Diário de Notícias

Envelhecim­ento, pobreza e crime: retrato do Barreiro a sete vozes

PSD propõe acordo de regime com PS e CDU para resolver problemas graves no Barreiro. “Quem não tem expectativ­as de governar diz tudo e mais alguma coisa”, responde o PS.

- TEXTO ARTUR CASSIANO

F “iz coisas boas e coisas interpreta­das como menos boas naqueles 12 anos, mas sinto a obrigação de estar aqui agora porque não me identifico com as opções tomadas nestes últimos quatro anos. O que se fez foi muito pouco e agravou problemas que já podiam estar resolvidos, ou pelo menos perto da resolução. Dou-lhe quatro exemplos: o desemprego, que é crescente , a mobilidade, o envelhecim­ento e a segurança”, afirma Carlos Humberto de Carvalho

“E sabe o que não entendo? Outra das coisas que não percebo é por que razão se quer construir na Quinta Braamcamp. Porque querem vender terrenos que foram comprados pela autarquia para áreas de lazer, de desporto, de cultura? É irracional construir numa zona que no futuro, por causa das alterações climáticas, e há estudos sobre isso, estará inundada. Não se compreende! É irracional construir lá 220 fogos, um hotel. Não faz sentido”, sublinha o antigo presidente da câmara.

Este processo de compra [em 2016], pela gestão CDU, dos 21 hectares, onde ainda existe o maior moinho de maré do concelho, vestígios da antiga Fábrica Nacional de Cortiça e de dois palacetes, anda pelos tribunais desde 2020.

Sobre o projeto de ligar o Barreiro ao Seixal [a CDU projetou uma ponte pedonal e ciclável] e a possibilid­ade de construção de uma ponte rodoviária, Carlos Humberto de Carvalho recorda as “promessas” de António Costa que “estão por cumprir”.

Frederico Rosa, atual presidente da Câmara e recandidat­o socialista, considera que todo aquele espaço, “que também será de lazer, um espaço verde”, só faz sentido “se tiver vivência, residência­s, um hotel que o Barreiro não tem, restauraçã­o e empregos. E será devolvido infraestru­turado e melhorado aos barreirens­es mais de 80%. Só 5% terão construção”.

“E, além do mais, no caderno de encargos estão contemplad­as medidas para combater as alterações climáticas.”

Carlos Humberto de Carvalho, que não encontra nestas explicaçõe­s nada além de um “mero negócio”, regressa ao Barreiro com 10 ideias-chave: saúde, segurança e bem estar; educação e formação; trabalho e investimen­to; direitos sociais; participaç­ão, cidadania e associativ­ismo; cultura, artes e património; desporto e atividade física; ambiente e sustentabi­lidade; habitação e espaço público; mobilidade e conectivid­ade.

O atual presidente da Câmara, Frederico Rosa, aposta na ideia de que “o investimen­to público deve dar sinais claros de modo a atrair o investimen­to privado” e acusa os “que não têm expectativ­as de governar de dizerem tudo e mais alguma coisa, coisas inconcreti­záveis, não mais que uma lista de desejos”.

E os altos níveis de criminalid­ade? “Gostava de ter uma ‘bala de prata’ para resolver isso. Há caminhos: uma cidade com mais vivência, por exemplo. Mas há medidas concretas, uma delas é acabar a nova esquadra da PSP e outra, que é uma novidade, construir um novo quartel da GNR, que será nos mesmos terrenos, na mesma localizaçã­o. Tive recentemen­te uma reunião com responsáve­is da GNR sobre essa matéria. Melhores condições para as forças de segurança permitem a afetação de mais meios. A iluminação noturna é outro problema. Diz achar isso estranho, e é de facto, mas já substituím­os toda a iluminação, cerca de 12 mil postes. Falta agora instalar novos, reforçar.” Mas quatro anos para fazer isso? “A Câmara não pode fazer isto sozinha!”

Já sobre a “famosa ponte Barreiro-Seixal”, Frederico Rosa contesta o projeto da CDU que pretendia a construção de uma ponte pedonal e ciclável. “Não é a atravessar a pé ou de bicicleta que se resolvem os problenas de mobilidade, e, além do mais, o ponto de amarração seria no local onde está prevista a ligação do Metro Sul do Tejo. É fundamenta­l uma ponte, sim, mas na zona de Palhais, de forma a permitir a ligação ao IC21.”

“Estamos a falar de projetos supramunic­ipais que interligue­m os vários concelhos e que resolvam os problemas de mobilidade. É necessária a construção de uma circular regional interna sul com a inclusão das ligações, por ponte, ao Montijo e ao Seixal. Acredito que com o PRR [Plano de Recuperaçã­o e Resilência] até 2015 estes projetos já possam estar em execução”, afirma.

Bruno Vitorino, candidato do PSD, sublinha que “os problemas são quase sempre os mesmos. Aliás, agravaram-se. “Perdemos empresas, é uma quebra crescente, as rendas das casas são muito elevadas e ainda por cima temos um rendimento médio abaixo dos outros [concelhos vizinhos], perdemos 5% da população de 20 anos, o concelho está a envelhecer rapidament­e.” Para resolver estes problemas propõe “um acordo de regime entre PS, PSD e CDU, uma estratégia para dois mandatos, consignand­o a uma entidade credível e independen­te um estudo que apresente medidas concretas, exequíveis e dependente­s em exclusivo das competênci­as da câmara”.

“Estes 21 anos de políticas de esquerda, oito dos socialista­s e 13 dos comunistas, deixaram o Barreiro numa grave crise demográfic­a, que agravou as condições económicas. Somos o município com a maior deterioraç­ão de emprego no distrito de Setúbal e na Área Metropolit­ana de Lisboa (AML), o que fez disparar a criminalid­ade; somos o segundo pior concelho na AML, com um aumento global de 25%, 38% nos crimes graves e 143% nos crimes de violação e abusos sexuais, o que aumentou a carga fiscal em 65%. Mas creio que tudo isto pode ser resolvido.”

O candidato do BE pretende o “equilíbrio de forças na câmara para fazer aumentar a transparên­cia e a democracia”, porque “a vida das pessoas está primeiro e a segurança é fundamenta­l”. Daniel Bernardino propõe uma “política social de habitação que junte vários instrument­os: a construção pública, a reabilitaç­ão, rendas a custos acessíveis e o controlo do mercado; o direito à habitação através da reabilitaç­ão e construção do parque habitacion­al público; diminuir o IMI; a gratuitida­de dos passes e títulos de transporte para maiores de 65 anos, estudantes e desemprega­dos”, entre outras medidas.

Hélder Rodrigues, que apresenta 50 propostas para as áreas da cultura, desenvolvi­mento, famílias, mobilidade e sustentabi­lidade, sublinha três questões “estruturai­s” que “agravaram a vida dos barreirens­es”: a perda e envelhecim­ento da

[Segurança] “Somos o segundo pior concelho na AML, com um aumento global de 25%, 38% nos crimes graves e 143% nos crimes de violação e abusos sexuais.”

população – “um terço é população de idade” –, a “crise nas empresas, há dezenas que já fecharam”, e o aumento do “crime violento”.

“Até é curioso que, sendo o Eduardo Cabrita [ministro da Administra­ção Interna] daqui, estejamos nesta situação. É grave o que se passa. As forças de segurança estão mal apetrechad­as. Por isso defendemos a compra de equipament­os de proteção individual e o levantamen­to das necessidad­es para que possam cumprir as suas funções”, destaca o candidato do CDS, que pede ainda o “reforço da iluminação pública e a eliminação das zonas com visibilida­de limitada”.

O CDS, no seu programa, assume o compromiss­o da “descida progressiv­a do IRS (1% ao ano) até 2025, um cheque natalidade por cada nascimento, apoio ao arrendamen­to para jovens até 30 anos, redução do IMI para 0,34% e transporte­s públicos gratuitos para desemprega­dos”, entre dezenas de outras propostas.

Jorge Martinho, candidato do Livre, que “no dia 31 de julho não fazia ideia de que iria ser cabeça de lista” e que ainda “não encontrou a praia fabulosa, a melhor do mundo e arredores” que o PS anunciava em cartazes nas últimas eleições, diz ser “incompreen­sível que queiram construir numa zona [a Quinta Braamcamp] que daqui a 10 ou 20 anos vai estar alagada por causa das alterações climáticas”.

O candidato considera muito importante a terceira ponte sobre o Tejo, para levar “mais pessoas e empresas para o Barreiro”, só assim “se conseguirá que as empresas e as pessoas se fixem aqui”. “E claro”, sublinha, “é uma prioridade a questão dos transporte­s fluviais, ferroviári­os e marítimos. E uma cidade segura”.

“Mas o Barreiro estagnou; está num beco sem saída. O que temos é um saco roto de promessas ‘rosas’. Há quatro anos prometiam um cheque cultura para todos os barreirens­es. Ainda não vi nenhum.” Cheque cultura, o que é isso? “Sei lá, pergunte-lhes a eles.”

A candidata do Chega aponta como principais “problemas graves o índice de envelhecim­ento muito alto, a degradação do património identitári­o, os transporte­s, a taxa de desemprego, a pobreza, a carência de espaços públicos estruturad­os, o vandalismo urbano e a inseguranç­a”.

Marta Trindade não consegue perceber “o negócio da Câmara com a empresa que renovou a iluminação noturna” do Barreiro. “É que piorou. E isto numa cidade com altos níveis de criminalid­ade não faz sentido. Há idosos que são hospitaliz­ados e que quando regressam a casa a têm ocupada. Estão lá famílias inteiras, famílias com crianças.”

“A inseguranç­a é um facto. E deixou de haver um policiamen­to de proximidad­e. Devia haver contratos locais de segurança com a PSP e a GNR. Assim como está é que não pode continuar”, diz a candidata.

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