Uma sucessão, uma narrativa, um país
Oque mais preocupa os portugueses neste momento é, certamente, a economia. Mais do que a sucessão na liderança do Partido Socialista, o tabu e se Costa fica ou não fica ou se vai ocupar um cargo internacional a partir de 2023, os cidadãos querem saber se vamos sair deste marasmo, deste esperar para ver.
Apesar das muitas perguntas sobre os temas da política, naturalmente exigidas, desta vez a economia sobressaiu na entrevista do primeiro-ministro, António Costa, esta segunda-feira à TVI. Não que o resto não o preocupe, mas não parece que lhe tire o sono. Costa sabe bem desviar as atenções dos temas que não lhe interessam. E apesar das muitas vozes do PSD terem engrossado o tom nas últimas semanas, passando mensagem da sua saída em 2023, Costa não cedeu na entrevista. E estará o líder do PS mesmo de saída? Ou será, antes, o partido social-democrata a criar uma narrativa que lhe seria tão conveniente?
Costa é hábil e não se vislumbra nele um pingo de suor, uma hesitação que seja na resposta ao tema. Sei do que falo quando já em início de maio coloquei o tema em cima da mesa, no final de uma entrevista, ladeada pelos meus camaradas do JN e da TSF.
O PSD não vai trilhar um caminho fácil até fazer vingar esta narrativa. E antes de apontar todas as baterias ao exterior, deveria guardar algumas munições e as energias para as aplicar no seu interior, dando coesão a um partido há muito fragmentado entre os vários clãs e barões.
Voltando à entrevista, Costa segurou-se nas pastas económicas, puxando pelos galões da gestão da pandemia. O lay-off foi naturalmente referido, como uma das medidas que permitiu segurar os postos de trabalho e fazer um brilharete político. Mas vai o país conseguir manter o atual nível de emprego? E não estará o governo a cair na tentação de vir a tornar demasiado rígido o mercado laboral, até por pressão do Bloco de Esquerda e do PCP, numa altura em que as empresas precisam de ‘alguma flexibilidade para dar a volta por cima’? Pelo menos, é o que os empresários e gestores vão dizendo aqui e ali, em jeito de desabafo.
Se é verdade, como diz Costa, que as causas desta crise não são estruturais mas conjunturais, o tecido empresarial do país continua frágil e a sentir-se preso por arames.
No palco televisivo o governante deu ainda destaque às famílias e, claro, aos parceiros de esquerda – já preparando terreno para a negociação do Orçamento do Estado – , ao afirmar que “está a fazer um trabalho muito sério” para alterar os escalões de IRS. Assim admite o alívio para rendimentos entre os 10 mil e os 20 mil euros ou entre 36 mil e 80 mil euros por ano. Seja como for, está dito e prometido “estudar a possibilidade de no Orçamento do Estado para 2022 haver mais um desdobramento dos escalões de IRS”.
Uma nota final para dar os parabéns a uma personalidade da sociedade portuguesa, um senador que dá ao Diário de Notícias a honra de ser seu colunista, e que esta semana completou 99 anos: Adriano Moreira.