Diário de Notícias

Quem diria?!

- Paulo Baldaia

Éóbvio que nenhum político está obrigado a falar da sua privada, mas também não está proibido de o fazer. As suas preferênci­as sexuais não podem ser uma desvantage­m, mas também não devem ser uma vantagem. E por aí adiante, se não é assunto, não é assunto.

Paulo Rangel revelou ser homossexua­l. Tê-lo-á feito para desarmadil­har o caminho que pretende percorrer para chegar à liderança do PSD e ser candidato a primeiro-ministro. Infelizmen­te, a política ainda se faz com muita intriga palaciana e o melhor é não ter segredos, mesmo sobre coisas que dizem exclusivam­ente respeito à vida de cada um. Só com muita ambição se pode fazer política neste lamaçal. Não se diga é que essa terá sido a razão para Rangel ter evitado ser candidato anteriorme­nte, por exemplo contra Rui Rio, simplesmen­te porque Rangel já foi candidato à liderança do PSD. Perdeu para Passos Coelho. A homossexua­lidade de Rangel foi notícia, não devia ser, mas agora é tempo de colocar um ponto final no assunto e começar a conversar sobre o político Paulo Rangel.

Não nos enganemos: a convicção crescente em todo o país político de que António Costa está de abalada desestabil­iza a esquerda e aumenta o apetite pela liderança da direita. Obviamente, sem o ás de trunfo em jogo, qualquer um pode ganhar. O quarto segredo de Fátima até podia ser uma grande vitória do PSD nas autárquica­s no final do mês. Isso não retiraria a vontade aos adversário­s de Rui Rio de ir a jogo. Rangel sabe disto e não é de agora. Se Passos Coelho também já se pôs de fora, é preciso ocupar o espaço.

Paulo Rangel é um cristão-novo no PSD, chegou a militar no CDS, afirmou-se primeiro como líder parlamenta­r no consulado de Ferreira Leite e depois ganhando na primeira vez que foi cabeça de lista às europeias, tendo perdido nas duas seguintes, ainda assim com um bom resultado em 2014, levando à queda do líder do PS, António José Seguro. Recusou agora ser candidato à Câmara Municipal do Porto, podendo contribuir com a sua ausência para aprofundar a derrota que ameaça deixar Rio pelo caminho. Se vier a confirmar-se o que agora se adivinha, percebe-se melhor a recusa e a maratona que tem feito para apoiar candidatos em todo o país. De acordo com a dimensão da derrota na noite de 26 de setembro, Rio determinar­á se é a hora de desistir, mas, mesmo que o faça, Rangel sabe que não estará sozinho na corrida.

Precisamos de alternativ­as que se afirmem no campo das ideias e aí vai crescer o escrutínio sobre tudo o que Rangel defendeu no passado. Sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo, por exemplo. Obviamente que não estava obrigado a defendê-lo por ser homossexua­l, mas importa recordar um político com uma versão conservado­ra da sociedade que agrada a uns e a outros não. Já vimos que o partido que se orgulha de ser de muitos credos passa facilmente de uma versão muito à direita para uma versão quase de esquerda e vice-versa. Veremos quem é o(a) senhor(a) que se segue. Até lá, o partido está a disputar umas eleições autárquica­s. Quem diria?!

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