Secretária de Estado quer universidades e politécnicos a atrair mais mulheres e jovens de zonas desfavorecidas para as ciências
Numa carta enviada às instituições de ensino superior, Rosa Monteiro apela a que promovam a integração de mulheres e jovens oriundas de zonas desfavorecidas, ao abrigo de concursos abrangidos pelo Plano de Recuperação e Resiliência.
As universidades e institutos politécnicos portugueses estão a ser desafiados a colocar as mulheres e jovens oriundos de zonas desfavorecidas num patamar que garanta não só a igualdade de género como de oportunidades.
Numa carta enviada recentemente a todas as instituições de ensino superior, a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, apelou no sentido de promoverem a igualdade e a não discriminação, aproveitando o programa Impulso Jovens STEAM.
Rosa Monteiro quer incluir mais mulheres e jovens de zonas desfavorecidas nos formados em cursos STEAM (acrónimo de ciências, engenharia, artes, tecnologias e matemáticas). E por isso desde 16 de agosto e até 10 de setembro estão abertos às universidades e aos institutos politécnicos dois concursos oriundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR): o Impulso Jovem e o Impulso Adulto.
O Impulso Jovem visa aumentar o número de licenciados, mestres e doutorados nas STEAM e o Impulso Adulto apoiar parcerias entre instituições do ensino superior e empregadores, públicos e privados, para alavancar as qualificações dos trabalhadores (maiores de 23 anos, através de formações curtas, em qualquer área do conhecimento).
Segundo o regulamento (citado pelo jornal Público, na edição de ontem)as candidaturas devem ser submetidas por acordos de parceria e/ou consórcios. O montante do apoio pode variar entre 2 e 40 milhões de euros para o período 2021-26. O objetivo é claro: a promoção de uma maior participação dos jovens no ensino superior e a redução do abandono escolar.
“Não é obrigatório, é uma recomendação, por isso decidi fazer este apelo, que foi enviado pela DGES [Direção-Geral do Ensino Superior] para reitores e presidentes de institutos politécnicos”, explica Rosa Monteiro, citada pela agência Lusa.
Na carta enviada aos reitores das universidades e aos presidentes de politécnicos, a secretária de Estado pede que procurem usar “esta oportunidade para aumentar as taxas de participação de raparigas e mulheres no domínio das tecnologias da informação e da comunicação, que passaram de 26,2% em 1999 a 21,3% em 2019 entre as pessoas diplomadas nesta área”.
“O programa Impulso Jovens STEAM pode também ser um determinante fator de elevação social de jovens de territórios económica e socialmente desfavorecidos, constrangidos por discriminações múltiplas”, lembra Rosa Monteiro, que sugere ainda a criação de códigos de conduta internos contra discriminação de género ou étnico-racial. Para fazer chegar ao ensino superior jovens oriundos de zonas desfavorecidas economicamente, a governante aponta a “definição de programas específicos de integração, acompanhamento, aconselhamento e orientação dos estudantes de territórios desfavorecidos e migrantes” bem como a contratação de mediadores interculturais.
“As instituições estão a mexer-se. Há contactos, pedidos de esclarecimento”, adianta a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, embora não saiba ainda quantificar esses contactos com a DGES.
Politécnicos aplaudem
O presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Pedro Dominguinhos, disse ao DN que a carta da secretária de Estado foi recebida com satisfação, mas ressalva que muitos dos institutos já têm vindo a trabalhar nesse sentido, “dentro dos instrumentos disponíveis neste momento”.
Recorda que a lei já se aplica à constituição das listas para os órgãos colegiais das instituições de ensino superior, a que obedeceram as recentes eleições para os conselhos gerais. Pedro Dominguinhos sublinha que entretanto já reuniu com a presidente da Comissão para a Igualdade de Género, “e na última reunião plenária discutimos a elaboração de planos de igualdade”. “É uma temática que muitas instituições têm trabalhado, quer nos seus projetos quer nos planos curriculares”, admite, embora destaque a importância da carta, nomeadamente para “pensar e incluir estrategicamente este conjunto de iniciativas, ao invés de acontecerem de forma desgarrada”.
“Sabemos que nas áreas STEAM os níveis de empregabilidade e os salários são maiores, e a presença das mulheres é mais reduzida. Nalguns casos, os números não falam, gritam”, refere, apontando discrepâncias de áreas em que 80% ou 90% dos cargos são ocupados por homens.
A carta de Rosa Monteiro elenca um conjunto de possibilidades para as universidades e politécnicos. O presidente do CCISP realça, por exemplo, a iniciativa “Engenheiras por um dia”, que nos últimos anos decorre pelo país, mas há outros que servem como pequenos passos no desígnio da igualdade de género e de oportunidades, também. “Isto é um trabalho que tem de ser feito desde muito cedo, não apenas no ensino superior”, afirma Pedro Dominguinhos. “Acho mesmo que este apelo da secretária de Estado é um desígnio nacional”, considera.
Os politécnicos de Setúbal (de que Pedro Dominguinhos é presidente), Santarém, Tomar e Leiria abraçaram recentemente uma candidatura à zona norte de Lisboa, para um projeto a desenvolver em concelhos marcados pela desigualdade, tais como Sintra, Amadora, Loures, Odivelas, entre outros. “E aí estarão muitos dos desafios que constam da carta que todos recebemos, há alguns dias. Porque não é só a questão das jovens, mas de comunidades que tradicionalmente não chegam ao ensino superior”, conclui.
Liliana Rodrigues, da direção da União de Mulheres Alternativa e Resposta, regozija-se com a iniciativa da Secretaria de Estado. Em declarações ao DN, considerou serem estas “medidas de reposição histórica de oportunidades que foram barradas ao longo do tempo”, que ajudam a caminhar para “um país mais inclusivo”.
São estas “medidas de reposição histórica de oportunidades que foram barradas ao longo do tempo”, que ajudam a caminhar para “um país mais inclusivo”, diz dirigente da UMAR.