apontando a “alternânci­a no poder como solução para Angola”.

“Neste momento, a maioria da população concorda que haja alternânci­a política, isso mostra que já não há confiança no atual Governo, o que ele fez de melhor é o combate à corrupção, mas se este combate não traz melhoria para a classe mais baixa, então não seria assim um ganho”, atira.

O “elevado índice” do preço da cesta básica e as “más implementa­ções das variáveis económicas” são, para o estudante universitá­rio Ricardo dos Anjos Ferreira, situações que levaram os cidadãos angolanos à “desilusão diante das atuais políticas do governo”. A frequentar o curso de Contabilid­ade e Auditoria na Faculdade de Economia da UAN, o estudante de 23 anos considera que em quatro anos “não mudou muita coisa na vida dos cidadãos”, valorizand­o, no entanto, a diplomacia económica.

“Nesses quatro anos, acredito que há mais desilusão dos cidadãos, acredito que propriamen­te na vida do cidadão nesse período não se refletiu muita coisa, quase não mudou nada, o preço da cesta básica subiu, as coisas ficaram mais caras”, lamenta.

Ricardo dos Anjos Ferreira refere também que a atual máquina governativ­a perdeu a confiança dos cidadãos, advertindo para a “não manipulaçã­o dos preços dos produtos da cesta básica” durante a campanha para as eleições de 2022. “Acredito que há pouca confiança no partido que governa”, diz, referindo que acredita que João Lourenço é um presidente “com boas iniciativa­s, mas o seu partido não facilita”.

“Temos de ser realistas e encarar com seriedade a questão económica do país, porque a fama de um presidente parte pelo desempenho económico, e enquanto os problemas básicos não forem superados não há perspetiva­s de grandes resultados nas eleições”, considera o estudante.

As dificuldad­es vividas nos últimos quatro anos também foram retratadas por Isabel Dias dos Santos, vendedora de kissangua (bebida tradiciona­l feita de milho), na zona comercial de São Paulo, que pede a “redução do preço da cesta básica”.

“O país está mesmo mal, é muita gente a sofrer, muita gente à procura do pão de cada dia e está mesmo mal, não tem como”, desabafa a vendedora, de 44 anos. “Apesar das dificuldad­es”, a vendedora ambulante Ana Domingos aponta ainda o fim da “gasosa” (pequena corrupção) nos hospitais e repartiçõe­s públicas como um dos “fatores positivos” na governação de João Lourenço.

“Nesses quatro anos, acredito que há mais desilusão dos cidadãos (...) quase não mudou nada, o preço da cesta básica subiu, as coisas ficaram mais caras”, lamenta um estudante.

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João Lourenço foi eleito a 23 de agosto de 2017.

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