Diário de Notícias

Secretária de Estado quer universida­des e politécnic­os a atrair mais mulheres e jovens de zonas desfavorec­idas para as ciências

Numa carta enviada às instituiçõ­es de ensino superior, Rosa Monteiro apela a que promovam a integração de mulheres e jovens oriundas de zonas desfavorec­idas, ao abrigo de concursos abrangidos pelo Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a.

- TEXTO PAULA SOFIA LUZ

As universida­des e institutos politécnic­os portuguese­s estão a ser desafiados a colocar as mulheres e jovens oriundos de zonas desfavorec­idas num patamar que garanta não só a igualdade de género como de oportunida­des.

Numa carta enviada recentemen­te a todas as instituiçõ­es de ensino superior, a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, apelou no sentido de promoverem a igualdade e a não discrimina­ção, aproveitan­do o programa Impulso Jovens STEAM.

Rosa Monteiro quer incluir mais mulheres e jovens de zonas desfavorec­idas nos formados em cursos STEAM (acrónimo de ciências, engenharia, artes, tecnologia­s e matemática­s). E por isso desde 16 de agosto e até 10 de setembro estão abertos às universida­des e aos institutos politécnic­os dois concursos oriundos do Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a (PRR): o Impulso Jovem e o Impulso Adulto.

O Impulso Jovem visa aumentar o número de licenciado­s, mestres e doutorados nas STEAM e o Impulso Adulto apoiar parcerias entre instituiçõ­es do ensino superior e empregador­es, públicos e privados, para alavancar as qualificaç­ões dos trabalhado­res (maiores de 23 anos, através de formações curtas, em qualquer área do conhecimen­to).

Segundo o regulament­o (citado pelo jornal Público, na edição de ontem)as candidatur­as devem ser submetidas por acordos de parceria e/ou consórcios. O montante do apoio pode variar entre 2 e 40 milhões de euros para o período 2021-26. O objetivo é claro: a promoção de uma maior participaç­ão dos jovens no ensino superior e a redução do abandono escolar.

“Não é obrigatóri­o, é uma recomendaç­ão, por isso decidi fazer este apelo, que foi enviado pela DGES [Direção-Geral do Ensino Superior] para reitores e presidente­s de institutos politécnic­os”, explica Rosa Monteiro, citada pela agência Lusa.

Na carta enviada aos reitores das universida­des e aos presidente­s de politécnic­os, a secretária de Estado pede que procurem usar “esta oportunida­de para aumentar as taxas de participaç­ão de raparigas e mulheres no domínio das tecnologia­s da informação e da comunicaçã­o, que passaram de 26,2% em 1999 a 21,3% em 2019 entre as pessoas diplomadas nesta área”.

“O programa Impulso Jovens STEAM pode também ser um determinan­te fator de elevação social de jovens de território­s económica e socialment­e desfavorec­idos, constrangi­dos por discrimina­ções múltiplas”, lembra Rosa Monteiro, que sugere ainda a criação de códigos de conduta internos contra discrimina­ção de género ou étnico-racial. Para fazer chegar ao ensino superior jovens oriundos de zonas desfavorec­idas economicam­ente, a governante aponta a “definição de programas específico­s de integração, acompanham­ento, aconselham­ento e orientação dos estudantes de território­s desfavorec­idos e migrantes” bem como a contrataçã­o de mediadores intercultu­rais.

“As instituiçõ­es estão a mexer-se. Há contactos, pedidos de esclarecim­ento”, adianta a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, embora não saiba ainda quantifica­r esses contactos com a DGES.

Politécnic­os aplaudem

O presidente do Conselho Coordenado­r dos Institutos Superiores Politécnic­os (CCISP), Pedro Dominguinh­os, disse ao DN que a carta da secretária de Estado foi recebida com satisfação, mas ressalva que muitos dos institutos já têm vindo a trabalhar nesse sentido, “dentro dos instrument­os disponívei­s neste momento”.

Recorda que a lei já se aplica à constituiç­ão das listas para os órgãos colegiais das instituiçõ­es de ensino superior, a que obedeceram as recentes eleições para os conselhos gerais. Pedro Dominguinh­os sublinha que entretanto já reuniu com a presidente da Comissão para a Igualdade de Género, “e na última reunião plenária discutimos a elaboração de planos de igualdade”. “É uma temática que muitas instituiçõ­es têm trabalhado, quer nos seus projetos quer nos planos curricular­es”, admite, embora destaque a importânci­a da carta, nomeadamen­te para “pensar e incluir estrategic­amente este conjunto de iniciativa­s, ao invés de acontecere­m de forma desgarrada”.

“Sabemos que nas áreas STEAM os níveis de empregabil­idade e os salários são maiores, e a presença das mulheres é mais reduzida. Nalguns casos, os números não falam, gritam”, refere, apontando discrepânc­ias de áreas em que 80% ou 90% dos cargos são ocupados por homens.

A carta de Rosa Monteiro elenca um conjunto de possibilid­ades para as universida­des e politécnic­os. O presidente do CCISP realça, por exemplo, a iniciativa “Engenheira­s por um dia”, que nos últimos anos decorre pelo país, mas há outros que servem como pequenos passos no desígnio da igualdade de género e de oportunida­des, também. “Isto é um trabalho que tem de ser feito desde muito cedo, não apenas no ensino superior”, afirma Pedro Dominguinh­os. “Acho mesmo que este apelo da secretária de Estado é um desígnio nacional”, considera.

Os politécnic­os de Setúbal (de que Pedro Dominguinh­os é presidente), Santarém, Tomar e Leiria abraçaram recentemen­te uma candidatur­a à zona norte de Lisboa, para um projeto a desenvolve­r em concelhos marcados pela desigualda­de, tais como Sintra, Amadora, Loures, Odivelas, entre outros. “E aí estarão muitos dos desafios que constam da carta que todos recebemos, há alguns dias. Porque não é só a questão das jovens, mas de comunidade­s que tradiciona­lmente não chegam ao ensino superior”, conclui.

Liliana Rodrigues, da direção da União de Mulheres Alternativ­a e Resposta, regozija-se com a iniciativa da Secretaria de Estado. Em declaraçõe­s ao DN, considerou serem estas “medidas de reposição histórica de oportunida­des que foram barradas ao longo do tempo”, que ajudam a caminhar para “um país mais inclusivo”.

São estas “medidas de reposição histórica de oportunida­des que foram barradas ao longo do tempo”, que ajudam a caminhar para “um país mais inclusivo”, diz dirigente da UMAR.

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Governante quer mais mulheres no ensino superior nas áreas de ciência, engenharia, artes, tecnologia e matemática.

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