Diário de Notícias

Violência no funeral da jornalista que os israelitas são acusados de matar

JERUSALÉM Caixão de Shireen Abu Akleh quase caiu ao chão quando a polícia israelita arrancou as bandeiras palestinia­nas da multidão.

- TEXTO SUSANA SALVADOR susana.f.salvador@dn.pt

Milhares de palestinia­nos encheram as ruas de Jerusalém para o funeral da veterana jornalista da Al-Jazeera Shireen Abu Akleh, que ficou marcado por momentos de violência. À saída do hospital francês de Saint Louis, a polícia israelita quase derrubou o caixão, ao arrancar as bandeiras palestinia­nas – há muito que Israel as tenta proibir – e tentar dispersar a multidão que acusou de entoar “cânticos de incitação nacionalis­ta”. Novos confrontos registaram-se junto à Catedral da Anunciação na CidadeVelh­a onde decorreram as exéquias, após a política tentar bloquear o acesso.

Shireen Abu Akleh, de 51 anos, morreu na quarta-feira quando fazia a cobertura de uma operação militar israelita num campo de refugiados de Jenin, na Cisjordâni­a. A Al-Jazeera, onde trabalhava há 25 anos, tal como a Autoridade Palestinia­na, acusam Israel de a ter matado “a sangue frio”, já que a jornalista usava um colete que a identifica­va como sendo membro dos media e foi atingida a tiro no rosto.

O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, disse na altura que “provavelme­nte” Abu Akleh tinha morrido vítima de fogo palestinia­no. Circulou um vídeo que mostrava militantes a disparar, mas que não há provas de ter sido filmado próximo de onde estava Abu Akleh.

O exército israelita já divulgou as conclusões da sua investigaç­ão, dizendo que “a conclusão do relatório preliminar é que não é possível determinar a origem do tiro que atingiu e matou a jornalista”. Ainda assim, admite a possibilid­ade que o tiro possa ter partido de um soldado israelita. “A investigaç­ão mostra duas possibilid­ades sobre a origem do tiro”, segundo o comunicado. A primeira é que teve origem nos “disparos maciços de atiradores palestinia­nos [contra soldados israelitas], que envolveu centenas de balas disparadas de diferentes lugares”. A outra opção “é que durante o tiroteio, um dos soldados tenha disparado alguns tiros de um jipe usando uma mira telescópic­a contra um terrorista que estava a disparar contra o seu veículo”.

Os israelitas dizem que uma investigaç­ão conjunta com os palestinia­nos, que permitisse terem acesso à bala fatal para efetuarem exames forenses, permitiria descobrir a verdade. Mas os palestinia­nos rejeitam essa possibilid­ade. A comunidade internacio­nal apela a uma investigaç­ão independen­te, com os EUA a oferecerem a sua ajuda. Abu Akleh, uma cristã palestinia­na nascida na ocupada Jerusalém Oriental, tinha também nacionalid­ade norte-americana. Foi enterrada ontem no Cemitério Protestant­e do Monte Sião, ao lado dos pais. Na quinta-feira, tinha recebido honras semelhante­s a um funeral de Estado no complexo do presidente da Autoridade Palestinia­na, Mahmoud Abbas, em Ramallah.

“A voz dela entrava em todas as casas e a sua perda é uma ferida nos nossos corações”, disse uma das pessoas que participar­am nas cerimónias fúnebres, citada pela AFP. Ao longo de 25 anos na Al -Jazeera, a jornalista e correspond­ente em Jerusalém Oriental tornou-se num rosto conhecido na estação do Qatar.

Relatório preliminar da investigaç­ão do exército israelita diz que não é possível determinar a origem do tiro, mas admite que possa ter partido de soldado israelita.

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A polícia israelita à saída do caixão de Shireen Abu Akleh do hospital em Jerusalém.

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