Diário de Notícias

Flak faz 60 anos e a festa é no palco

- MIGUEL JUDAS dnot@dn.pt

CONCERTO O músico e produtor tem um disco novo, e a primeira apresentaç­ão é hoje à noite, no Maria Matos, em Lisboa, com um espetáculo que servirá também para festejar o aniversári­o redondo do eterno guitarrist­a dos Rádio Macau.

Chama-se MAGPIE o novo álbum de Flak, e será pela primeira vez revelado esta noite (ao vivo, e não só), no Teatro Maria Matos, com um concerto muito especial, uma vez que o músico celebra hoje os 60 anos de idade. Ao contrário do habitual, porém, o espetáculo não serve para olhar para trás, em jeito de celebração, ao som dos êxitos passados, mas sim para lançar algumas pistas de futuro para uma das mais profícuas carreiras da música portuguesa. “Não sou uma pessoa nostálgica, tenho muito mais interesse no que vou fazer do que naquilo que já fiz”, refere nesta entrevista ao DN. Além do pop-rock, com os icónicos Rádio Macau, que fundou em 1983 com Xana e Alex Cortez, Flak percorreu também outros caminhos musicais, como a improvisaç­ão e o free jazz no projeto A Máquina do Almoço Dá Pancadas, ou a eletrónica, com Micro Audio Waves. São estes diferentes universos musicais que agora junta em MAGPIE, o quarto registo em nome próprio, criado em parceria, em jeito de cadáver esquisito, com uma série de amigos, Cachupa Psicadélic­a, Francisco Rebelo (Cais Sodré Funk Connection, Fogo Fogo, Orelha Negra), Rodrigo Amado ou ainda Guilherme Rodrigues, José Lencastre, Luís Lopes, Renato Chantre e Rui Alves, que também estarão presentes no concerto de hoje à noite.

Como é que olha para trás do cimo destes 60 anos de vida e mais de 40 de carreira?

Passou muito depressa, vivia o dobro, à vontade, para poder fazer muito mais coisas. Talvez seja essa a única coisa que mudava, gostava de ter conseguido fazer mais coisas. Mas, enfim, ainda terei mais 10 ou 15 anos de vida útil no futuro para conseguir apressar tudo aquilo que não fiz. Tive um avô que gostava muito de escrever e sempre disse que quando se reformasse ia dedicar-se a essa paixão. Claro que quando se reformou isso nunca aconteceu (risos). Eu quero fazer exatamente o contrário e tirar o máximo de prazer um tudo aquilo que, por preguiça ou falta de tempo, não consegui fazer no passado.

Este disco é já um exemplo disso?

Sim, este disco é exatamente uma dessas situações. Durante o confinamen­to fiz uma banda sonora para um filme do José Nascimento mais centrada na música eletrónica e fiquei com vontade de voltar a explorar esse universo. Mas como não gosto de começar nada do zero, convidei alguns amigos para irem ao meu estúdio, no Meco, com uma peça de música feita por eles, numas visitas que incluíam também praia e um almoço ou um jantar (risos). Não lhes dei qualquer referência sobre o que queria e a condição era que eu poderia cortar, manipular e usar essas peças como bem entendesse. E foi precisamen­te a partir desses excertos que este disco foi composto.

Sim, vamos ter o Francisco Rebelo no baixo e o Rui Alves com um set de percussão, além dos outros convidados todos, para dar um ambiente mais orgânico a isto tudo. Mas vai ser uma coisa assim meio surpresa para todos, até porque alguns dos músicos só vão chegar de véspera. Vai ser um espetáculo completame­nte livre, o que acaba por ser fiel ao próprio espírito do álbum.

Pode-se afirmar que MAGPIE marca o regresso de Flak à eletrónica, um universo por onde vagueou durante tantos e bons anos com os Micro Audio Waves? Não é bem um regresso, porque nunca deixei de lá ir. Comecei a interessar-me por eletrónica no final dos anos 90, quando montámos o estúdio dos Rádio Macau. Foi mais ou menos nessa altura que comecei o projeto Micro Audio Waves, com o Morgado, que durou 10 anos. O problema é que na eletrónica temos de passar muito tempo agarrados ao computador, e passado esse tempo todo percebi que estava um pouco saturado. Senti então necessidad­e de voltar aos palcos e à vida de estrada. Mas nunca deixei de explorar esse universo, ainda que de uma forma mais pessoal e doméstica.

E é também um regresso à improvisaç­ão?

Sim, que é algo que faço desde os 90, também. Foi quando comecei a colaborar com o Rodrigo Amado no Projeto A Máquina do Almoço Dá Pancadas, que era assim mais de free jazz e de improvisaç­ão. Durante o confinamen­to voltei a ter vontade de experiment­ar tudo isso outra vez, mas não o queria fazer sozinho, porque a música é, acima de tudo, um pretexto para estarmos com os amigos e as pessoas de quem gostamos. O bom deste disco é que junta isso tudo: a eletrónica, a improvisaç­ão, um lado mais melódico ao qual não dá para fugir, porque já são muitos anos de pop-rock (risos). E também muitos amigos.

E os Rádio Macau ainda têm futuro?

Para já, estão parados. Já houve possibilid­ade de voltarmos, mas ainda não surgiu a ocasião certa. Não somos pessoas nostálgica­s, portanto, para regressarm­os, teríamos de ter algo novo para mostrar às pessoas, porque não nos queremos tornar numa banda de versões de nós próprios. Todos somos pessoas diferentes hoje, pelo que não faz muito sentido andarmos a tocar as mesmas músicas da mesma forma que as tocávamos há 20 ou 30 anos. Mas se surgir um desafio novo e criativo que nos faça voltar a juntar, aí sim, os Rádio Macau poderão voltar.

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Foi um disco feito sozinho, mas que nesta primeira apresentaç­ão terá um formato mais próximo de uma banda?

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