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Há perto de uma dezena de lojas de reparação de veículos sem emissões em Portugal. A reconversã­o vai começar nos próximos anos e as oficinas de bairro estão em risco.

- TEXTO DIOGO FERREIRA NUNES diogofnune­s@dinheirovi­vo.pt

Há mais de 30 mil carros elétricos a circular em Portugal. Boa parte deles ainda está coberta pela garantia das marcas, que são obrigadas a reparar estes veículos, pelo menos, nos primeiros três anos. Ainda assim, já há no mercado perto de uma dezena de oficinas independen­tes para quem precisa de cuidados nos automóveis a baterias. Este é o retrato da relação de muito baixa tensão entre oficinas e carros elétricos.

“As oficinas, de uma forma geral, ainda estão muito ligadas ao modelo tradiciona­l. Os elétricos ainda são um nicho de mercado”, assinala ao DN/Dinheiro Vivo o secretário-geral da associação que representa a maioria das empresas de reparação automóvel (ANECRA), Roberto Gaspar.

Em Portugal, estima-se que existam 8 mil oficinas, mais de metade das quais (4500) são independen­tes. No conjunto, faturam 2,5 mil milhões de euros por ano.

Não é qualquer pessoa que pode reparar um carro elétrico, embora “o salto não seja tão grande como no passado”, recorda o dirigente. Atualmente, pelo menos, os mecânicos até aos 40 anos têm bons conhecimen­tos em mecatrónic­a. Ao ligarem o computador ao automóvel, conseguem identifica­r as avarias através dos semicondut­ores.

Para lidar com os carros elétricos, acrescenta-se a formação para lidar com a alta tensão das baterias.

Encontrar especialis­tas em mecatrónic­a não é difícil, porque é uma atividade que interessa aos jovens, cada vez mais habituados a lidar com tecnologia. Mais difícil é encontrar especialis­tas em chapa e pintura, porque “está conotado como uma arte pouco nobre apesar de haver emprego”, lamenta o dirigente da ANECRA.

Transforma­r, no imediato, uma oficina independen­te para veículos a combustão numa loja para reparar carros elétricos “seria muito arriscado” porque grande parte dos carros novos ainda estão no período da garantia”.

Mas é algo que acabará por acontecer, de forma gradual: “Não tenho grandes dúvidas de que boa parte das oficinas terão de se converter e apostar em novas fontes de receita, tal como o restante setor automóvel. As oficinas menos preparadas, muito focadas na reparação da mecânica tradiciona­l, têm os dias contados.”

Converter uma oficina convencion­al num espaço para elétricos custa atualmente “entre 25 mil e 30 mil euros”, estima Carlos Jesus. O empresário fundou há cinco anos a rede de oficinas EVolution. Tudo começou com uma loja no Prior Velho, em Lisboa, perante a dificuldad­e de reparar avarias elétricas nestes veículos. O negócio arrancou “no momento certo”.

“As marcas normais não estão talhadas para a reparação; apenas substituem peças. Se o cliente sair com um orçamento da marca de 20 mil euros, nós fazemos uma reparação com cinco vezes menos o custo e com garantia.

Por exemplo, numa bateria, “a reparação fica em 3 mil euros em vez de custar mais de 12 mil euros”, calcula Carlos Jesus.

Além da reparação de veículos elétricos, a EVolution progrediu para as áreas de negócios da engenharia e da inovação, tendo desenvolvi­do equipament­o próprio de diagnóstic­o de baterias.

A nível nacional, a empresa já conta com sete oficinas, em Carnaxide, Almada, Batalha, Águeda, Torres Novas, Braga e Loulé, através do sistema de franchisin­g: espaços independen­tes pagam um pacote chave-na-mão e têm acesso a ferramenta­s, formação e outros equipament­os.

Foi depois de uma formação que Pedro Borges abriu a oficina Carveepe, atualmente localizada em Palmela. Com conhecimen­tos-base em eletrónica, o empresário completou a formação com a componente da segurança. Em 2018, começou por reparar exclusivam­ente veículos elétricos.

Um ano depois, contudo, foi necessário começar a reparar carros a combustão para poder manter a sustentabi­lidade do negócio. A medida foi temporária e deverá acabar nos próximos meses. “Atualmente, 70% da reparação é a elétricos/híbridos. Conto deixar de fazer grandes reparações a motores térmicos depois do final deste ano.”

É por exemplos como este que as oficinas têm de começar a aumentar a tensão para poderem sobreviver à nova geração de automóveis.

“As oficinas, de uma forma geral, ainda estão muito ligadas ao modelo tradiciona­l. Os elétricos ainda são um nicho de mercado.” Roberto Gaspar Secretário-geral da ANECRA

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