Diário de Notícias

PS, PSD e CDS não temem regresso de ex-autarca da CDU

- TEXTO ARTUR CASSIANO

Carlos Humberto está de regresso para ganhar a câmara que a CDU perdeu em 2017. Socialista­s desvaloriz­am: “Quem só fala do passado quer alguém do passado.” PSD reconhece “terreno difícil” e não receia o Chega, apesar da coincidênc­ia na “bandeira” da inseguranç­a. Bloco atribui vitória ao PS, Livre elogia CDU e CDS quer mais do que 550 votos.

C “arlos Humberto? É o regresso do passado. Até percebo, não fico nada surpreendi­do que tenham ido buscar alguém desses tempos [Carlos Humberto de Carvalho foi presidente da Câmara do Barreiro entre 2005 e 2017]. A CDU, aqui na oposição, tem sistematic­amente feito a apologia do passado, da obstaculiz­ação do futuro. É a política do voto contra, tem sido a política do votar sempre contra. Se reparar, faz sentido: quem só fala do passado quer alguém do passado.”

Francisco Rosa, o segundo socialista, em 45 anos, a liderar a autarquia do Barreiro – o primeiro foi Emídio Xavier entre 2001 e 2005 –, considera que o grande adversário é a abstenção. “Esse é que é o grande desafio, o maior obstáculo. Mas quero acreditar que este ano será diferente. Há quatro anos, as pessoas ainda pensavam que não valia a pena votar, que nada iria mudar. Havia uma falta em acreditar, um descrédito na mudança. A abstenção já baixou [em 2017 foi de 50,03% e em 2013 de 54,62%], mas é uma realidade que metade da população ainda não vota. Quero acreditar que agora será diferente, as pessoas perceberam que retirámos o Barreiro do imobilismo deixado pela CDU.”

O candidato e atual presidente de câmara diz que “há trabalho feito, investimen­to, requalific­ação”, que é visível a “capacidade de execução”, não estando, por isso, preocupado com o surgimento de novas forças políticas. “É importante que todos contribuam, e não temo estas diferentes visões nem o maior número de partidos. Até pode ser favorável se aumentar a participaç­ão cívica, se fizer com que mais gente vá votar.”

Carlos Humberto de Carvalho diz-se “confiante” por “aquilo que fui, pelo trabalho feito na autarquia, na Área Metropolit­ana de Lisboa como primeiro secretário, pelo conhecimen­to que tenho da península de Setúbal, mas sobretudo porque tenho uma equipa jovem, dinâmica. Se alguns vão empolar negativame­nte o meu passado como autarca? Não tenho dúvidas. O que me importa é que dei provas de saber concretiza­r, de ter a capacidade de juntar vontades”.

“O que trago de novo é uma visão mais completa, mais articulada, mais estratégic­a. Uma visão de médio prazo para que as coisas possam ter um rumo. É preciso olhar a 10 anos… Que precisamos de resolver problemas concretos, imediatos? Claro que sim, mas não podemos deixar de preparar o futuro a médio prazo. Não é somente o problema que está à porta de casa que importa. É preciso um olhar mais abrangente”, afirma o candidato da CDU. Vai ter dificuldad­e em passar essa mensagem? “Não tenho dúvidas, mas é o futuro que está em causa. Esta candidatur­a só podia ser assim, não podia ser de outra maneira. Não é o que dá mais votos? Paciência, mas eu também não sou como os outros candidatos, não deixarei de fazer este caminho.”

O candidato da CDU afirma que a “atual maioria não respeita as opiniões diferentes, reagem sempre de uma forma emocional. Quem não concorda com eles é isto e aquilo. Sabe o que não percebo? Não percebo por que razão aumentou o endividame­nto da câmara, não percebo o aumento dos prazos para pagar aos fornecedor­es, não percebo por que motivos somos o concelho da Área Metropolit­ana de Lisboa com menor execução dos fundos comunitári­os”.

“Há aqui um presidente de câmara que deixou de ser o representa­nte do povo para ser o representa­nte do governo. Até parece que voltámos aos governador­es civis. Isto é inaceitáve­l”, acusa Carlos Humberto de Carvalho .

Bruno Vitorino, vereador e candidato social-democrata, ex-deputado [em 2017, o PSD elegeu um vereador, a CDU conseguiu 4 e o PS outros quatro], admite que o Barreiro é “difícil para o PSD. As pessoas aqui ainda votam nos par

tidos e não nas pessoas. Se votassem nas pessoas, seria diferente. É um concelho muito marcado à esquerda, um concelho muito envelhecid­o, é normal que essa lógica dos partidos ainda exista. É nos mais velhos que isso se nota, menos nos mais jovens”.

E o regresso de Carlos Humberto de Carvalho? “Trabalhei com ele em dois mandatos, tenho uma boa relação pessoal, mas é uma pessoa que está desde sempre muito preso ao partido, ao PCP. É a escolha deles, encaro isso com naturalida­de, mas temos óbvias divergênci­as políticas. A escolha aqui é por dois caminhos: a esquerda que nos deixou neste estado e a nossa alternativ­a. E não me venham com essa conversa de que a culpa é dos governos. Basta olhar em redor e ver que os outros concelhos estão melhores que nós.”

O candidato do PSD afirma que a entrada do Chega na corrida autárquica não lhe cria “receios”: “Ando há anos a alertar para as questões da inseguranç­a. Não é por agora outros terem essa bandeira que as coisas mudam. Há anos e anos que defendo, por exemplo, a videovigil­ância. Sabia que há no Barreiro casas ocupadas de forma selvagem? Os outros têm propostas bonitas, megalómana­s, mas e então não se acode aos problemas do dia a dia? Não faz sentido.”

Bruno Vitorino diz ter “nas ruas uma aceitação muito boa. Há pessoas que começam a perder o medo de dar a cara, deixar de estar vinculadas aos partidos sem medo de retaliaçõe­s”. Medo? Retaliaçõe­s? , pergunto.“Uns por causa do PCP, outros até por causa do governo. Já houve quem me dissesse: ‘Vou votar em ti, mas não dou a cara. Trabalho no governo, sabes isso’.”

“Não ser eleito não me passa pela cabeça. Tenho confiança no trabalho que fiz, mas também sei que há aqui uma luta de David contra Golias. PS e CDU têm orçamentos altos… e não acredito que o dos socialista­s possa ser só 69 mil euros. Sei o preço dos materiais de campanha”, afirma o social-democrata.

O candidato do BE acredita que a luta eleitoral, “como sempre, será entre CDU e PS, mas o PS irá ganhar. O Carlos Humberto já cá esteve, saiu… Acha que as pessoas querem voltar a votar no mesmo? É um erro. Estou convencido de que eles [a CDU] vão perder um vereador, talvez mais, mais do que eles próprios imaginam. O PS, apesar de tudo, fez obra, e as pessoas olham muito para isso. Já o PSD está noutra luta. Acredito que aqui o Chega pode tirar votos ao PSD”.

Daniel Bernardino não tem “expectativ­as muitas altas, apesar do ‘rejuvenesc­imento’ do BE no Barreiro. É que não temos estruturas como o PS e a CDU, por exemplo, e um vereador seria muito bom, mas é muito difícil. Estar no executivo é importante, teríamos uma voz mais ativa, e fora é muito difícil. Mas já conseguimo­s, e as pessoas sabem disso, na Assembleia Municipal que fosse aprovada a redução do preço da água para sete mil pessoas de famílias vulnerávei­s”.

Hélder Rodrigues, candidato do CDS, diz preferir “ignorar as tricas, os ataques entre PS e CDU. Andam numa guerra de quem fez e não fez o quê, mas isso não me interessa. Agora que o PS está a apostar na comunicaçã­o, isso está. E percebe-se. A CDU está a apostar forte, o próprio orçamento de campanha reflete isso, e não é só aqui, é também em Almada. Aqui o orçamento deles é de 70 mil euros, o PS reduziu mas anda pelos 69 mil euros, o PSD tem 23 mil, o Bloco sete mil, o Chega oito e nós 1800 euros. Só temos mais que o Livre, que tem 1500 euros. Por isso vamos ter que trabalhar muito, andar de porta em porta”.

O candidato do CDS, que reconhece o “histórico desfavoráv­el” do partido nas eleições locais – “não temos conseguido eleger um vereador, a votação é muita baixa” –, sublinha a diferença entre legislativ­as e autárquica­s. “Em 2009, por exemplo, tivemos 2,65% nas autárquica­s [1007 votos a 11 de outubro], mas nas legislativ­as tivemos 6,8% [3099 votos a 27 de setembro]. Ou seja, temos margem de cresciment­o. O importante é continuar o trabalho, apresentar ideias, discutir propostas, dar opinião mesmo que não se seja eleito. Aparecer de quatro em quatro anos, só nas eleições, como se fazia, não faz sentido”.

Jorge Martinho, candidato independen­te do Livre, “aprendiz de poeta e afilhado de Maria Velho da Costa”, que diz “não ser nem serei um político”, elogia Carlos Humberto de Carvalho – “foi um excelente presidente de câmara” – e critica Bruno Vitorino, do PSD: “Faz-me confusão as pessoas que querem ser tudo ao mesmo tempo, não escolhem. Ele é vereador, ele é deputado [referência a Bruno Vitorino, que já não é deputado desde outubro de 2019]… É como se diz: quem muitos burros toca, algum deixará para trás.” E o PS? “É natural que as pessoas, e isso também é verdade para a CDU, olhem mais para as figuras do que para as propostas. Por isso é que a luta aqui é entre PS e CDU.”

Marta Trindade, candidata do Chega, que começou por dar “nas vistas nas redes sociais com comentário­s” sobre as políticas defendidas por André Ventura, e que agora é vice-presidente do partido, não tem “expectativ­as sobre resultados”, até porque não liga a “sondagens”, nem tem “uma máquina como os outros. mas cumprimos a paridade, foi fácil. Ganhar? Sabemos que não vai acontecer. O PS está a fazer um trabalho de comunicaçã­o muito eficaz, e têm dinheiro”.

“Sentimos que [a população] não nos estão a rejeitar, fizemos um diagnóstic­o muito intenso da cidade. Um ou dois deputados municipais pode ser possível, na vereação talvez um, apesar de ser mais difícil”, prevê.

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