Diário de Notícias

A celebração do efémero

- Carlos Rosa

Tóquio chegou ao fim. Agora é tempo de preparar os próximos Jogos, que são já daqui por três anos.

Tóquio chegou ao fim da mesma forma que Los Angeles, Londres, Atenas e Rio também chegaram ao fim.

Da mesma forma que os Olímpicos chegam ao fim a cada quatro anos, os campeonato­s do mundo e da Europa de futebol também chegam ao fim a cada dois anos de forma intercalad­a.

E chegados ao fim destes Jogos, temos de nos perguntar se para o próximo evento desportivo megalómano vale mesmo a pena investir em infraestru­tura, quando o mundo está a arder diante dos nossos olhos. Temos de nos perguntar se a política do efémero não deveria acompanhar a política de construção. Temos de questionar se vale assim tanto a pena voltarmos a usar enormes quantidade­s de recursos para construir espaços para uso único e finalidade de curto prazo. É caso para dizer que construímo­s estádios permanente­s para eventos efémeros. E reparem que só estou ao nível dos Jogos Olímpicos, nem tão-pouco vou esticar o texto para abordar aquele Europeu que perdemos no “novo” estádio da Luz, primo afastado de tantos outros abandonado­s no país…

Não me interprete­m mal! Acho genial esta ideia dos Jogos Olímpicos e dos eventos desportivo­s mundiais! É brilhante e unificador­a. Mas precisamos fazê-lo de forma diferente. Porque não usar os locais que já temos? Porque não acomodar atletas e transeunte­s a edifícios que já estão de pé?

Estes eventos promovem a construção de elefantes brancos nas cidades. Elefantes que ficam durante um mês, e eternizam-se, mas já ninguém os quer ver.

O que vemos é o custo ambiental, com o passar dos anos, a refletir-se no nosso quotidiano e a carga fiscal, essa então rapidament­e toma conta dos nossos bolsos.

Será assim tão crucial para a arquitetur­a e para o design deixar uma pegada artística e cultural no país que recebe os Jogos? Eu diria que sim.

E é ou não crucial manter as estruturas? Eu diria claramente que não!

Então, se os Jogos são efémeros, caros arquitetos, designers e criadores, desenhem, criem e edifiquem ambientes que possam ser reutilizad­os, repensados ou até mesmo e porque não, pasmem-se!, matá-los e desmantelá-los para que tenham uma segunda alma?

É caso para dizer que para esta ideia de celebração do efémero pode muito bem haver vida depois da morte.

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