Diário de Notícias

Uma mirada colombiana que não esquece Portugal

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Juan Gabriel Vásquez tornou-se uma unanimidad­e em Portugal e cada livro seu atinge mais leitores, que recuperam através das suas histórias um pequeno aroma das grandes obras do final do século passado vindas do universo da América Latina. Não que se deva logo comparar a García Márquez ou outros do género, afinal isso traria uma obrigação que não se deve exigir a um autor como este. Se tal é bom para o marketing num tempo em que os leitores são coisa cada vez mais rara, este

deve ser visto como uma obra de um, também, universo que não escapa ao sul do continente americano mas que possui uma marca própria. O romance tem um piscar de olhos para o leitor nacional por ter várias referência­s ao país. A primeira surpresa surge com a Pastelaria Califa, em Benfica, e seguem-se outros nomes de ruas e de lugares lisboetas que influem no cenário da história que está para surgir e que são importante­s. No entanto, se ressoa o nome bem conhecido da mulher do protagonis­ta, a portuguesa Amália, o esqueleto do romance é o dos conflitos que historicam­ente têm vitimizado a América Latina ou o do país da origem da língua espanhola. Esse é, felizmente, um dos temas que estruturam a obra de Vásquez e que nunca se esvaziam se forem bem contados. A recuperaçã­o de muitos acontecime­ntos marcantes para uma certa parte da população mundial que viu o mundo mudar tanto e que por eles foi tocado surge neste ano de 2021 perfeitame­nte condensado neste olhar com memória. Para muitos, vários dos personagen­s que vão desfilando pelo livro até podem parecer inventados, no entanto, o que os suporta são homens e mulheres de verdade, que a distância e um mundo novo fazem parecer como inspiração literária.

Olhar para Trás

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