A celebração do efémero
Tóquio chegou ao fim. Agora é tempo de preparar os próximos Jogos, que são já daqui por três anos.
Tóquio chegou ao fim da mesma forma que Los Angeles, Londres, Atenas e Rio também chegaram ao fim.
Da mesma forma que os Olímpicos chegam ao fim a cada quatro anos, os campeonatos do mundo e da Europa de futebol também chegam ao fim a cada dois anos de forma intercalada.
E chegados ao fim destes Jogos, temos de nos perguntar se para o próximo evento desportivo megalómano vale mesmo a pena investir em infraestrutura, quando o mundo está a arder diante dos nossos olhos. Temos de nos perguntar se a política do efémero não deveria acompanhar a política de construção. Temos de questionar se vale assim tanto a pena voltarmos a usar enormes quantidades de recursos para construir espaços para uso único e finalidade de curto prazo. É caso para dizer que construímos estádios permanentes para eventos efémeros. E reparem que só estou ao nível dos Jogos Olímpicos, nem tão-pouco vou esticar o texto para abordar aquele Europeu que perdemos no “novo” estádio da Luz, primo afastado de tantos outros abandonados no país…
Não me interpretem mal! Acho genial esta ideia dos Jogos Olímpicos e dos eventos desportivos mundiais! É brilhante e unificadora. Mas precisamos fazê-lo de forma diferente. Porque não usar os locais que já temos? Porque não acomodar atletas e transeuntes a edifícios que já estão de pé?
Estes eventos promovem a construção de elefantes brancos nas cidades. Elefantes que ficam durante um mês, e eternizam-se, mas já ninguém os quer ver.
O que vemos é o custo ambiental, com o passar dos anos, a refletir-se no nosso quotidiano e a carga fiscal, essa então rapidamente toma conta dos nossos bolsos.
Será assim tão crucial para a arquitetura e para o design deixar uma pegada artística e cultural no país que recebe os Jogos? Eu diria que sim.
E é ou não crucial manter as estruturas? Eu diria claramente que não!
Então, se os Jogos são efémeros, caros arquitetos, designers e criadores, desenhem, criem e edifiquem ambientes que possam ser reutilizados, repensados ou até mesmo e porque não, pasmem-se!, matá-los e desmantelá-los para que tenham uma segunda alma?
É caso para dizer que para esta ideia de celebração do efémero pode muito bem haver vida depois da morte.