Harley Davidson Pan America: duelo ao pôr do sol
A marca que representa o sonho americano em duas rodas dá um tiro certeiro no domínio das rivais europeias do segmento big-trail.
Há uns anos seria impossível imaginar que veríamos uma Harley Davidson com uma configuração trail.
Se fosse filmado hoje, os personagens Billy e Wyatt (Dennis Hopper e Peter Fonda), respetivamente, no filme Easy Rider, teriam optado por fazer a road trip numa Pan America em vez das Harley customizadas propositadamente para o filme. Convenhamos que as motos que utilizaram ficam bem na fotografia, mas são um pesadelo para fazer viagens longas.
Há uns anos seria impossível imaginar que veríamos uma Harley Davidson com uma configuração trail, mas a marca de Milwaukee, após sondar os seus clientes, percebeu que muitos deles já tinham na garagem uma moto trail de aventura ou planeavam comprar uma. Assim chegou à conclusão de que se tivesse uma moto dentro desse segmento os seus atuais clientes não teriam de ir comprar à concorrência.
O segredo do comportamento numa moto big trail é o resultado da soma das partes, mas no caso da surpreendente Pan America deve-se muito ao novo motor Revolution Max, que em comum com os anteriores motores tem apenas o facto de ser um V-Twin. Os engenheiros são os primeiros a reconhecer que primeiro desenvolveram o motor e só depois pensaram no que podiam fazer com ele. Produz 150 cv, atinge o redline às 9500 rpm – quase o dobro dos anteriores – e deixamos de ouvir e sentir o tradicional thump thump descompassado para dar lugar a um rugido com caráter. O novo veio de equilíbrio é tão eficaz que os engenheiros tiveram de ajustá-lo para deixar passar alguma vibração, tão característica nas motos da HD. Tem ainda um sofisticado controlo de abertura de válvulas computorizado, que resulta num comportamento feroz quando usado agressivamente, mas dócil quando é preciso, sobretudo em fora de estrada, mais complicado a velocidades baixas.
Para competir com a concorrência a Pan America não podia deixar de proporcionar ferramentas para tornar os 150 cv mais “amigáveis” para uma utilização quotidiana, bem como fora de estrada. Para isso está equipada com uma variedade de modos de condução que ajustam a resposta do acelerador eletrónico, definições do ABS e controlo de tração para rain, street ou sport ao circular em estrada, bem como duas opções para fora de estrada. É ainda possível criar modos personalizados.
No entanto, a HD não se limitou a copiar o que a concorrência já oferece: a Pan America Special que testámos estava equipada com suspensões Showa semiativas que se ajustam continuamente ao peso do condutor, passageiro e bagagem; tipo de terreno, e estilo de condução. Mas há ainda um truque na manga: a função adaptive ride height baixa as suspensões sempre que ligamos a moto ou estamos prestes a parar, de modo a que o condutor chegue sempre com os pés ao chão.
Aos comandos notamos que a ergonomia está bem conseguida para uma condução sentada como de pé. Há muitos botões para interagir com o ecrã TFT a cores, que também é tátil e pode ser operado com os dedos. O banco é confortável e o parabrisas proporciona uma excelente proteção aerodinâmica.
Em andamento, não parece que estamos a andar numa Harley, curva quase como uma desportiva, não há vibrações, o motor é muito suave e disponível logo a partir das 1800 rpm, com uma entrega reforçada pouco antes das 5000 rpm e cortando às 9500 rpm. Infelizmente, nem tudo é perfeito, o ecrã TFT tem um problema de legibilidade em que a informação adicional aparece num tamanho de letra demasiado pequeno e o lado direito do motor, onde estão os coletores, aquece ao ponto de se tornar incómodo.
Com a Pan America, a Harley Davidson acaba de lançar um desafio para um duelo ao pôr do sol. Será que a concorrência vai aceitar?