A sobrevivente do Pentágono encarregada de anunciar as mortes
Karen Baker perdeu amigos e colegas, mas o profissionalismo falou mais alto e comunicou os óbitos.
Karen Baker era especialista em comunicação de crise no Pentágono no 11 de Setembro, mas nada a poderia preparar para o que em breve teria de fazer: anunciar a morte de amigos. Quando o segundo avião atingiu o World Trade Center, confirmando que Nova Iorque estava a ser atacada, Baker não podia imaginar que estaria em perigo na sede do Departamento de Defesa dos EUA em Washington. “Este é o lugar mais seguro para estar no mundo neste momento”, recorda ter dito a um colega de trabalho. Essa ilusão foi rapidamente abalada quando o voo 77 da American Airlines entrou no lado ocidental do Pentágono, matando 53 passageiros, seis tripulantes, juntamente com 125 pessoas no edifício. “Foi um grande estrondo e depois sentiu-se um tremor”, recorda.
Baker, então com 33 anos, e a amiga Elaine Kanellis, que estava grávida de nove meses, juntaram-se aos milhares de funcionários do Pentágono que rapidamente desocuparam o edifício, muitos navegando na escuridão e no calor intenso causado pela explosão.
“As pessoas estavam muito ansiosas e a tentar perceber o que se passava. Mas nós estávamos com os militares. Eles já tinham estado sob fogo antes, por isso havia uma... sensação de calma e ordem na confusão”, lembra-se.
Lá fora, no parque de estacionamento, Baker e os seus colegas souberam que a explosão tinha sido de um avião a jato. “Eu sabia que tinham sido terroristas. Mas a ideia de um avião ser usado como arma e como isso poderia acontecer nesta área era um pouco difícil de entender. Estava pronta para que as bombas começassem a cair.”
Na sequência do atentado, Baker ajudou a divulgar os nomes dos mortos, fazendo a ligação com as famílias para realizar tributos às vítimas. “Treina-se como anunciar a morte dos soldados, mas nós não sabíamos realmente como fazer isto para os civis. É algo que eu nunca tinha previsto.” O desafio foi tornado ainda mais difícil pelo facto de dois amigos terem morrido enquanto outro tinha sofrido 90 por cento de queimaduras. “Estava a olhar para isto com muito profissionalismo. E depois, de repente, surgem nomes de amigos na lista e eram pessoas que não sabiam que estavam feridas e agora estamos a anunciar a sua morte. Isso foi o mais difícil”, disse à AFP no Corpo de Engenheiros do Exército dos EUA, em Nova Iorque, onde agora trabalha.
Baker pensa no 11 de Setembro “a toda a hora” e contacta os seus colegas daquela época em cada aniversário. “Moldou de facto o caminho que muitos de nós tomámos depois disso. Eu tento apreciar a vida. Tento reconhecer que não nos é dado mais tempo do que o que temos. Também digo à minha família que os amo imenso.”
Enquanto Baker diz que a sua experiência não tem comparação” com o que os nova-iorquinos passaram, acredita ter testemunhado “milagres” nesse dia que “aprofundaram” a sua fé. “Vi o heroísmo das pessoas que acorreram. Sinto como se houvesse alguém a olhar por mim e a garantir que eu saía do edifício.”