Diário de Notícias

Avisado de madrugada sobre o golpe do 25 de Abril, Sampaio foi ao escritório, mas voltou para casa e foi um dos raros lisboetas que durante o dia não saíram à rua.

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No início dos anos 70, aproveitan­do o temporário clima de abertura da Primavera Marcelista, Sampaio prestou apoio jurídico a vários sindicatos, cujas direções foram conquistad­as por forças oposicioni­stas, como o dos Caixeiros e os da TAP. Fez também parte da comissão promotora que levou à legalizaçã­o, em 1972, do Sindicato dos Jogadores Profission­ais de Futebol.

A costela associativ­a levou-o também a candidatar-se a delegado à assembleia-geral da Ordem dos Advogados. Ainda em 1972, foi um dos principais dinamizado­res do I Congresso Nacional dos Advogados.

Ao mesmo tempo, continuou a participar em processos políticos. Entre

organizada por Natália Correia. Em 1971 e 1972 represento­u trabalhado­res da Carris acusados de fazerem greve. Por duas vezes defendeu o comunista Joaquim Duarte, que só seria libertado de Peniche após o 25 de Abril. Outro dos seus constituin­tes foi o sindicalis­ta José Ernesto Cartaxo, futuro dirigente da CGTP.

Já em 1973, defendeu a médica Isabel do Carmo (que conhecera durante a crise académica de 1962 e que entretanto trocara o PCP pelas Brigadas Revolucion­árias), acusada de ser coautora de um comunicado da Ordem dos Médicos sobre a morte do estudante José António Ribeiro Santos, abatido a tiro por um agente da PIDE em outubro de 1972.

Outra militante das Brigadas Revolucion­árias defendida por Sampaio foi Conceição Moita, irmã do então padre e futuro vice-reitor da Universida­de Autónoma de Lisboa Luís Moita, que só saiu da prisão depois do 25 de Abril.

O “caso da Capela do Rato”, como ficou conhecida a ocupação daquela capela por um grupo de católicos progressis­tas em protesto contra a guerra colonial, no último dia de 1972, suscitou também a intervençã­o de Jorge Sampaio, que defendeu no Supremo Tribunal Administra­tivo três dos funcionári­os públicos punidos pela sua participaç­ão nos incidentes, incluindo o catedrátic­o de Economia (e dirigente da CDE) Pereira de Moura.

Também o atual presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, teria sido defendido por Jorge Sampaio se o seu caso tivesse chegado à barra do tribunal: acusado por manifestaç­ão não autorizada no 1.º de Maio de 1973, o julgamento foi marcado para depois de 25 de abril do ano seguinte.

Eleições de 1973

Quando percebeu que tinha aberto a caixa de Pandora com a sua tentativa de “evolução na continuida­de”, Marcelo Caetano apressou-se a tentar fechá-la. A repressão censória e policial recrudesce­u – mas o vírus da Primavera Marcelista já se tinha espalhado pelo país.

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