Diário de Notícias

Lisboa celebrou missa pelos que morreram sós

POBREZA Só em Lisboa morreram 212 pessoas, no último ano, cujo corpo não foi reclamado. PR apela a ação cristã contra “problema dos problemas”.

- DN/LUSA

AIgreja de São Roque celebrou ontem, Dia Internacio­nal da Erradicaçã­o da Pobreza e dos Sem-Abrigo, uma missa em memória de todos aqueles que morrem e cujo cadáver não é reclamado ao Instituto de Medicina Legal. Na cidade de Lisboa, no espaço de um ano, 212 pessoas morreram nas ruas, nos hospitais ou em pensões e quartos alugados na mais absoluta solidão.

Um número recorde desde 2004, segundo a estatístic­a realizada pela Irmandade da Misericórd­ia e de São Roque de Lisboa, que acompanha estes esquecidos até à última morada em funerais suportados pela Santa Casa da Misericórd­ia de Lisboa. A Irmandade da Misericórd­ia e de São Roque de Lisboa acompanhou 2229 funerais desde maio de 2004, quando iniciou esta ação social .

Durante o lançamento do livro Que fizeste do teu irmão?, que reúne textos do malogrado Alfredo

Bruto da Costa sobre a fé e a pobreza, o Presidente da República considerou a pobreza “o problema dos problemas”. Marcelo Rebelo de Sousa, que condecorou postumamen­te o antigo ministro dos Assuntos Sociais e ex-provedor da Santa Casa com a Ordem da Liberdade, apelou para o empenhamen­to dos cristãos em agir e lembrou que a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza tem como objetivo “a saída da pobreza de 360 mil portuguesa­s e portuguese­s até 2030” e observou: “Estamos a falar em mais de 50 anos ou a caminho de 50 anos para atingirmos os 2 milhões e 200 mil”, o número de pobres que Portugal terá neste momento, segundo o chefe de Estado. “Temos, portanto, um problema enorme, um problema primeiro, o problema dos problemas.”

Segundo uma análise feita pela Pordata, com base em dados do Instituto Nacional de Estatístic­a, mais de 1,6 milhões de portuguese­s vivem abaixo do limiar da pobreza, ou seja, com menos de 540 euros por mês, uma realidade que afeta famílias numerosas mas também quem vive sozinho, idosos, crianças, estudantes e trabalhado­res.

Ter um emprego não é garantia de não se ser pobre e Portugal está entre os países da Europa com maior risco de pobreza entre trabalhado­res. Em 2020, 9,5% da população empregada era considerad­a pobre, ou seja, vivia com rendimento­s inferiores ao limiar da pobreza, que nesse ano situava-se nos 540 euros mensais. Apesar de em

2019 haver registo de mais de 1,6 milhões de pobres, o Rendimento Social de Inserção

(RSI) só foi atribuído a

16,7% dessas pessoas.

 ?? ?? A missa solene decorreu na Igreja de São Roque.
A missa solene decorreu na Igreja de São Roque.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal