MBA Ronaldo
Ambição, atitude, autoconfiança, resiliência. Alguns dizem que são características menos presentes entre os portugueses. Pois estes são conteúdos que abundam no MBA Ronaldo.
Na mesma semana em que concretizou mais uma sensacional transferência, saindo da Juventus e regressando ao Manchester United, Cristiano Ronaldo aproveitou para marcar dois golos que valeram mais uma vitória da equipa das quinas e, na passada, bater o mais histórico dos recordes, ao isolar-se no topo dos melhores marcadores de sempre em jogos de seleções nacionais.
Não me canso de admirar este homem. Não só porque gosto de futebol, mas sobretudo pelo seu percurso, pela sua coerência, pela sua resiliência, pelo seu sentido de oportunidade, pela sua capacidade de reinvenção. É um compêndio vivo de como se gere uma empresa, de cuja fábrica só sai um produto: ele próprio. Aquilo que alguns já designam por multinacional Ronaldo.
O percurso deste português, desde que aos 11 anos foi colocado num avião no aeroporto do Funchal com destino a Lisboa, para onde veio viver sem a família e perseguir o sonho de ser o melhor jogador de futebol do mundo, devia ser a base de um MBA. Nele estão todos os conteúdos: empreendedorismo, estratégia, marketing, finanças, operações, logística, gestão da mudança, comunicação. Não o fez sozinho – o papel de Jorge Mendes é incontornável –, mas também Steve Jobs não fez sozinho a Apple, nem Bill Gates fez sozinho a Microsoft. Ronaldo conseguiu, contudo, o que poucos alcançaram: praticamente a solo, apenas com um punhado de pessoas à sua volta, acreditou nele e não se ficou por medalhas simbólicas, construiu uma multinacional centrada no seu talento, na sua imagem, na sua capacidade de gerar valor e negócio. No dia em que alguém – e confesso que adoraria ser eu a fazê-lo – colocar num livro o paralelo entre a vida do futebolista e os conteúdos de um Master de Gestão, o resultado será o manual de MBA mais vendido em todo o mundo.
A carreira de um futebolista é frequentemente medida pelo número de transferências, sendo mais valorizadas as que correspondem à fase ascendente, tipicamente resultando em mais prestígio, maior salário e mais exposição, que, por sua vez, alavancam todos os negócios associados à sua imagem. Pois bem, Ronaldo protagonizou até à data quatro supertransferências, sendo que esta última o fez regressar ao melhor campeonato do mundo e ao maior clube do mundo: a Premier League e o Manchester United.
Para se ter uma ideia do que isto representa, em apenas duas horas após o anúncio oficial da contratação de Ronaldo, o Manchester United ganhou um milhão de seguidores novos no Instagram. Nessa mesma rede social, o número de likes no post da contratação ascendia a 12,9 milhões, o maior número de sempre de um post de um clube desportivo, em qualquer modalidade. O potencial de negócio é astronómico.
O jogo desta quarta-feira contra a República da Irlanda foi um retrato fiel de Ronaldo. Apresentou-se, como sempre, motivado. Quando tudo parecia que ia correr bem, falhou um penálti e o adversário marcou. Já perto do final do jogo, ainda a perder, o capitão levantava as mãos para a bancada, reclamando apoio e crença. Aos 89 minutos, cabeceia para o golo do empate. Os portugueses terão pensado que sempre era melhor marcar um ponto. Não foi o caso de Ronaldo, que aos 96 minutos repetiu a cabeçada e deu-nos a vitória.
Ambição, atitude, autoconfiança, resiliência. Alguns dizem que são características menos presentes entre os portugueses. Pois estes são conteúdos que abundam no MBA Ronaldo. De Portugal para o mundo.