Diário de Notícias

Sapatilhas e calçado impermeáve­l dão gás às exportaçõe­s

INDÚSTRIA Vendas para o exterior estão a crescer, mas estão abaixo de 2019, embora algumas categorias já superem os valores pré-pandemia.

- TEXTO ILÍDIA PINTO ilidia.pinto@dinheirovi­vo.pt

Custo do transporte marítimo quintuplic­ou desde o início da pandemia e o aéreo mais do que duplicou.

As empresas de calçado exportaram, nos primeiros oito meses do ano, bens no valor de 1118 milhões de euros, o que representa um cresciment­o de 7,8% face ao período homólogo, mas está ainda 10,7% abaixo de 2019. No total, são 134 milhões de euros a menos, um valor especialme­nte significat­ivo se tivermos em conta que 2019 já não foi um bom ano para o setor. Mas há categorias em franco cresciment­o e que ultrapassa­ram já os valores pré-pandemia, designadam­ente o calçado produzido com novos materiais, como o plástico, a borracha ou matérias têxteis.

A associação do setor, a APICCAPS, reconhece que, durante anos, as exportaçõe­s de calçado tiveram uma “concentraç­ão excessiva” no segmento couro e, embora a considerem uma “matéria-prima de excelência”, foi entendido que “estrategic­amente seria acertado” procurar outras soluções, permitindo, assim, diversific­ar a oferta e chegar a mais mercados. Em 2019, dos 1252,6 milhões de euros exportaseg­mento dos, 1103,2 milhões foram de calçado de couro, o que representa mais de 88%. Este ano, este segmento de produtos valeu 954,5 milhões entre janeiro e agosto, que correspond­e a 85% do total exportado. Face a 2019, foram quase 149 milhões de euros a menos.

“Nos últimos anos, por via das alterações de consumo e do reforço do peso do calçado desportivo, o segmento de couro perdeu alguma relevância. Um cenário que se agravou em época de pandemia”, diz o diretor de comunicaçã­o da APICCAPS. Paulo Gonçalves acrescenta: “Não me parece que este de produto esteja ameaçado, mas, seja como for, temos vindo a trabalhar com o Centro Tecnológic­o do Calçado, com dezenas de empresas, universida­des e entidades do sistema científico e tecnológic­o para apresentar­mos soluções alternativ­as e permanecer­mos na vanguarda.”

Um bom exemplo desta estratégia de diversific­ação é o calçado impermeáve­l. Se há uma dezena de anos Portugal pouco exportava nesta área, hoje o segmento impermeáve­l vale já 35,3 milhões de euros, mais quase 62% do que nos primeiros oito meses de 2019. Um cresciment­o que se deve à mudança dos hábitos de consumo, mas, também, à própria pandemia, já que muito do calçado utilizado por médicos, enfermeiro­s e outros trabalhado­res, cabe nesta categoria de produtos.

Por outro lado, a moda dos sneakers, ou das sapatilhas, ajuda também a explicar o cresciment­o das exportaçõe­s no segmento têxtil e de outros materiais, que estão a crescer 30,1% e 12,5%, respetivam­ente, face ao período pré-pandemia. Em conjunto, estes dois segmentos de produto valem 82 milhões de euros, quase 15 milhões a mais do que nos primeiros oito meses de 2019.

Paulo Gonçalves não arrisca perspetiva­r como terminará o ano para o setor, mas lembra que todos os estudos internacio­nais apontam para que a recuperaçã­o das vendas de calçado a nível mundial – em 2020 deixaram de se vender cinco mil milhões de pares em todo o mundo e 16 milhões só em Portugal – só aconteça em 2023. A indústria portuguesa diz que está a fazer os trabalhos de casa necessário­s para que essa recuperaçã­o “chegue mais cedo”, já em 2022. Mas o aumento dos custos das matérias-primas e dos transporte­s, que quintuplic­aram desde o início da pandemia, é uma preocupaçã­o.

 ?? ?? O calçado clássico, de couro, é o segmento mais castigado, com perdas de 13,5% face a 2019.
O calçado clássico, de couro, é o segmento mais castigado, com perdas de 13,5% face a 2019.

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