Falar de pandemia não está na moda... mas “está a desenhar-se” a sexta vaga
Ede repente, à volta de cada um de nós, eis que voltam a surgir casos de contágios por covid-19 como cogumelos. Portugal já deu exemplo ao mundo em matéria de gestão do processo de vacinação e controlo da pandemia, mas isso são tempos que já lá vão. Em pleno maio de 2022, mais de dois anos depois de a pandemia chegar a Portugal, "começa a desenhar-se" a sexta vaga, alerta um novo relatório do Instituto Superior Técnico. O mesmo indica que a incidência média a sete dias aumentou de 8763 para 14 267 casos desde 19 de abril, o que se deve "à retirada abrupta do uso de máscara em quase todos os contextos e à nova linhagem BA.5 da variante Ómicron que começa a instalar-se" no país.
Nas últimas semanas, em dois eventos públicos em que participei e a diretora-Geral de Saúde também, reparei que Graça Freitas continuava a usar a sua máscara, do princípio ao fim dosencontros, apesar do fim da obrigatoriedade generalizada do seu uso desde 22 de abril. Mesmo sem o dizer, a responsável de Saúde mostrava assim, através da utilização da proteção, que a pandemia ainda não acabou e que poderá ser necessário manter algumas cautelas.
O índice de transmissibilidade (Rt) já tocou 1,17 e daí o relatório do Técnico falar em sexta vaga. Pior: ela está “a desenhar-se de forma muito intensa", alerta o documento. A eliminação repentina do uso de máscara aumentou as infeções em Portugal. A medida pode ter sido acertada, o próprio relatório também o admite, mas está a provocar um "excesso de contágios".
À exceção dos estabelecimentos de saúde, incluindo farmácias comunitárias, assim como nos lares de idosos, serviços de apoio domiciliário, unidades de cuidados continuados e transportes coletivos de passageiros, a máscara entrou em desuso de um dia para o outro.
Os mais vulneráveis serão alvos preferenciais da nova variante e os especialistas admitem que a recente subida de casos positivos de SARS-CoV-2 "provavelmente contribuirá" para o aumento da mortalidade nos próximos 30 dias. Reforçar a monitorização e passar mensagem de que a pandemia ainda não terminou pode não ser demais. Considera o IST que "para efeitos de análise, previsão e de comunicação, o facto de a Direção-Geral da Saúde apresentar os dados dos internamentos à sexta-feira com dados relativos à segunda-feira anterior constitui um défice da informação devida ao público e à comunidade médica e científica que evita a prevenção e a tomada de medidas por parte dos serviços". O IST tem sido um aliado importante no combate à pandemia e os seus alertas devem ser lidos com seriedade e não cair em saco roto.