“O terrorismo continua a ser uma ameaça porque as razões estruturais continuam a existir: regimes autoritários, desigualdades, necessidades das populações e fragilidades dos estados”, afirma Ana Santos Pinto.
Memorial do 11 de Setembro em Weehawken, Nova Jérsia, com vista para Nova Iorque.
parte não, no Sahel”, aponta o professor.
Sendo certo que, como nota Ana Santos Pinto, o “princípio base é sempre o mesmo” destes grupos, isto é, a “tomada de poder político com consequências na alteração da organização da sociedade, muito para além do que é a dimensão religiosa”, a forma como atuam já não é a mesma, tendo em conta a resposta dos estados.
“Estes grupos adaptaram-se. O grande objetivo continua a ser ataques surpresa contra alvos fáceis e vulneráveis, por regra alvos civis, sempre que possível alvos ocidentais mas cada vez mais aceitar causar mortos entre muçulmanos que não são adeptos das correntes mais fanáticas, que são a maioria dos muçulmanos”, diz Cardoso Reis. “E ataques doutro tipo, utilizando meios mais improvisados, utilizando veículos, abalroando pessoas, não utilizando armas de fogo mas facas ou outros instrumentos cortantes que são impossíveis de eliminar da vida quotidiana. E utilizando os mecanismos da propaganda que a internet permite, e as
redes encriptadas, ou para utilizar para fazer ataques ou sobretudo para mobilizar apoiantes em qualquer parte do mundo sem haver necessariamente um treino ou
uma relação de comando direto com indivíduos que se radicalizam online ou em comunidades pequenas.”
O terrorismo é, hoje como antes, uma ameaça? “Continua a ser porque as razões estruturais continuam a existir: regimes autoritários, desigualdades, necessidades das populações e fragilidades dos estados. Há uma diferença muito significativa em relação há 20 anos, que é o conhecimento que temos sobre estes movimentos terroristas e as estratégias de radicalização nas comunidades”, afirma Ana Santos Pinto.
Cardoso Reis aponta também para uma tendência crescente, a dos conflitos por procuração usando grupos armados como “peões, o que os torna mais perigosos”. Dá o exemplo do Paquistão, que apoiou os talibãs, ou do Irão, por trás de vários grupos no Médio Oriente. “No fundo, é possível minar os interesses de um adversário por vezes muito mais forte, como os Estados Unidos, sem provocar uma reação direta.”
Uma mensagem gravada em vídeo pela Casa Branca, a divulgar neste sábado, será a única forma prevista de o presidente dos Estados Unidos se dirigir aos norte-americanos sobre os atentados de 11 de setembro de 2001. Em contrapartida, Joe Biden fará o pleno, ao viajar para Nova Iorque, Virgínia e Pensilvânia, aos três locais onde os aviões sequestrados embateram.
As famílias de centenas de vítimas do 11 de Setembro disseram numa carta enviada no mês passado à Casa Branca que Biden não seria bem-vindo nas comemorações do vigésimo aniversário dos ataques a menos que desclassificasse previamente documentos governamentais que pudessem ligar a Arábia Saudita ao ataque. Na semana passada, Biden respondeu ao assinar uma ordem executiva a exigir a revisão, desclassificação e divulgação de documentos governamentais classificados relacionados com os ataques terroristas.
“Nunca devemos esquecer a dor permanente das famílias e entes queridos das 2977 pessoas inocentes que foram mortas durante o pior ataque terrorista contra a América na nossa história”, disse Biden numa declaração.
A desclassificação dos documentos deve ter lugar “durante os próximos seis meses”. As famílias de vítimas do 11 de Setembro reagiram com otimismo cauteloso. “Esperamos agradecer pessoalmente ao presidente Biden ao juntar-se a nós no Ground Zero para homenagear aqueles que morreram ou ficaram feridos há 20 anos”, disse Brett Eagleson, que perdeu o pai no 11 de Setembro e é um defensor de muitas famílias das vítimas, numa declaração depois de Biden ter anunciado a ordem executiva.
Na quarta-feira, a embaixada saudita em Washington reagiu ao anúncio tendo lembrado “o apoio de há muito tempo” de Riade para esta operação, com o objetivo de “acabar de uma vez por todas com as acusações sem fundamento contra o reino”. Quinze dos 19 autores dos atentados eram sauditas, assim como Bin Laden.
Afastada a sombra de um mau acolhimento por parte dos familiares e sobreviventes – como aconteceu durante a cerimónia dos 13 soldados mortos em Cabul – Biden estará acompanhado pela primeira dama Jill Biden quando visitar Manhattan em Nova Iorque; Shanksville, Pensilvânia; e o Pentágono, na Virgínia.
Joe Biden estará acompanhado dos ex-presidentes George W. Bush e Barack Obama. O homem que estava então na Casa Branca vai fazer um discurso em Shanksville, onde o voo 93 se despenhou na sequência da revolta dos passageiros e tripulantes contra os terroristas. Mais tarde, acompanhado da mulher Laura, vai assistir ao documentário 9-11: Inside the President’s War Room ao centro presidencial com o seu nome em Dallas. O casal Obama vai estar em Nova Iorque.
Já Donald Trump, que há dias disse que Bin Laden “não era um monstro”, irá estar com o filho Jr. a comentar um combate de boxe que decorre na Florida para um canal de televisão.
A vice-presidente dos EUA Kamala Harris e o marido Douglas Emhoff também marcam presença em Shanksville, mas num evento separado, juntando-se depois ao casal Biden no Pentágono, segundo informou a Casa Branca.