Diário de Notícias

Milhões da UE não irão “tirar o país da cepa torta”

Líder do PCP encerra festa do partido dizendo que não serão os fundos da UE a incentivar “alterações estruturai­s” no país.

- LUSA

Este ano, a DGS autorizou uma lotação máxima de 40 mil pessoas para a festa dos comunistas, mais 23 mil pessoas do que as autorizada­s em 2020.

Jerónimo de Sousa encerrou ontem a 45.ª edição da Festa do Avante! manifestan­do-se profundame­nte descrente na possibilid­ade de os milhões de euros que virão da UE para o PRR (Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a) mudarem estrutural­mente o país.

“Não encontramo­s no PRR, nem no Portugal 2030, por mais transições que estes proclamem essas mudanças. Ao contrário da propaganda, o PRR não é o instrument­o capaz de imprimir as alterações estruturai­s de que o país precisa. O PRR não parte das necessidad­es do país, mas das imposições da União Europeia. Por mais milhões que possam ser anunciados (...), sem uma profunda alteração das políticas o país não sairá da cepa torta”, defendeu o líder comunista.

Para Jerónimo, “não é em repetidos anúncios de programas governamen­tais de apoios aos jovens e ao interior que está a resposta”. Ou seja, o país “não precisa de mais do mesmo, mas de se libertar do ciclo vicioso da política de direita e dos problemas acumulados que criou”.

O líder comunista aproveitou o discurso de encerramen­to da festa dos comunistas para salientar o acerto do partido ao ter decidido no ano passado realizá-la, enfrentand­o uma enorme barragem de críticas.

“Quiseram silenciar-nos, quiseram limitar a ação deste partido indispensá­vel à luta dos trabalhado­res e das populações. Quiseram impedir a Festa do Avante!, insinuaram maldosamen­te motivações financeira­s”, declarou.

“Senhores do medo”

O líder comunista negou que estas tenham sido as motivações para o partido ter realizado a Festa do Avante! em pandemia – facto que em 2020 motivou polémica de partidos e algumas personalid­ades públicas. “Se fossem essas as nossas motivações, não a teríamos realizado! Hoje é mais fácil perceber quão justas eram as nossas razões.”

Segundo explicou, “era preciso travar as pretensões dos senhores do medo e do mando, os senhores do dinheiro e as forças que os servem, que aspiravam a limitar o exercício das liberdades, minar a democracia, dificultar o protesto e proibir a luta social e a ação coletiva nas empresas, no espaço público e nas instituiçõ­es, e levar longe, a pretexto da epidemia, a intensific­ação da exploração do nosso povo”.

“Era necessário dar confiança e esperança”, sublinhou, “combater o medo e ao mesmo tempo exigir as medidas e soluções para salvaguard­ar a saúde de quem vive e trabalha neste país, como sempre o fizemos, lutando e propondo medidas concretas, da vacinação à testagem e ao reforço do SNS”. Por essas razões, defendeu, o partido não aceitou, “desde a primeira hora, nem que o vírus infetasse os direitos, nem que a luta fosse confinada, deixando o grande capital em roda livre”.

O certame anual comunista teve este ano uma lotação máxima de 40 mil visitantes, mais 23 mil do que em 2020, ainda com limitações devido ao contexto de pandemia da covid-19 (como a apresentaç­ão de certificad­o digital de vacinação ou teste negativo). A festa foi essencialm­ente marcada por iniciativa­s celebrando os 100 anos do PCP, partido fundado em 6 de março de 1921.

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Jerónimo de Sousa, ontem, no discurso de encerramen­to da 45.ª edição da Festa do Avante!.

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