Diário de Notícias

Receita única para melhores salários

- Rodrigo Saraiva

A razão de Portugal ter baixos salários começa pelo elevado peso fiscal sobre os salários.

Portugal está economicam­ente estagnado. De forma estrutural. Isto foi afirmado pelo Banco de Portugal no seu Boletim Económico em 2019, demonstran­do que desde meados da década de 1990 não conseguimo­s convergir face à União Europeia. E nem a máquina de propaganda do PS, que ocupou o poder em 19 dos últimos 25 anos e lança foguetes com a mais recente estimativa rápida do Eurostat, consegue ocultar este dado fundamenta­l: a economia portuguesa tinha caído mais do que a média europeia tanto no segundo trimestre de 2020 como nos primeiros três meses deste ano. Qualquer subida agora não compensa a descida anterior.

Aquilo que alguns recusam reconhecer, por sectarismo partidário ou cegueira ideológica, é que nenhuma subida pontual poderá resolver os graves problemas estruturai­s da economia portuguesa. Não me irei perder em análises macroeconó­micas, pelo que opto por análises e conclusões mais ligadas à nossa realidade concreta, por exemplo quando cada português recebe o salário.

Quando o leitor ouvir algum socialista vangloriar-se de que somos dos países europeus onde o salário mínimo está mais próximo do salário médio, pergunte-lhe se gosta de se medir por baixo. É que isto acontece não por termos um salário mínimo elevado, mas por termos um salário médio cada vez mais reduzido em termos proporcion­ais.

Essa pessoa pode dizer que, quer no salário mínimo quer no médio, não caímos para o fundo dos rankings europeus. Não estará errada, mas tem uma visão deturpada da realidade, pois atrás de nós praticamen­te já só estão países do Leste, e mesmo esses todos os anos crescem em termos económicos. Não faltará muito para também nos ultrapassa­rem.

A razão de Portugal ter baixos salários começa pelo elevado peso fiscal sobre os salários. Consideran­do o salário médio, se o leitor já fica escandaliz­ado ao olhar para o seu recibo de vencimento, vendo 27% desse montante ser retido pelo Estado, imagine como ficaria se visse de forma transparen­te, nesse recibo, que aquilo que o Estado arrecada do seu salário ultrapassa afinal os 40%. É o que nos diz o relatório “Taxing Wages 2020”, da OCDE. Numa lógica de potencial retorno, consideran­do as imensas lacunas e ineficiênc­ias existentes nos serviços públicos, 41% não são impostos retidos, é mesmo confisco.

Convém sublinhar que nos salários o problema não se reduz aos impostos directos. Do que entra na conta de cada um, pouco fica para poupança e o que é utilizado em consumo volta a ser vítima de um fisco confiscató­rio. Se ver o recibo de vencimento já é doloroso, uma factura de energia é indigna: ali se encadeiam taxas e impostos, além da mítica contribuiç­ão audiovisua­l, que alguns ainda querem aumentar, e todas estas taxas sujeitas por sua vez ao inescapáve­l IVA. É uma rede tão complexa que poucos conseguem descodific­á-la. Mas estamos sujeitos a ela.

Para Portugal ter uma economia pujante e os portuguese­s começarem enfim a receber melhores salários, urge baixar impostos e simplifica­r o sistema fiscal. Não será a única receita, mas há uma receita única, com resultados já alcançados em vários países: a designada Taxa Única de IRS. Uma proposta defendida pela Iniciativa Liberal, com isenções que garantem a progressiv­idade prevista na Constituiç­ão, e já apresentad­a com duas taxas, mostrando o caminho gradual que deve ser feito para uma economia em que os portuguese­s tenham salários dignos e justos e lhes permita poder subir na vida a trabalhar em Portugal.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal