Diário de Notícias

BCE calibra compras e ainda vê inflação a recuar

Redução de estímulos de emergência segue até ao fim deste ano. É calibragem, não é desmame, diz Lagarde.

- TEXTO MARIA CAETANO maria.s.caetano@dinheirovi­vo.pt

Oaumento de preços já chegou ao bolso de muitos europeus e ainda vai sentir-se mais no outono, mas não está para ficar, mantém o Banco Central Europeu (BCE), que ainda não avista qualquer trajetória de inflação que conduza à normalizaç­ão da política monetária e à subida dos juros antes de 2024.

As projeções da instituiçã­o foram ontem atualizada­s em alta ligeira, mas não somaram mais que uma décima à previsão de inflação anual para 2023, última etapa no horizonte visível do BCE. Os 3% de subida de preços no espaço do euro medidos em agosto terão como corolário uma inflação de 2,2% neste ano, descendo aos 1,7% em 2022, e cedendo ainda para 1,5% em 2023.

Para o BCE, o estrangula­mento da oferta, associado a mais procura na reabertura económica, deverá dissipar-se na primeira metade de 2022, assim como os efeitos de base que têm elevado comparaçõe­s com 2020. Ainda assim, a presidente, Christine Lagarde, admitiu riscos de uma pressão de preços mais persistent­e, e prometeu vigilância. O barómetro para analisar desvios, avisou, será a evolução de salários, cujos aumentos são negociados no outono em grande parte da Europa. Para já, esperam-se cresciment­os moderados.

Entretanto, o BCE já está a encolher a corda com que em março do ano passado acudiu às economias do euro, que deverão vir finalmente à tona da pandemia no final deste ano, prevê a instituiçã­o. Ao longo dos próximos meses, o ritmo de compras líquidas de ativos do programa de emergência pandémica, o PEPP, vai diminuir, confirmou o conselho de governador­es.

A decisão era a esperada, e a comunicaçã­o foi suave e de pontas soltas. O BCE “considera que podem ser mantidas condições de financiame­nto favoráveis com um ritmo moderadame­nte mais baixo de compras líquidas de ativos ao abrigo do PEPP do que nos dois trimestres anteriores", mas "o envelope pode ser recalibrad­o se necessário para manter condições de financiame­nto favoráveis que ajudem a contrariar o choque negativo pandémico para a trajetória de inflação". Lagarde reforçou a mensagem: é calibragem, não será o aziago tapering anglófono, ou o desmame gradual dos estímulos.

Na prática, estes podem estar já a ser doseados. Em agosto houve uma redução significat­iva do volume das injeções de Frankfurt, com as compras de ativos líquidos ao abrigo do PEPP nos 65,05 mil milhões. É em torno deste nível que muitos analistas esperam que o ritmo do programa de emergência se situe até dezembro, apesar de o BCE não ter dado números.

A descida de agosto não fez mossa nos mercados, e o anúncio de ontem também não. Pelo contrário. Os juros exigidos pela tomadas das dívidas soberanas europeias nos mercados secundário­s recuaram, e nos casos de Portugal, Itália, Espanha e mesmo Grécia – excluída do programa regular de compras do BCE, o APP – mantinham-se ainda abaixo de um ano antes.

Quanto ao futuro, não é para já. “Não discutimos o que vem a seguir”, assegurou Lagarde sobre o debate em torno do fim do PEPP e da transição para o programa regular de compra de dívida do BCE, eventualme­nte em moldes mais flexíveis. Ficou a promessa de discutir o assunto em dezembro.

“Não discutimos o que vem a seguir”, garantiu Lagarde após a reunião do BCE. O fim dos estímulos é assunto para dezembro.

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Instituiçã­o liderada por Lagarde vai monitoriza­r salários para avaliar pressão sobre os preços.

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