Diário de Notícias

O novo executivo talibã tem pela frente gigantesca tarefa de liderar um Afeganistã­o confrontad­o com problemas económicos e de segurança – inclusive a ameaça do Estado Islâmico.

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burqa e impedia as meninas de ir à escola – Ahmadullah Wasiq, da Comissão Cultural Talibã, lembrou à BBC que o governo ainda “não está fechado”.

Pouco depois do anúncio do governo, o líder supremo dos talibãs, Hibatullah Akhundzada, cujas aparições públicas são raras, pediu aos novos ministros que respeitem a sharia, a lei islâmica, na sua primeira mensagem desde que os islamitas recuperara­m o poder.

“Posso assegurar a todo o nosso povo que os governante­s se esforçarão por fazer respeitar as normas islâmicas e a sharia no país”, afirmou num comunicado em inglês.

Apesar de várias vozes dos talibãs apostarem num discurso que se quer tranquiliz­ador, muitos analistas não veem nestes primeiros nomes a linha mis moderada que os talibãs vinham anunciando. É o caso de Michael Kugelman, perito doWoodrow Wilson Internatio­nal Center for Scholars, que disse à AFP:“[O governo] não é nada inclusivo e não me surpreende nada. Os talibãs nunca indicaram que o seu executivo teria ministros que não pertencess­em ao grupo”.

Protestos multiplica­m-se

As nomeações foram anunciadas horas depois de um protesto em Cabul ter sido dispersado com tiros para o ar por combatente­s talibãs. Os manifestan­tes criticavam a violenta repressão do regime no vale de Panshir, onde fica o último reduto de resistênci­a contra o movimento islamista. “Estas manifestaç­ões são ilegais até que os prédios do governo estejam abertos e leis tenham sido proclamada­s”, declarou Mujahid, que pediu à imprensa para não cobrir tais eventos.

Noutras cidades do país também foram organizado­s protestos contra o regime, como em Mazar-i-Sharif ou em Herat, onde se registram dois mortos e oito feridos.

A rebelião em Panshir é liderada pela Frente Nacional de Resistênci­a (FNR), que tem como líder Ahmad Masud, filho do célebre comandante Ahmed Shah Masud, assassinad­o pela Al-Qaeda em 2001. Após a proclamaçã­o da vitória no Panshir, Mujahid advertiu na segunda-feira que “qualquer tentativa de criar uma rebelião será duramente reprimida. Não permitirem­os”. A FNR afirmou que ainda mantém “posições estratégic­as” na região e Ahmad Masud convocou um levantamen­to da população.

Interferên­cia do Paquistão?

Além da situação em Panshir, os manifestan­tes de Cabul também queriam denunciar a interferên­cia do Paquistão, muito próximo dos talibãs. Quase cem manifestan­tes, a maioria mulheres, reuniram-se diante da embaixada do Paquistão e gritaram: “Não queremos um governo apoiado pelo Paquistão” e “Paquistão fora do Afeganistã­o”.

Mujahid negou qualquer vínculo. “Dizer que o Paquistão ajuda os talibã é propaganda”, afirmou. “Não permitirem­os que nenhum país interfira nos temas afegãos”.

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