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Falar sobre Europa não é falar sobre a Comissão Europeia, os deputados europeus e os governos. Ou os fundos. Tudo isso é relevante, mas a Europa é muito mais do que isso.
De cada vez que falamos sobre políticas em Portugal, falamos sobre Europa. Energia, migrações, as consequências do que se está a passar no Afeganistão, a privacidade dos utilizadores ou o poder das plataformas eletrónicas, combater e mitigar alterações climáticas, poder ou não ter mais ou menos défice ou regras para combater a lavagem de dinheiro, tudo isso é, desde há muito e crescentemente, matéria que se decide à escala europeia. E que depois se regula, às vezes em detalhe, na transposição à escala nacional. De cada vez que se fala disso, fala-se de Europa. O problema é que não se sabe.
Pela quarta vez, a Representação da Comissão Europeia organizou, desta vez em Alcoutim, o Summer CEmp, uma espécie de universidade de verão sobre assuntos europeus para cerca de 30 jovens já licenciados (nalguns casos duplamente, em Direito e Gestão, em Engenharia e Direito ou em coisas tão distantes do universo tradicional destes eventos como Medicina ou Biologia). O mérito do encontro, mesmo que com uma plateia restrita, é enorme porque se passa quatro dias a discutir políticas. E todas elas são europeias. Mas, pela quarta vez, e como acontece sempre nestas ocasiões, a certa altura vem a discussão sobre o que se sabe ou não sobre a Europa em Portugal. E, invariavelmente, a conclusão é que se sabe pouco.
Os políticos europeus, as instituições europeias, gostavam de que os cidadãos, os eleitores, soubessem melhor o que eles fazem e, claro, os valorizassem mais. O roaming gratuito, as autoestradas, as rotundas e os parques industriais, mas também a investigação e a inovação altamente complexas, a compra conjunta de vacinas ou a Lei do Clima. Tudo isso merecia mais atenção e maior reconhecimento, acreditam políticos e instituições da União Europeia. A verdade, porém, é que esta angústia europeia é igualzinha à dos políticos e das instituições nacionais. Não há um ministro, deste ou de outro governo, não há uma instituição, seja a Assembleia da República, a Presidência ou a câmara municipal, que não acredite, convicta e por vezes justamente, que o país não sabe e a comunicação social não conta com (o que acham dever ser) merecido detalhe as suas benfeitorias. Compreende-se, mas não tem de se concordar inteiramente.
A maior parte de nós não desconfia quem são nem quantos são os membros da sua assembleia de freguesia (o poder mais local e próximo que há). E, no entanto, todos temos uma opinião sobre o que a junta faz e o que devia fazer, por vezes errando tanto quanto às competências como erra quem confunde o Parlamento Europeu com a Comissão Europeia ou o Conselho, mas acertando quanto ao que são as nossas preocupações. É aqui que está a resposta à tal angústia. Acha-se que falar sobre Europa é falar sobre fundos, sobre o dinheiro que a Europa generosamente nos dá e pelo qual devemos estar gratos, ou então devia ser conhecer em detalhe a política europeia e os políticos europeus.
Para acabar com a mania de que se fala pouco de Europa em Portugal, é começar por reconhecer que quando se fala de políticas se fala de Europa.
E que os fundos são importantes, mas o resto é mais.
A essência deste problema, porém, é que a Europa teme ser tão vulnerável como um governo. Se o povo achar que não serve, deixa de querer. Mas essa é outra discussão.