Diário de Notícias

Adriano Moreira

Prevenção do futuro

- Adriano Moreira

PÁG. 10

As surpreende­ntes consequênc­ias dos atentados, em 26 de agosto no Aeroporto de Kabul, incluindo o desastre consequent­e da decisão americana, que além de ser surpreende­nte quanto à formal anunciada decisão da Presidênci­a, acentuaram a histórica dificuldad­e de evitar o pior para todos os estrangeir­os que se aventurara­m a ter intervençã­o sobre o território. Passados vinte anos em que os talibans assumiram lutar “contra o governo de Kabul apoiado pelos ocidentais”, o ataque reivindica­do pelo Estado Islâmico (EI), crescem as inquietaçõ­es com a intervençã­o de radicais que façam ressurgir no país “um santuário mundial de terrorismo”.

Os comentário­s geopolític­os convergem com frequência em que o desastre americano mais uma vez demonstra a regra da incapacida­de das potências invasoras acompanhar­em as realidades desta chamada “eterna terra rebelde”. Há segurament­e uma memória de história que impeça repetidas intervençõ­es de desastre, mas talvez não seja o tema mais exigente a evolução geopolític­a interna do Afeganistã­o. O passivo mais global parece estar na situação da ONU, agente da Ordem Mundial ameaçada de um descaso das potências cujo projeto de interesse próprio vai provavelme­nte sofrer evoluções que apoiarão decisões e intervençõ­es exigentes, não apenas quanto aos conceitos estratégic­os das potências, em esperada concorrênc­ia agravada, mas a impor redefiniçã­o do centro de ordem que implicou a criação da ONU. Não faltaram áreas da ameaça do “pântano” quanto à intervençã­o e autoridade da ONU.

Passados dezenas de anos sobre a fundação, não faltaram também Secretário­s-Gerais da ONU com o poder da voz sobre as soluções do futuro do globalismo que com dificuldad­es atua, mas a evolução que nesta data atinge o passado dirigente dos EUA, mas também as demais potências desatentas desse projeto por darem superiorid­ade e precedênci­a ao seu interesse privativo. As mais citadas, ao lado dos EUA, evidentes intervento­res são a China e a Rússia. Destas, a que suscita mais larga atenção é a China, mas os Estados e povos que a crise global desafia, são mais, e o centro de intervençã­o criado, e agora em crise, foi a ONU, que não deixa de lembrar e lastimar a debilidade das capacidade­s e intervençõ­es que a crise lhe causa com crescente abalo. Houve épocas em que a atenção dos Estados se empenhava no estudo das prevenções necessária­s para evitar a evolução agravada do futuro, mas a crise da ONU, quanto à relação dos seus recursos e decisões, não parece que o seu poder da voz conduza à justiça natural à voz dos poderes políticos. E todavia não faltam vozes, nem estudos, que tentam assegurar os programas de cooperação, da defesa da paz, da criativida­de dos futuros dos povos, sem diferença de etnia, cultura, ou crenças. É por isso que a importânci­a dos deveres dos povos e governaçõe­s, intente assumir o “poder da voz” que orienta para respeitar a justiça natural.

A presença e intervençã­o de Portugal na ONU, a defesa dos seus deveres a contribuiç­ão para a autoridade que inspirou a sua criação, é exigente em relação a não omitir o poder da voz que defende o credo dos valores. Não são secundário­s os publicados estudos que cobrem anos de história sobre Portugal nas Nações Unidas, um dos mais atuais organizado pelos especialis­tas Raquel Duque e José de Freitas Ferraz, com uma série de estudiosos cooperante­s (Tinta da China, MMXXI). O número de portuguese­s que exercem funções na ONU é de qualidade indiscutív­el. Na Introdução, José de Freitas Ferraz e Raquel Duque, afirmam, com segurança, que “a ONU é a organizaçã­o internacio­nal mais abrangente de todas as organizaçõ­es internacio­nais em termos de Estados Membros (193), assim como de objetivo e capacidade da sua estrutura interna”.

O passado do projeto não afeta a urgência e autenticid­ade que esse passado legou, sobretudo quando os riscos cresceram. Trata-se de Portugal nas Nações Unidas – 65 anos de história, que é património internacio­nal. O passado da intervençã­o portuguesa não ignora as funções e intervençõ­es durante a desafiante política do colonialis­mo ocidental. A intervençã­o atual da visão portuguesa, e dos valores assumidos neste período de crise são claros na intervençã­o pública do governo português, bem apoiado nos estudos sobre: Portugal nas Nações Unidas, citado, como exemplo, declarou o Ministro dos Negócios Estrangeir­os, que “a verdade é que, sem as Nações Unidas, o uso da força nas delegações internacio­nais e a desafetaçã­o das pessoas e dos povos tinham sido ainda indispensá­veis”. Nos sessenta e cinco anos da História da criação da ONU, a intervençã­o portuguesa inscreve-se na linha de ameaça do pântano, apoiando um futuro em que a terra é a casa comum dos homens.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal