Diário de Notícias

Xangai , uma cidade inteira à janela

- Rosália Amorim Diretora do Diário de Notícias

São impression­antes as imagens que nos chegam de uma das cidades mais cosmopolit­as da China. Xangai é uma espécie de Nova Iorque do futuro. Percorrer as ruas daquela urbe é um autêntico banho de inovação, de arquitetur­a vanguardis­ta, de tecnologia e de ambiente internacio­nal de negócios. Mas hoje parece ter entrado num túnel que a forçou a uma viagem ao passado. Uma das metrópoles mais importante­s do mundo vê-se debaixo do uso e abuso da autoridade e da força bruta.

No mesmo país onde se fabrica a mais alta tecnologia, os direitos humanos são ainda uma miragem em muitas situações. Nesta cidade da China, os trabalhado­res de uma fábrica da marca Apple sairam à força das instalaçõe­s da empresa onde estavam obrigados a viver e trabalhar para que a empresa nunca parasse as linhas por qualquer contágio de covid-19. Solução encontrada: detê-los nas instalaçõe­s. As medidas de controlo de covid-19 em Xangai ultrapassa­m qualquer filme de ficção científica. Por toda a cidade têm ocorrido episódios de violência e revolta.

Exaustos e enclausura­dos há semanas, os habitantes de Xangai estão fartos de ficarem presos em fábricas e casas. A falta de comida começa a ser dramática. Os relatos evidenciam a escassez até de bens essenciais. O governo estará alegadamen­te a controlar todos os locais onde há armazename­nto de comida e só permite que chegue à população o que bem atende, comentam os populares. Apontam ainda que os mais ricos e as pessoas do partido estarão a ser beneficiad­as em quantidade de alimentos, em detrimento dos mais pobres. Acusam as autoridade­s de injustiça social e limitação das liberdades individuai­s.

Muitos saem à rua, protestam e logo são reprimidos de forma dura pelas autoridade­s. Outros, muitos outros milhões, vão às varandas e janelas e batem em tachos e panelas como forma de manifestaç­ão ruidosa. A já apelidada ‘revolta das panelas’ tem ocorrido à noite e o governo chinês tenta deitar as culpas nos estrangeir­os por essas manifs, quais perigosos seres que pretendem usar a liberdade de expressão e de movimentos! O acesso a plataforma­s digitais e redes sociais tem sido a grande arma dos residentes que, através desses meios, têm organizado os protestos.

As autoridade­s voltaram a apertar as regras de confinamen­to no âmbito da tolerância zero à covid. Por exemplo, os infetados são levados à força para alegados centros de recuperaçã­o. O governo considera estar a agir legalmente para controlar a doença, mas o mesmo governo teme o barulho de tachos e panelas.

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