A memória da Guerra Colonial do lado de cá e de lá, por Faria Artur
Quase a terminar, surge no romance
a seguinte frase: “A Guerra Colonial, ultrapassadas tantas décadas, ainda marca presença no quotidiano dos que a viveram.” Ou seja, nunca é de mais reavivar a memória de um tempo que entrou à força na vida de centenas de milhares de jovens portugueses entre 1961 e 1974 e Faria Artur teima nesse recordar através de um seu novo romance, que se segue a dois livros anteriores,
e
Por entre os Trilhos da Memória
Perdidos num Verão Quente Amor, Ioga e Net Crónica do Senhor Alferes,
ou a
formando, para já, uma trilogia em que a própria vivência do autor alimenta uma narrativa em que grande parte dos factos e das experiências de um outro tempo em África estão bem presentes.
Tal como nas outras duas obras, há um balancear entre os acontecimentos no campo de batalha e o que preenche a mente dos militares destacados para longe do continente, bem como a vida anterior e posterior à mobilização. Neste volume, prevalece um contar intervalado entre os momentos vividos antes da ordem de partida e os de arma ao ombro, que refazem essa época a vários níveis, trazendo para a atualidade tanto a caracterização da alma de um antigo país como os medos do esforço de guerra em que estiveram envolvidos. O que torna esta história bastante diferente do que já foi relatado por outros escritores – nunca serão de mais – é esse diálogo entre a “pátria” de cá e as terras de lá, que revela um mundo deturpado – e esquecido – em poucas décadas, que surpreenderá o leitor tanto pela riqueza de detalhes como pela potência da escrita. A ler.