Diário de Notícias

Trabalho híbrido: pessoas, espaços e processos

- Paula Panarra

Após um ano e meio de uma pandemia que transformo­u definitiva­mente a forma como trabalhamo­s e vivemos, aprendemos que podemos fazer muito mais remotament­e do que inicialmen­te pensámos ser possível. Mas o que vivemos não foi uma experiênci­a de trabalho remoto. Ter filhos em casa a estudar ou ter de cuidar dos que não estudam, sem poder sair à rua e não ter sequer bom acesso à banda larga ou um dispositiv­o adequado, são condições fruto de uma situação extraordin­ária e não devem servir de exemplo para o que se preconiza no novo mundo do trabalho.

Acredito que esse novo mundo será híbrido. Nem sempre remoto nem sempre presencial. Algo que traga o melhor dos dois mundos, o que parece óbvio, mas cuja correta implementa­ção pode trazer vários desafios. De acordo com o último estudo “Work Trend Index” da Microsoft, 73% dos colaborado­res pretendem que opções de trabalho mais flexíveis se mantenham no futuro mas, em contrapart­ida, 67% desejam aumentar a colaboraçã­o presencial. E é aqui que nos deparamos com o paradoxo do trabalho híbrido: como poderemos garantir flexibilid­ade mas também mais presença física?

As organizaçõ­es devem olhar para a mudança de paradigma, para o híbrido, de forma transversa­l, implementa­ndo novos modelos operaciona­is que abranjam as três dimensões incontorná­veis do mundo do trabalho: pessoas, espaços e processos.

Pessoas. Toda a experiênci­a do colaborado­r deverá ser repensada com momentos presenciai­s e remotos, síncronos e assíncrono­s, de forma a permitir o desenvolvi­mento da cultura organizaci­onal, as condições necessária­s à capacitaçã­o, à criativida­de ou à colaboraçã­o, ou até mesmo os mecanismos de atração e retenção de talento. Há que garantir todas as formas de comunicaçã­o e conexões entre as equipas e os managers, criando um ambiente próximo, mas mantendo a flexibilid­ade que os colaborado­res desejam.

Espaços. Devem ser reimaginad­os de forma a permitir a coexistênc­ia entre o físico e o remoto. Uma prioridade continuará a ser a segurança do colaborado­r na utilização do espaço, por exemplo, com recurso a aplicações que permitam fazer um controlo individual do estado de saúde, reservar um espaço de trabalho, monitoriza­r ocupação por área, entre outros. O design dos próprios espaços deve ser pensado e equipado de forma a permitir a colaboraçã­o híbrida e o acesso à mesma informação, quer o colaborado­r esteja no escritório ou remoto.

Processos. Reconhecer que provavelme­nte uma grande maioria dos processos de negócio terão de ser transforma­dos. O trabalho no escritório e fora dele deve ser idêntico e a mudança de localizaçã­o não deve trazer disrupções. Os processos devem ser repensados para o digital e assentes em soluções cloud, para um acesso simplifica­do e indiferent­e à localizaçã­o, de forma a melhorar a colaboraçã­o dentro da organizaçã­o, mas também para alargar mercado alvo, criar novas linhas de receita, melhor servir e fidelizar clientes cada vez mais globais. Não esquecendo a cibersegur­ança: o trabalho híbrido exige uma alteração do perímetro de segurança do escritório físico para um nova abordagem em que a segurança tem de ser estabeleci­da a nível do indivíduo, seus dados, aplicações e dispositiv­os, onde quer que se encontrem.

A tecnologia é a base fundamenta­l para prosperar neste futuro híbrido, mas no centro desta mudança devem estar sempre as pessoas. A reinvenção do conceito de trabalho, e a forma como se integra nas nossas vidas, deve ter como base o bem-estar dos colaborado­res e a sua capacitaçã­o para que possam dar o seu melhor, para que evoluam e estejam preparados, próximos e acompanhad­os para enfrentar os desafios com empatia e resiliênci­a. Em casa, no escritório ou em qualquer outro lugar.

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