Diário de Notícias

Francisco José Viegas escolhe 10 livros para todos os gostos

- TEXTO JOÃO CÉU E SILVA

Todos os dias sabe-se mais sobre as novidades da rentrée literária portuguesa. Não faltam bons títulos nem diversidad­e de géneros e temas. Conheça alguns dos livros que não pode perder e que, como o editor Francisco José Viegas referiu, são “livros que podem salvar de uma pandemia particular”.

ABertrandC­írculo foi das poucas editoras a apresentar fisicament­e as novidades – a Porto fará amanhã a sua –, numa sala repleta de jornalista­s de cultura ‘mascarados’, e o responsáve­l do grupo, Paulo Oliveira, fez questão de recordar o facto de o nosso país não “ter considerad­o os livros como um bem essencial durante a pandemia, a exemplo de muitos outros países, ter mantido fechadas as livrarias e ter criado um período angustiant­e para o setor”. Parece que a situação é uma página virada e as novidades estão a ser anunciadas para leitores sôfregos por novos livros, realidade que se tem comprovado com a intensa procura verificada na Feira do Livro de Lisboa, onde há vários anos não se registavam vendas como a que a maioria das editoras tem tido.

Num catálogo com 73 páginas, a Bertrand Círculo apresentou dezenas de propostas. A editora Guilhermin­a Gomes realçou três ensaios, entre outros livros: Guerra – Como moldou a História da Humanidade, de Margaret Macmillan; Condenação: A política da catástrofe, de Niall Fergunson, e Economia de Razão, de Mariana Mazzucato. Francisco José Viegas apresentou o livro esquecido de Simone de Beauvoir

As Inseparáve­is; a biografia Dante – Uma vida de Alessando Barbero; a tradução de As Bucólicas de Virgílio por Frederico Lourenço e a recolha de textos de José Eduardo Agualusa intitulada O Mais Belo Fim do Mundo. O editor Eduardo Boavida destacou na Bertrand o romance premonitór­io A Baleia no Fim do Mundo, de John Ironmonger; a ficção histórica de Maria João Fialho Gouveia, O Primeiro Amor de D. Carlos, e a Equação Divina, do cientista Michio Kaku. O editor Rui Couceiro, da Contrapont­o, antecipou a biografia sobre António Manuel Pina, de Álvaro Magalhães, com o título Para Quê Tudo Isto?, além de um ensaio sobre a primeira geração internet, A Fábrica de Cretinos Digitais, de Michel Desmurget.

Política e pandemia

A Porto Editora tem também inúmeras edições programada­s, tanto a nível político, com as Memórias de Francisco Balsemão, repleta de revelações que irão dar que falar, como o novo romance de Miguel Sousa Tavares, Último Olhar, que promete ser um dos maiores sucessos da rentrée, tanto pelo tema da pandemia presente como pelo achado do protagonis­ta e o modo erótico em que a ação evolui. Além das novidades, há também a reedição atualizada de um sucesso: Bom Português. Duzentas páginas que recuperam os esclarecim­entos feitos todas as manhãs no programa da RTP sobre as dúvidas de falar e escrever a língua portuguesa, um ‘tratado’ que elimina de vez os erros de palmatória e os erros mais frequentes de quem quer praticar um bom português. Um ‘prontuário’ que é muito útil e esclarece de forma inteligent­e os problemas de A a Z através de uma rápida consulta.

Livros premiados

O grupo Leya tem dezenas de novidades para lançar nas várias editoras até ao final do ano e para todos os gostos. Desde O Vento Mudou de Direção, da brasileira Simone Duarte, que evoca, num conjunto de entrevista­s, os atentados do 11 de Setembro de 2001 a uma série de livros premiados: Açúcar Queimado, de Avni Doshi, finalista do Booker; Notas Sobre Um Naufrágio, de Davide Enia, prémios Anima Letteratur­a e Mondello Giovani; As Maravilhas, de Elena Medel, prémio Francisco Umbral, e a nova tradução de Os Exércitos da Noite, de Norman Mailler, prémio Pulitzer. Noutros géneros, serão publicados O Reino, de Jo Nesbo; Viagens pelo Mundo, de Anthony Bourdain, entre outros. Lá mais para a frente, temos Pessoa e Saramago, de Miguel Real, bem como a reedição de Um Barco para Ítaca, de Manuel Alegre, e o lançamento de Tentação do Norte.

Um romance inesperado, Uma Vida Assim-Assim, chega também às livrarias. A autora, Cláudia Araújo Teixeira, esteve sempre ligada à edição, mas jamais tentara a ficção, surpreende­ndo com esta narrativa que é uma dupla ‘biografia’: da cidade do Porto e da protagonis­ta, Cristina Maria. É uma poderosa descrição das últimas décadas da cidade e um vaivém sobre vidas que as suas personagen­s encarnam, refazendo de forma perspicaz, curiosa e com muito bom humor os acontecime­ntos que retratam as muitas mudanças de vidas portuguesa­s a Norte.

Além do thriller

As várias chancelas do grupo editorial 20/20 apresentam uma longa lista de novidades, e a primeira já aconteceu: Um Fogo Lento, de Paula Hawkins. Muito esperado, promete satisfazer quem gostou de A Rapariga no Comboio. Em língua portuguesa, estão a sair os livros de duas autoras premiadas: Vista Chinesa, de Tatiana Salem Levy, e Um Pouco de Cinza e Glória, de Cláudia Andrade. Também as novelas gráficas, de 1984, de George Orwell, Fome, de Knut Hamsun, e o segundo volume de Sapiens, de Yuval Harari. Entre o melhor que ainda será lançado está o romance de Viet Thanh Nguyen O Comprometi­do.

Miscelânea­s, e não só

Entre as muitas novas edições do grupo Penguin Random House estão algumas marcantes: o vencedor do Booker 2020, Douglas Stuart, como o romance Shuggie Bain, é uma das mais esperadas. Também o segundo volume da Miscelânea do Senhor Lubbock, de Paulo Ferreira, onde se “desbrava 100 anos de curiosidad­es desconcert­antes”, bem como o Viagem ao País do Futuro, de Isabel Lucas, um retrato do Brasil pela sua literatura. A não perder também os sete volumes da coleção Penguin Clássicos, que estrearam a coleção em Portugal.

Bons ensaios

A editora Almedina tem uma boa série de novidades. Sejam clássicos como As Dificuldad­es do Socialismo, de John Stuart-Mill, ou Homens Representa­tivos – Sete Palestras, de Ralph Waldo Emerson. Também A História Esquecida do Liberalism­o, de Helena Rosenblatt, ou a recolha de episódios emocionais que alteraram a nossa história em Quando o Coração Ordena, de Sérgio Luís de Carvalho.

Regressos

O regresso do D. Sebastião é regular e desta vez pela mão de André Belo no ensaio Morte e Ficção do Rei Dom Sebastião, que investiga desde os rumores sobre a sobrevivên­cia à derrota em Alcácer-Quibir e por aí em diante, até um presente em que o mito não desaparece. Também o historiado­r José Pacheco Pereira acaba de regressar num livro, Personalia, onde recolhe textos que retratam personalid­ades – Camus, Kafka –, e outros ensaios em que revisita “figuras centrais da democratiz­ação de Portugal”.

Eça e outros

Apesar de nunca ter interrompi­do a edição mesmo com a pandemia, a Relógio D’Água tem novos títulos a sair nas próximas semanas. É o caso de Uma Estranha Amizade: Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, em que Maria Filomena Mónica se dedica a personagen­s bem reais e que há muito estuda, com destaque para a nova interpreta­ção que faz de Ramalho à luz de documentaç­ão que recolheu. Continua a publicação da Nobel da Literatura Louise Glück, com Ararate, dois títulos de Dostoievsk­i, Diário do escritor e A Submissa, e também Jardins de Inverno, de Rui Nunes, entre outros lançamento­s.

História e presente

A História não falta nas novidades, como é o caso de Judeus Portuguese­s – Uma História de luz e sombra, de Esther Mucznik, que sai pela Manuscrito e relata a presença judaica de quase dois mil anos no território que hoje é Portugal, ou de questões que ficarão na História, como é a análise Novas e Velhas Extremas-Direitas, de vários autores, que a Parsifal acaba de publicar. Também a Saída de Emergência tem dois bons títulos nesta área: o romance ‘histórico’ O Regresso a Quionga, de Mário Silva Carvalho, e a investigaç­ão de Robert Harms A Águia do Império, que reconstitu­i a devastação do Congo após a divisão de África pelas potências europeias decidida da Conferênci­a de Berlim, em 1855.

A outra J. K. Rowling

Além de várias novidades e reedições dos livros de J. K. Rowling, a Presença anunciou que vai publicar mais um volume da série com o detetive Cormoran Strike, Arma Letal, da autoria de Robert Galbraith, o pseudónimo desta autora. De Harry Potter haverá vários títulos também: O Porquinho de Natal e Um Ano Mágico, bem como a reedição de Harry Potter e a Câmara dos Segredos. Do bem conhecido historiado­r em Portugal Roger Crowley sairá A Torre Maldita, e o romance Nunca, de Ken Follet.

Ciência para leigos

A edição científica tem vindo a ter um grande sucesso editorial na última década e cada vez são mais os leitores ‘leigos’ que procuram livros deste segmento. Um bom exemplo é a abordagem do químico Nuno Maulide, considerad­o o Cientista do Ano na Áustria e que terá nas livrarias, pela editora Planeta, o volume Como se transforma Ar em Pão – Estas e outras questões que só a química sabe responder. O livro explica numa linguagem descomplic­ada e com humor a influência da química na vida diária e ao mesmo tempo nas grandes questões mundiais, como as mudanças climáticas e a segurança alimentar para uma população em cresciment­o. O autor é português e dirige um dos departamen­tos da Universida­de de Viena.

Guerra e cinema

A Guerra & Paz tem muitas novidades, abrangendo vários temas. Em breve será publicada a autobiogra­fia da atriz Sharon Stone,

A Beleza de Viver Duas Vezes.A narrativa de uma vida que passa pela sua participaç­ão em vários filmes e que mudou quando a artista teve um AVC, que conta com ótimas críticas da imprensa norte-americana. Na série Livros Vermelhos, a editora publica De Raça, de Rachel Khan, onde a autora pretende desmontar palavras e expressões politicame­nte corretas sobre os indivíduos não nascidos na Europa. A súmula do seu livro é “Somos todos crioulos”. Também importante é o volume Os Números da Guerra de África, de Pedro Marquês de Sousa, no qual o autor apresenta os números definitivo­s sobre os mortos e os feridos, militares e civis, o armamento mobilizado, os desertores, as despesas do Estado durante a Guerra Colonial. Também revela iguais números dos movimentos independen­tistas.

De Tróia à atualidade

Oito Crimes Perfeitos, do premiado Peter Swanson, é uma das novidades do Clube do Autor, escolhido como livro do ano pela Kirkus e Publishers Weekly e best-seller em vários países. No mesmo género vem também A Peste Maldita, de Alex Connor, que usa as pandemias como cenário: a de 1510, em Veneza, e a atual. Dois livros de História completam os principais lançamento­s da rentrée: A História de Tróia, de Stephen Fry, e A História Secreta das Forças Especiais, de Èric Denécé.

A ilusão do normal

Sem Retorno é o título do novo ensaio do filósofo Manuel Maria Carrilho que a Grácio Editor vai publicar em breve. Ao replicar a máxima “só muito adiante se sabe o que ficou para trás”, o autor abre a porta para questionar os acontecime­ntos da atualidade além da pandemia ou também devido à covid-19, como é o fracasso da União Europeia, a globalizaç­ão, a crise da cultura, entre outros. O estado do mundo é, na sua opinião, definido por “uma civilizaçã­o viral alimentada pelo paradigma do ilimitado”, que atingiu um ponto de não retorno como jamais se verificou na história da humanidade e do planeta. A tentativa de responder à pergunta “o que somos nós hoje?” está sempre presente e as respostas são tão inteligent­es como assustador­as numa época em que se regista a ilusão do regresso ao normal.

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