Duas décadas de terror em nome do Islão
“Esta batalha nem sequer é entre a Al-Qaeda e os EUA. Esta é uma batalha contra os cruzados globais”, garantia Osama bin Laden numa entrevista à Al-Jazeera em outubro de 2001. Semanas antes, a 11 de setembro, o mundo observara atónito, a sua rede terrorista, a Al-Qaeda, usar 19 piratas do ar para desviar quatro aviões e atacar a América no seu coração. As Torres Gémeas, em Nova Iorque, caíam como um castelo de cartas numa gigantesca nuvem de fumo, o Pentágono ficava semi-destruído e a Casa Branca só escapou do ataque dos terroristas porque o quarto aparelho se despenhou num campo da Pensilvânia antes de alcançar o seu alvo. O resultado foram quase três mil mortos. Mas se o alvo da Al-Qaeda (“A Base”, em árabe) eram “os cruzados”, a verdade é que os piores atentados terroristas de sempre também mataram muçulmanos – 32 ao todo, a maioria, 28, em Nova Iorque.
Realizados em nome do islão por organizações terroristas com recurso a planos sofisticados ou por lobos solitários armados com uma simples faca e recrutados à distância muitas vezes através das redes sociais, foram muitos os atentados terroristas de inspiração islâmica que marcaram as últimas duas décadas desde o 11 de Setembro. Alguns muito mortíferos dos quais nem sequer houve imagens, outros que fizeram menos vítimas mas marcaram as nossas memórias coletivas por representarem um ataque a alguns dos símbolos da sociedade ocidental. Foi o caso do ataque ao Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, que pôs o mundo a gritar Je Suis Charlie em solidariedade com os cartoonistas e outros trabalhadores do jornal satírico francês.
Depois dos atentados contra Madrid e Londres na primeira metade da primeira década do século XXI, 2015 voltou a trazer o terror de inspiração islâmica a uma capital no coração da Europa ocidental – com Paris a ser alvo de ataques coordenados contra vários alvo, das esplanadas dos cafés ao Stade de France, sem esquecer a sala de espectáculos do Bataclan – 130 mortos no total.
Mas do cerco a uma escola em Beslan, na Rússia, por terroristas chechenos, ao ataque das Al-Shabab – uma das muitas organizações terroristas nascidas de uma espécie de franchise da Al-Qaeda – contra a universidade de Garissa no Quénia, passando pelas explosões na ilha indonésia de Bali, o terror em nome do islão, por vezes acompanhado com gritos de “Allahu Akbar”, ataca um pouco por todo o mundo nestes 20 anos, muitas vezes contando muçulmanos entre as vítimas.
Atentados que se registam inclusive – e sobretudo – no próprio mundo islâmico. Iraque, Síria e Afeganistão contam aos milhares as vítimas das explosões que marcaram anos de guerra nos três países. Mas também a Tunísia ou a Turquia não escaparam à fúria dos terroristas. A primeira tendo visto, por exemplo, os terroristas atacar o museu do Bardo, com os turistas ocidentais como alvo preferencial. A segunda, já habituada a atentados, a chorar os mortos do ataque contra uma discoteca de Istambul na passagem para o ano de 2017 – um claro atentado contra o modo de vida ocidental.
E ainda fresco nas memórias está o recente ataque da célula afegã do Estado Islâmico contra o aeroporto de Cabul, que fez quase 200 mortos, inclusive 13 militares dos EUA que participavam nas operações de retirada da população que procurava fugir ao novo regime dos talibãs.
Os portugueses também não escaparam incólumes a esta vaga de terrorismo islâmico, apesar da ausência de ataques em território nacional. Aos cinco mortos nas Torres Gémeas, junta-se mais uma dezena de vítimas de nacionalidade portuguesa nos atentados que marcaram os últimos 20 anos: desde o soldado ao serviço da ONU em Timor que estava de férias em Bali ao emigrante alentejano, taxista em Paris, morto junto ao Stade de France.