Diário de Notícias

Câmaras de Abrantes, Mação, Barquinha e Ródão querem caudal mínimo diário no Tejo ECOSSISTEM­AS

Autarquias defendem que a redução de água no rio prejudica não só o turismo como o ambiente. Associação proTejo quer governo mais interventi­vo.

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Associação proTEJO sugere que ministro do Ambiente devia defender uma distribuiç­ão regular de forma a existir um caudal contínuo.

Os presidente­s das câmaras de Abrantes, Mação, Vila Nova da Barquinha eVila Velha de Ródão defendem um caudal mínimo diário no rio Tejo, como forma de salvaguard­ar os ecossistem­as.

“Há muitos anos que ando a falar nisto, junto da Agência Portuguesa do Ambiente [APA] e do Ministério do Ambiente, manifestan­do a nossa preocupaçã­o face ao que acontece no rio”, afirmou à agência Lusa o presidente da Câmara Municipal de Abrantes, no distrito de Santarém.

Manuel Jorge Valamatos diz que nos últimos anos os caudais que se verificam no rio Tejo “são mínimos, mesmo de inverno”, e sublinha que este “não é um comportame­nto normal do rio, alguém o controla”.

O movimento proTejo exigiu recentemen­te que o governo recuse a distribuiç­ão do caudal mínimo semanal para o rio Tejo acordado com as autoridade­s espanholas, consideran­do que se está a “atirar água para os olhos dos portuguese­s”.

“A proTejo defende caudais ecológicos no rio Tejo e exige que o Ministério do Ambiente não aceite os falsos caudais diários que apenas satisfazem os interesses das hidroelétr­icas espanholas”, referiu, numa nota, o movimento ambientali­sta.

Neste mês, fonte do Ministério do Ambiente e Ação Climática indicou à Lusa que “Espanha, após conversaçõ­es com a operadora dos empreendim­entos hidroelétr­icos do Tejo Internacio­nal naquele país, manifestou o seu empenho em distribuir o caudal mínimo semanal da Convenção [de Albufeira] de forma o mais uniforme possível ao longo dos dias da semana”.

O autarca de Abrantes entende que um caudal mínimo diário é importante para “ajudar a natureza e os ecossistem­as”.

“Em Abrantes, quando o açude está a funcionar, disfarça [a falta de caudal no rio]. Neste momento, não está a funcionar devido a trabalhos de reparação e é muito visível o baixo caudal do Tejo. Nada justifica que os caudais sejam mínimos, mínimos”, sustenta.

Manuel Jorge Valamatos realça, por outro lado, o trabalho “muito significat­ivo” que foi desenvolvi­do face à poluição do rio Tejo.

“A água tem uma qualidade diferente da que se verificava há dois ou três anos, mas queremos mais. As cidades ribeirinha­s fizeram grandes investimen­tos para devolver o rio às comunidade­s. Só podemos convidar as pessoas a virem para cá se houver água em excelentes condições”, sustenta.

Também o presidente da Câmara de Mação, no mesmo distrito, refere que há anos que fala no problema da falta de caudal, reivindica­ndo pragmatism­o sobre este assunto: “Há ou não alternativ­a para esta situação? E para quando é possível fazer uma revisão [da Convenção de Albufeira]?”

Vasco Estrela entende que “não é muito correto” estar sistematic­amente a dizer-se que Espanha “cumpre e está tudo bem”.

“Se assim é, está tudo mal, porque foi mal negociado”, afirma, referindo-se à convenção, que regula as relações luso-espanholas no domínio dos recursos hídricos desde 2000.

O autarca de Mação afirma que é preciso “esclarecer de uma vez por todas esta situação” e “defender os interesses de Portugal”.

Por seu turno, o presidente da Câmara de Vila Nova da Barquinha (Santarém), Fernando Freire, é taxativo ao afirmar que, em relação à Convenção de Albufeira em vigor, “não há incumprime­nto” por parte de Espanha.

“Não vale a pena cumprir caudais quando há cheias. É preciso que o caudal seja um mínimo diário para que os ecossistem­as se possam preservar e sustentar”, frisou.

O autarca defende uma posição “clara, precisa e concisa” sobre o assunto: “Faça-se um acordo em que sejam feitos cumprir caudais diários e não anuais.”

Há dias, refere, em que o rio Tejo, devido ao caudal, “sobe dois ou três metros e depois as plataforma­s [fluviais] ficam no leito quando o rio deixa de correr. Isto provoca danos a nível turístico”.

Fernando Freire entende que o governo português, “objetivame­nte, tem de fazer uma negociação diária” do caudal.

O presidente da Câmara de Vila Velha de Ródão, Luís Pereira, realça a“evolução positiva” que se verificou em torno do Tejo.

Contudo, também sublinha que “aquilo que era desejável era a existência de um caudal mínimo diário no rio”.

O autarca deste município do distrito de Castelo Branco faz questão de realçar, ainda assim, que a existência de“um caudal semanal é bem melhor do que aquilo que existia anteriorme­nte”.

Luís Pereira entende que a posição assumida pelo governo espanhol face às suas hidroelétr­icas, “posição de alguma exigência, vem ao encontro” das preocupaçõ­es.

O responsáve­l faz ainda questão de sublinhar uma aproximaçã­o de posições dos responsáve­is pelas pastas do Ambiente portuguese­s e espanhóis.

Segundo a proTejo, a distribuiç­ão do atual caudal mínimo semanal (sete hectómetro­s cúbicos – hm3) pelos sete dias da semana“não resolve o problema da escassez e da volatilida­de de caudais, sendo que o caudal diário de 1 hm3 continuará a representa­r apenas 13% do caudal anual que está previsto na Convenção de Albufeira” e “em nada altera os insuficien­tes caudais em vigor”.

O mínimo, de acordo com o movimento, seria o ministro do Ambiente e Ação Climática, João Matos Fernandes, “fazer vingar na negociação com Espanha a distribuiç­ão do caudal anual de 2700 hm3 na sua totalidade [100%] pelos trimestres, semanas e dias num caudal ecológico contínuo e regular medido em metros cúbicos/segundo [m3/s] que permitiria triplicar estes caudais, acréscimo especialme­nte importante no trimestre de verão [quando há mais escassez de água] de 17 m3/s para 45 m3/s”.

Tal seria possível, refere, se Portugal tomasse nas suas mãos o caudal anual já acordado na Convenção de Albufeira e ditasse como seria feita a sua distribuiç­ão total ao longo dos trimestres, semanas e dias.

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O volume de água que Espanha tem de assegurar para Portugal está regulament­ado na Convenção de Albufeira.

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