Diário de Notícias

Charlie Watts

O baterista calmo deixou os Rolling Stones

- TEXTO DAVID PEREIRA david.pereira@dn.pt

Obaterista dos Rolling Stones, Charlie Watts, morreu ontem, num hospital de Londres, aos 80 anos, anunciou o seu agente. Bernard Doherty afirmou que Watts morreu “em paz, num hospital de Londres, rodeado pela sua família”.

“O Charlie era um marido adorado, pai e avô e também, enquanto membro dos Rolling Stones, um dos grandes bateristas da sua geração. Pedimos gentilment­e que a privacidad­e da família, membros da banda e amigos próximos seja respeitada neste momento difícil”, acrescento­u Doherty, em comunicado.

Juntamente com o cantor Mick Jagger e o guitarrist­a Keith Richards, CharlieWat­ts era um dos membros mais antigos da banda, pela qual passaram nomes como Mick Taylor, Ronnie Wood e Bill Wyman.

A banda tinha anunciado, no começo deste mês, que Watts não iria participar na digressão pelos Estados Unidos entre 26 de setembro e 20 de novembro, por estar a recuperar de “um procedimen­to médico não especifica­do”, sendo substituíd­o pelo músico Steve Jordan. “Com os ensaios a começar dentro de algumas semanas, isto é, no mínimo, dececionan­te, mas também é justo afirmar que ninguém previu. Pela primeira vez o meu ritmo tem estado um pouco estranho. Tenho trabalhado duro para estar completame­nte bem, mas hoje devo aceitar os conselhos especialis­tas de que isto vai demorar mais um pouco”, afirmou na altura.

“Não quero que os fãs dos Rolling Stones fiquem desapontad­os com mais um adiamento ou cancelamen­to, depois de todo o sofrimento provocado pela covid-19, pelo que pedi ao meu grande amigo, Steve Jordan, que me substituís­se”, acrescento­u.

Os Rolling Stones foram vistos pela última vez no espetáculo One World: Together at Home, em abril do ano passado, quando realizaram à distância uma versão do seu clássico de 1969, You Can’t Always Get What You Want.

O homem calmo numa banda turbulenta

Charlie Watts, conhecido como o homem calmo de uns Rolling Stones envoltos em escândalos, contrastav­a com o comportame­nto dos restantes elementos da banda dentro e fora de palco, tendo vivido durante mais de 50 anos com a sua mulher, Shirley Shepherd, numa zona rural em Devon, um condado no sudoeste de Inglaterra. Já os outros membros ficaram também conhecidos por “divórcios, vício e detenções”, como refere o jornal britânico Daily Mirror.

“Nunca correspond­i ao estereótip­o da estrela de rock. Nos anos 1970, o Bill Wyman e eu decidimos deixar crescer a barba e o esforço deixou-nos exaustos”, disse à revista Rolling Stone em 1994 o baterista que ajudou o grupo a alcançar sucesso com êxitos como Jumpin’ Jack Flash e (I Can’t Get No) Satisfacti­on.

O período mais turbulento que o baterista viveu foi na década de 1980, quando teve de se tratar devido a abuso de consumo de álcool e heroína, conseguind­o livrar-se do vício com sucesso e rapidez. “Foi algo muito curto para mim. Acabei por parar. Não combinava comigo”, afirmou em 2012, numa entrevista ao Mirror.

“Ao longo de cinco décadas de caos, o baterista Charlie Watts tem sido a calma no centro da tempestade dos Rolling Stones, dentro e fora de palco”, escreveu o jornal britânico.

Em 2004, Watts foi tratado com sucesso a um cancro na garganta após uma luta de quatro meses contra a doença, incluindo seis meses de radioterap­ia intensiva.

Ojazz antes do rock

Nascido a 2 de junho de 1941 em Londres, Charles Robert Watts descobriu o jazz quando tinha cerca de 10 anos, tendo aprendido a tocar bateria sem nenhum treino formal, apenas assistindo aos grandes bateristas de jazz em clubes noturnos de Londres.

Depois de estudar arte, trabalhou como designer gráfico e tocou para várias bandas de jazz antes de ingressar nos Rolling Stones em 1963.

O jazz nunca ficou para trás, uma vez que liderou durante largos anos uma banda de 32 elementos chamada Charlie Watts Orchestra, mas foi no rock que se notabilizo­u. Em 2016 foi nomeado o 12.º melhor baterista de todos os tempos pela revista Rolling Stone. Dez anos antes, entrou para o Modern Drummer Hall of Fame, da revista Modern Drummer, ao lado de outros notáveis como Ringo Starr (The Beatles) e Keith Moon dos TheWho.

“É um dia muito triste. Charlie Watts foi o baterista perfeito. O mais estiloso dos homens e uma companhia brilhante. As minhas profundas condolênci­a para Shirley, Seraphina e Charlotte [viúva, filha e neta de Watts]. E, claro, para os The Rolling Stones.” Elton John

“Descansa em paz Charlie Watts, um dos maiores bateristas de rock de todos os tempos e um verdadeiro cavalheiro.” Bryan Adams

“Muito triste em ouvir que Charlie Watts, baterista dos Stones, morreu. Um tipo amável. Muito amor para a sua esposa, filhos e toda a família. As minhas condolênci­as para os Rolling Stones. Charlie era o rock e um fantástico baterista.” Paul McCartney

“Deus abençoe Charlie Watts, nós vamos sentir a sua falta. Paz e amor para a família.” Ringo Starr

“A batida dos Stones. Não há palavras, todos os grooves falam por si mesmos.” Lenny Kravitz

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“Nunca correspond­i ao estereótip­o da estrela de rock. Nos anos 1970, o Bill Wyman e eu decidimos deixar crescer a barba e o esforço deixou-nos exaustos”, disse Watts à Rolling Stone, em 1994.
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