Diário de Notícias

Ana Jacinto

Baixar não custa

- Ana Jacinto Secretária-geral da AHRESP

No meio desta pandemia (mas não só), há medidas que, com alguma frequência, são reclamadas pelas empresas e que não chegam a ver a luz do dia, por razões que, bem ou mal, com maior ou menor esforço, até se podem entender.

Outras há que custam, e muito, entender a sua não aplicação, como é o caso da baixa da taxa do IVA nos serviços de alimentaçã­o e bebidas. Consideraç­ões à parte sobre se este é, ou não, o imposto mais injusto à face da Terra, uma vez que o seu valor é o mesmo para todos, independen­temente do rendimento de cada um, centremo-nos no resultado que se produziria caso se baixasse a taxa do IVA, ainda que de forma temporária e não permanente.

Atualmente, aos serviços de alimentaçã­o e de bebidas associadas à cafetaria é aplicada a taxa intermédia de imposto (13% no Continente, 12% na R.A. Madeira e 9% na R.A. Açores) e nas restantes bebidas é aplicada a taxa máxima (23% no continente, 22% na R.A. Madeira e 18% na R.A. Açores). O que trago agora à discussão seria a descida temporária para a taxa mínima (6% no Continente, 5% na R.A. da Madeira e 4% na R.A. dos Açores), como forma de reforçar a tesouraria das empresas, num setor que foi dos mais afetados pela pandemia e no qual a recuperaçã­o do emprego tarda em chegar.

A HOTREC, organizaçã­o cúpula europeia representa­tiva dos empregador­es do Canal HORECA, num recente manifesto divulgado, salienta bem as mais-valias desta medida, ao mesmo tempo que felicita os países que a implementa­ram.

Considera aquela entidade que esta é uma medida que funciona como benefício direto às empresas e que pode fazer a diferença entre a sobrevivên­cia ou o encerramen­to de muitos estabeleci­mentos. Por isso fez um apelo à UE para que incentivas­se os Estados-membros a reduzirem o IVA para a taxa mais baixa. Todos os casos de países que já a implementa­ram, nesta como em crises anteriores, revelaram-se um enorme sucesso.

E não se pense que esta é uma medida que apenas beneficia as empresas do setor. Ela vai muito além disso. Dados já comprovado­s indicam que esta é das medidas mais eficazes para apoiar o emprego e potenciar investimen­tos mais significat­ivos, contribuin­do assim para aumentar ainda mais a qualidade da oferta, sendo um dos fatores mais importante­s da concorrênc­ia à escala global. Um elevado nível de investimen­to contribui também para o cresciment­o e o emprego de toda a cadeia de valor a montante e a jusante. O Estado arrecada receitas adicionais e poupa na despesa através da procura adicional e dos empregos.

Também um estudo realizado no ano passado pela PwC, concluiu que a aplicação temporária da taxa reduzida de IVA ajudaria a manter até 46 mil postos de trabalho e a evitar o encerramen­to de até 10 mil empresas. E este estudo teve por base um cenário menos pessimista do que aquele que se veio a registar.

Não vale a pena lançar a confusão, querendo passar a ideia de que é uma má medida porque baixar a taxa do IVA não vai fazer descer preços ao consumidor, porque nem é esse o resultado pretendido. Outro argumento que é usado pelos contestatá­rios (quase negacionis­tas), é a de que o Estado arrecada menos receita com esta edução.

Logicament­e, o efeito estático da medida será sempre uma redução da receita, mas que depois é compensada por outras variantes como a poupança relativa aos subsídios de desemprego que não têm de ser pagos e as receitas da Segurança Social que as empresas pagam por cada posto de trabalho que geram e asseguram.

Temos assim, que toda esta matéria está envolta em desinforma­ção (que para os desinforma­dos não deixa de ser uma informação). Por isso espero, com toda esta retórica que, de uma vez por todas, se reconheça o valor acrescenta­do que representa a baixa do imposto sobre o valor acrescenta­do (passando a redundânci­a).

Com o fim de uma ‘época alta’ que não foi a esperada, e com um novo Orçamento do Estado à porta, esta era uma excelente notícia. Não custa nada e ajuda muito!

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