Violência no funeral da jornalista que os israelitas são acusados de matar
JERUSALÉM Caixão de Shireen Abu Akleh quase caiu ao chão quando a polícia israelita arrancou as bandeiras palestinianas da multidão.
Milhares de palestinianos encheram as ruas de Jerusalém para o funeral da veterana jornalista da Al-Jazeera Shireen Abu Akleh, que ficou marcado por momentos de violência. À saída do hospital francês de Saint Louis, a polícia israelita quase derrubou o caixão, ao arrancar as bandeiras palestinianas – há muito que Israel as tenta proibir – e tentar dispersar a multidão que acusou de entoar “cânticos de incitação nacionalista”. Novos confrontos registaram-se junto à Catedral da Anunciação na CidadeVelha onde decorreram as exéquias, após a política tentar bloquear o acesso.
Shireen Abu Akleh, de 51 anos, morreu na quarta-feira quando fazia a cobertura de uma operação militar israelita num campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia. A Al-Jazeera, onde trabalhava há 25 anos, tal como a Autoridade Palestiniana, acusam Israel de a ter matado “a sangue frio”, já que a jornalista usava um colete que a identificava como sendo membro dos media e foi atingida a tiro no rosto.
O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, disse na altura que “provavelmente” Abu Akleh tinha morrido vítima de fogo palestiniano. Circulou um vídeo que mostrava militantes a disparar, mas que não há provas de ter sido filmado próximo de onde estava Abu Akleh.
O exército israelita já divulgou as conclusões da sua investigação, dizendo que “a conclusão do relatório preliminar é que não é possível determinar a origem do tiro que atingiu e matou a jornalista”. Ainda assim, admite a possibilidade que o tiro possa ter partido de um soldado israelita. “A investigação mostra duas possibilidades sobre a origem do tiro”, segundo o comunicado. A primeira é que teve origem nos “disparos maciços de atiradores palestinianos [contra soldados israelitas], que envolveu centenas de balas disparadas de diferentes lugares”. A outra opção “é que durante o tiroteio, um dos soldados tenha disparado alguns tiros de um jipe usando uma mira telescópica contra um terrorista que estava a disparar contra o seu veículo”.
Os israelitas dizem que uma investigação conjunta com os palestinianos, que permitisse terem acesso à bala fatal para efetuarem exames forenses, permitiria descobrir a verdade. Mas os palestinianos rejeitam essa possibilidade. A comunidade internacional apela a uma investigação independente, com os EUA a oferecerem a sua ajuda. Abu Akleh, uma cristã palestiniana nascida na ocupada Jerusalém Oriental, tinha também nacionalidade norte-americana. Foi enterrada ontem no Cemitério Protestante do Monte Sião, ao lado dos pais. Na quinta-feira, tinha recebido honras semelhantes a um funeral de Estado no complexo do presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, em Ramallah.
“A voz dela entrava em todas as casas e a sua perda é uma ferida nos nossos corações”, disse uma das pessoas que participaram nas cerimónias fúnebres, citada pela AFP. Ao longo de 25 anos na Al -Jazeera, a jornalista e correspondente em Jerusalém Oriental tornou-se num rosto conhecido na estação do Qatar.
Relatório preliminar da investigação do exército israelita diz que não é possível determinar a origem do tiro, mas admite que possa ter partido de soldado israelita.