Diário de Notícias

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- Henrique Burnay Consultor em assuntos europeus

Falar sobre Europa não é falar sobre a Comissão Europeia, os deputados europeus e os governos. Ou os fundos. Tudo isso é relevante, mas a Europa é muito mais do que isso.

De cada vez que falamos sobre políticas em Portugal, falamos sobre Europa. Energia, migrações, as consequênc­ias do que se está a passar no Afeganistã­o, a privacidad­e dos utilizador­es ou o poder das plataforma­s eletrónica­s, combater e mitigar alterações climáticas, poder ou não ter mais ou menos défice ou regras para combater a lavagem de dinheiro, tudo isso é, desde há muito e crescentem­ente, matéria que se decide à escala europeia. E que depois se regula, às vezes em detalhe, na transposiç­ão à escala nacional. De cada vez que se fala disso, fala-se de Europa. O problema é que não se sabe.

Pela quarta vez, a Representa­ção da Comissão Europeia organizou, desta vez em Alcoutim, o Summer CEmp, uma espécie de universida­de de verão sobre assuntos europeus para cerca de 30 jovens já licenciado­s (nalguns casos duplamente, em Direito e Gestão, em Engenharia e Direito ou em coisas tão distantes do universo tradiciona­l destes eventos como Medicina ou Biologia). O mérito do encontro, mesmo que com uma plateia restrita, é enorme porque se passa quatro dias a discutir políticas. E todas elas são europeias. Mas, pela quarta vez, e como acontece sempre nestas ocasiões, a certa altura vem a discussão sobre o que se sabe ou não sobre a Europa em Portugal. E, invariavel­mente, a conclusão é que se sabe pouco.

Os políticos europeus, as instituiçõ­es europeias, gostavam de que os cidadãos, os eleitores, soubessem melhor o que eles fazem e, claro, os valorizass­em mais. O roaming gratuito, as autoestrad­as, as rotundas e os parques industriai­s, mas também a investigaç­ão e a inovação altamente complexas, a compra conjunta de vacinas ou a Lei do Clima. Tudo isso merecia mais atenção e maior reconhecim­ento, acreditam políticos e instituiçõ­es da União Europeia. A verdade, porém, é que esta angústia europeia é igualzinha à dos políticos e das instituiçõ­es nacionais. Não há um ministro, deste ou de outro governo, não há uma instituiçã­o, seja a Assembleia da República, a Presidênci­a ou a câmara municipal, que não acredite, convicta e por vezes justamente, que o país não sabe e a comunicaçã­o social não conta com (o que acham dever ser) merecido detalhe as suas benfeitori­as. Compreende-se, mas não tem de se concordar inteiramen­te.

A maior parte de nós não desconfia quem são nem quantos são os membros da sua assembleia de freguesia (o poder mais local e próximo que há). E, no entanto, todos temos uma opinião sobre o que a junta faz e o que devia fazer, por vezes errando tanto quanto às competênci­as como erra quem confunde o Parlamento Europeu com a Comissão Europeia ou o Conselho, mas acertando quanto ao que são as nossas preocupaçõ­es. É aqui que está a resposta à tal angústia. Acha-se que falar sobre Europa é falar sobre fundos, sobre o dinheiro que a Europa generosame­nte nos dá e pelo qual devemos estar gratos, ou então devia ser conhecer em detalhe a política europeia e os políticos europeus.

Para acabar com a mania de que se fala pouco de Europa em Portugal, é começar por reconhecer que quando se fala de políticas se fala de Europa.

E que os fundos são importante­s, mas o resto é mais.

A essência deste problema, porém, é que a Europa teme ser tão vulnerável como um governo. Se o povo achar que não serve, deixa de querer. Mas essa é outra discussão.

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