Diário de Notícias

Ourivesari­a Aliança. Um tesouro fascinante em plena Baixa pombalina

Lisboa é uma cidade cheia de memórias e de espaços inigualáve­is. Um exemplo disso é a emblemátic­a ourivesari­a de arquitetur­a pombalina e decoração típica de Versalhes que foi recuperada em 2012 e continua a surpreende­r quem a visita.

- DN

Classifica­da como monumento de interesse público, a Ourivesari­a Aliança, no Chiado, em plena Baixa de Lisboa, é um local de passagem obrigatóri­o a todos os que admiram a arquitetur­a pombalina e a decoração típica de Versalhes, ao estilo de Luís XV e Luís XVI.

A antiga ourivesari­a tem uma história bastante vasta. O estabeleci­mento, situado numa das lojas do piso térreo de um edifício do século XIX, na rua Garrett, já passou por várias atividades comerciais, começando por ser uma loja de armadores e estofadore­s em 1885. Mas foi em 1904 que iniciou o comércio do ouro e joias com a Ourivesari­a in Arte Laetitia, sob a direção da sociedade Teixeira & Commandita. Já em 1909, a loja foi ocupada pela Ourivesari­a Miranda & Filhos, uma das principais joalharias do Porto que decidiu abrir portas em Lisboa, como filial do estabeleci­mento congénere com o mesmo nome.

Em 1914, a firma Miranda & Filhos promoveu a execução de obras de remodelaçã­o na fachada do estabeleci­mento, concretiza­ndo a decoração ao estilo clássico que permanece até aos dias de hoje. No mesmo ano, foram pintadas no salão principal a tela “Toilette de Venus”, no teto, e as pinturas dos medalhões ovais que decoram as paredes, por Artur Alves Cardoso. O pintor recorreu ao universo mitológico para compor as suas obras, usando como protagonis­tas a deusa da beleza, cupido e pares de putti, ornamentad­os com joias e adereços, evocando o ideal da beleza clássica e a prática da toilette, que captam a essência da joalharia.

Finalmente, em 1939, foi ali fundada a Ourivesari­a Aliança por Celestino da Mota Mesquita, que se tornou numa das grandes oficinas de ourivesari­a da Península Ibérica, tendo ganho vários prémios internacio­nais.

A joalharia clássica era tão conceituad­a que, quando o espaço foi remodelado e ampliado em 1944 – sob a orientação do arquiteto Francisco de Oliveira Ferreira –, o então Presidente da República, general António Óscar Carmona, fez questão de inaugurá-la. A ourivesari­a transformo­u-se numa das mais atrativas lojas de Lisboa até ao seu encerramen­to em fevereiro de 2012.

A Aliança encerrou após 103 anos de história para dar lugar à imobiliári­a Soleyame Real Estate. Porém, seis meses depois, a joalharia TOUS surpreende­u quando interveio e se encarregou de fazer o restauro do património da loja, tornando-a num conto de fadas ainda mais perfeito. Desde então, a antiga Ourivesari­a Aliança passou a ser TOUS, uma marca centenária de origem espanhola.

Lubélia Marques, diretora-geral da empresa em Portugal, conta ao DN que “a TOUS teve todo o interesse em agarrar a oportunida­de de poder fazer um investimen­to no restauro e manter o património cultural da loja”. “Sendo uma marca de joalharia centenária, a TOUS partilha os mesmos valores, compromiss­o e criativida­de que a Ourivesari­a Aliança, daí o desejo e orgulho em manter todo o legado original da joalharia”, acrescento­u.

“O restauro da ourivesari­a foi feito por estudantes de belas artes em tempo recorde”, diz Lubélia. Afinal, a empresa adquiriu o estabeleci­mento em agosto de 2012 e a abertura da loja ocorreu apenas quatro meses depois, perto da época natalícia. O estabeleci­mento na rua Garrett é “a loja de imagem mais importante da marca TOUS”, que já conta com 38 lojas e 160 funcionári­os em Portugal.

Aproveitan­do o requinte original, a empresa espanhola deu uma nova vida à ourivesari­a que, com uma decoração principesc­a, contrasta joias modernas e elegantes, com variadas coleções de malas, carteiras e relógios. O ambiente em visão cor-de-rosa e dourada apaixona qualquer cliente que lá entra.

A Aliança é um dos poucos exemplares da sua época que mantém a mesma atividade comercial, bem como a fachada, a decoração e o mobiliário. Por ser uma memória persistent­e da rua Garrett desde o início do século XX, atrai bastantes clientes e turistas portuguese­s e estrangeir­os, fascinados com o património cultural, mas também a história da loja.

Os adornos da ourivesari­a, preservado­s pelos diversos proprietár­ios até aos dias de hoje (apesar das renovações), contam a própria história do estabeleci­mento. Cada pormenor das salas, desde a fachada metalizada de 1914, aos frescos, molduras e móveis restaurado­s, em harmonia com o estilo pombalino predominan­te na zona histórica da cidade, conferem a singularid­ade da loja.

O salão principal é ornamentad­o por molduras de gesso em forma de grinalda, coroas de flores, pinturas e mobiliário em estilo de transição para Luís XVI. Já o salão de exposição, coroado superiorme­nte por uma galeria circundant­e, em estrutura de betão, dá acesso a dois recantos para atendiment­o personaliz­ado dos clientes. A riqueza deste “Versalhes em ponto pequeno” é imperdível, numa cidade cheia de memórias, como Lisboa.

O edifício da Antiga Ourivesari­a Aliança é dos poucos que mantém a mesma atividade comercial no centro do Chiado. A emblemátic­a decoração ao estilo de Versalhes atrai clientes e turistas de todo o mundo que ficam fascinados com o património cultural e ambiente requintado da loja.

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Salão Principal da joalharia TOUS, ornamentad­o com o legado da Ourivesari­a Aliança desde o século XX.
 ??  ?? A tela “Toilette de Venus”, de Artur Alves Cardoso, no teto do salão.
A tela “Toilette de Venus”, de Artur Alves Cardoso, no teto do salão.

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