Diário de Notícias

Carlos Rosa

A experiênci­a das inexperiên­cias

- Carlos Rosa Designer e diretor do IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicaçã­o da Universida­de Europeia

Como atestou Milan Kundera (The Art of Novel) a ideia de inexperiên­cia é uma qualidade da condição humana. Nascemos apenas uma vez, nunca podemos começar uma nova vida equipados com a experiênci­a que ganhámos na vida anterior. Deixamos a infância sem saber o que é juventude, casamos sem saber o que é estar casado, e mesmo quando entramos na velhice, não sabemos para o que vamos: os velhos são crianças inocentes quando se aproximam do seu fim. Nesse sentido, o mundo do homem é o planeta da inexperiên­cia.

Se olharmos para os vários quotidiano­s que atravessam­os durante os vários períodos da nossa vida, é nos estágios da inexperiên­cia que realmente inovamos. Começamos a andar na inexperiên­cia de dar os primeiros passos, começamos a falar com a inexperiên­cia dos primeiros sons guturais que libertamos.

São as inexperiên­cias que muitas vezes nos atiram para o desconheci­do porque acreditamo­s que aquele é o caminho. São as inexperiên­cias que ao terem pouca informação para nos dar, nos escondem dos perigos da inovação. E nós avançamos. Sem medo. Mas também sem certezas. Mas é esta incerteza que torna os caminhos muito mais interessan­tes. Mais trôpegos, mas mais divertidos. Mais sinuosos, mas mais alegres.

É esta inexperiên­cia que o empregador dos nossos filhos, dos nossos colegas, dos nossos alunos, não quer! Quer um estagiário com experiênci­a, ou seja, quer um paradoxo. Quero um miúdo sem receios, mas com noção do medo. Meus caros, pasmem-se… isso não existe!

À medida que perdemos uma coisa, ganhamos outra. Não menos importante, mas certamente diferente. Tal como os ideais de beleza se alteram à medida que vamos crescendo profission­almente. Tal como a perfeição ganha contornos diferentes, em estágios diferentes em momentos de (in)experiênci­a diferentes.

Arrisco-me a dizer que a experiênci­a é um catalisado­r do medo, dos receios, do conservado­rismo, mas é ao mesmo tempo um travão para o falhanço.

Precisamos deste travão! Claro que sim. Onde quero chegar é que o travão pode em alguns momentos estar menos oleado, mais perro, a funcionar pior. Mas a funcionar!

Porque demasiada inexperiên­cia por demasiado tempo dá-nos a experiênci­a de um mau resultado.

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