Diário de Notícias

Ryanair encontra novo alvo para cair em cima da TAP: slots em Lisboa

Companhia irlandesa low cost mantém ataque à transporta­dora nacional e acusa-a de não gostar de competição e de apenas querer manter o domínio do negócio em Portugal. Apesar das críticas, a Ryanair mantém a intenção de continuar a investir no aeroporto de

- TEXTO BRUNA FERREIRA E BRUNO CONTREIRAS MATEUS Com TERESA COSTA redacao@dinheirovi­vo.pt

Depois de já ter apresentad­o duas queixas no Tribunal Europeu de Justiça contra as ajudas que o governo deu à TAP, na tentativa de a salvar dos efeitos da pandemia, a Ryanair virou ontem as críticas para os slots (faixas horárias num aeroporto para uma companhia aérea aterrar e descolar aviões) no aeroporto de Lisboa, acusando a companhia portuguesa de os bloquear.

O CEO da Ryanair, Michael O’Leary, apelou ao governo português para uma melhor coordenaçã­o de slots em Lisboa e assim impedir a acumulação de faixas horárias de descolagem e aterragem da TAP, que não tem capacidade de as utilizar, “uma vez que [a transporta­dora] já confirmou a redução da sua frota em 20%”, disse.

“O governo português não percebe que a TAP está a fazer isto deliberada­mente?” – questionou em conferênci­a de Imprensa. “A TAP não gosta de competição, quer manter o domínio”.

Questionad­o pelo DN/Dinheiro Vivo, o Ministério das Infraestru­turas não comenta a situação.

“Elucidar” o governo

“A TAP não deve ser autorizada a simular que pode utilizar faixas horárias semanais durante toda a temporada, mas depois devolvê-las ao regulador de forma semanal apenas para evitar que os concorrent­es as utilizem”, explicou o gestor, acrescenta­ndo que se a TAP libertasse 200 slots semanalmen­te (cerca de 30 por dia), a Ryanair poderia ter mais quatro a cinco aviões, o que levaria a que fossem criados mais 300 a 400 empregos em Lisboa.

No Porto e em Faro a questão não se coloca já que não há limitação de slots.

Dirigindo-se ao ministro das Infraestru­turas, Pedro Nuno Santos, com quem tem mantido uma troca acesa de acusações, O’Leary critica-o por desvaloriz­ar a opinião da Ryanair, mas admite que “o governo não conheça por inteiro o sistema que se passa dentro do aeroporto”. E justifica que desta forma está a tentar “elucidá-lo”, com estes dados. Ainda assim, o CEO da companhia irlandesa diz que “não se importa” sobre o que faz o governo já que a Ryanair vai investir na mesma – 300 milhões de dólares no aeroporto de Lisboa.

Explica também que os 300 novos empregos para pilotos, tripulante­s de cabine e especialis­tas em informação e tecnologia – em Lisboa, Porto, Faro e Ponta Delgada – se destinam a reintegrar quem tinha saído e a fazer novas contrataçõ­es. “Empregos bem pagos”, frisou aos jornalista­s.

“Zero” apoios no Porto

Em relação ao Porto, O’Leary diz que receberam “zero” apoios para lá estar. Contudo, admite que a Ryanair recebe valores “muito pequenos” de agências de turismo mas não sabe precisar. “É uma promoção de turismo, não um apoio”, esclareceu vagamente, ao referir que, numa campanha de promoção dos destinos de três ou quatro milhões de euros, recebe apoio das entidades de cada região, mas que, em troca, a empresa investe na promoção dos destinos muito mais do que recebe e tem bilhetes com descontos.

Neste momento, o governo português enfrenta dois processos no Tribunal Europeu de Justiça interposto­s pela Ryanair, por causa das ajudas que concedeu à TAP, de forma a evitar o colapso da empresa, após os efeitos da paragem forçada da aviação no âmbito das medidas mundiais para conter a pandemia.

Em julho do ano passado, a Ryanair apresentou queixa contra a atribuição pelo governo português à TAP de 1200 milhões de euros, autorizado­s pela Comissão Europeia, uma aprovação que o Tribunal Europeu de Justiça veio anular, alegando que estava “insuficien­temente fundamenta­da”, embora não obrigasse à devolução do dinheiro. Enquanto se aguarda por uma nova decisão, a Ryanair apresentou uma segunda queixa – soube-se na última semana – pela atribuição de 462 milhões de euros aplicados pelo governo na TAP, uma verba igualmente autorizada pela Comissão Europeia.

Nos dois processos, a companhia irlandesa considera que o apoio português viola o tratado europeu e as regras concorrenc­iais, tendo o seu CEO afirmado em junho último que a ajuda à TAP é dinheiro deitado fora.

 ??  ?? A Ryanair, liderada por Michael O’Leary, iniciou operações em Portugal em 2002, com o voo Dublin-Faro.
A Ryanair, liderada por Michael O’Leary, iniciou operações em Portugal em 2002, com o voo Dublin-Faro.

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