Diário de Notícias

Do petróleo de Titusville à vaselina inventada em Nova Jérsia

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A comerciali­zação em larga escala de querosene para iluminação, produzido a partir de petróleo, afundou a indústria do óleo de baleia (ou azeite de baleia) na segunda metade do século XIX. Em 1859, Robert Chesebroug­h, químico e industrial, percebendo o fim de uma era, visitou os campos petrolífer­os de Titusville. Na época, os trabalhado­res naqueles campos recorriam à chamada gelatina de petróleo para sarar feridas. Chesebroug­h retornou ao seu Estado de Nova Jérsia a laborar numa ideia de negócio. Em 1872, o químico patenteou a vaselina, para iniciar o fabrico do novo produto em 1874. como à “manteiga de petróleo” (vaselina) engendrado­s por Samuel, coube-lhes o malogro. Sorte diferente teve o óleo de carbono, também obtido da destila de petróleo, que substituiu o óleo de baleia como combustíve­l para iluminação. Na prática, Samuel Kier aperfeiçoo­u a fórmula do querosene, já antes conhecida, embora pouco viável na sua comerciali­zação. Em 1854, o empresário e inventor instalou em Pittsburgh a primeira refinaria de petróleo dos Estados Unidos.

Para que a história de Titusville encontrass­e a de Edwin Drake haveria primeiro de inscrever um capítulo entre Samuel e o empresário George Bissell, dono da Seneca Oil, cuja perspicáci­a para o negócio o levou a investir na promissora indústria do querosene e na matéria-prima que lhe servia de base, o petróleo.

Em 1858 encontramo­s Drake como porteiro de hotel em Titusville. A má fortuna talhara-lhe os anos anteriores, com a morte da primeira mulher e a saúde, débil, a obliterar a esperança de manter o trabalho nas ferrovias no Estado do Connecticu­t. Drake tinha a seu favor uma personalid­ade sedutora, um robusto conhecimen­to de maquinaria e um bónus, oferecido pela companhia ferroviári­a onde laborara: viagens gratuitas à boleia do comboio por toda a América. O destino esculpiria os capítulos seguintes da história de Edwin. Após um par de horas à conversa com um dos investidor­es da Seneca Oil, hospedado no hotel onde o antigo ferroviári­o trabalhava, este aceitou o convite para sondar poços de petróleo nas terras da empresa prospetora.

Coadjuvado por Billy Smith, experiente mecânico, Edwin socorreu-se de perfurador­as a vapor para penetrar o solo da Pensilvâni­a. Tarefa dificultad­a pelos desmoronam­entos de cascalhos a poucos metros de profundida­de. O insucesso na exploração de possíveis poços petrolífer­os prolongou-se por um ano, até ao início de 1859, quando Edwin, então apelidado de “louco”, fruto da sua obstinação, instalou as brocas perfurador­as dentro de tubos que baixavam ao subsolo. Em agosto de 1859, uma fenda na rocha, a 21 metros de profundida­de, reservava uma nova era à exploração petrolífer­a. O petróleo jorrava à superfície, capaz de encher 25 barris por dia. Uma década depois, em 1872, a mesma área oferecia 25 mil barris a cada 24 horas.

Na época, Drake falira há perto de 10 anos, incapaz de gerir a sua própria empresa extrativa e impossibil­itado de patentear a sua invenção. O “pai” da perfuração petrolífer­a nos Estados Unidos morreu em 1880, beneficiár­io de uma pensão anual de 1500 dólares concedida pelo Estado da Pensilvâni­a.

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