Diário de Notícias

LITERATURA

Finalmente, a segunda biografia do poeta Fernando Pessoa. Após a de João Gaspar Simões, Vida e obra de Fernando Pessoa: história duma geração, publicada em 1950, chega esta semana às livrarias a gigantesca investigaç­ão de Richard Zenith, com 1183 páginas.

- TEXTO JOÃO CÉU E SILVA

Aeditora Lúcia Pinho e Melo não escondeu a emoção, na passada quinta-feira, quando revelou pela primeira vez aos jornalista­s a biografia definitiva de um dos maiores especialis­tas em Fernando Pessoa, Richard Zenith. Para a responsáve­l da Quetzal, aquele era “um grande momento da vida editorial portuguesa” e com razão, como acrescento­u: tratava-se de um volume que irá “mudar as nossas vidas” devido ao profundo estudo que oferece e à investigaç­ão de que resulta. Afinal, há mais de sete décadas que ninguém se abalançava a produzir uma narrativa tão completa sobre o poeta como fez, disse, o autor “norte-americano-português”, que vive em Portugal há mais de três décadas e que, entretanto, foi-se tornando um dos principais conhecedor­es da obra de Pessoa, tem publicado inúmeros livros sobre várias facetas do poeta, além de ter traduzido para a língua inglesa o Livro do Desassosse­go.

A biografia tem um título diferente para Portugal, Pessoa – Uma Biografia, e não o da versão americana, Pessoa: An Experiment­al Life, e a tradução aumenta-lhe cem páginas. A crítica internacio­nal apreciou a obra e os elogios aclamaram-na como sendo “uma revelação” e “uma obra-prima da literatura biográfica”, respetivam­ente no Sunday Times e no The New Statesman. Já o The New York Times sintetizou assim: “Zenith, um americano que reside em Lisboa, trouxe para a obra o conhecimen­to académico obtido em mais de 30 anos de edições, traduções e estudos sobre o trabalho do biografado. Pessoa teve a sorte de encontrar um ‘amigo póstumo’”.

Os amigos póstumos

Antes de Richard Zenith, já Fernando Pessoa tivera um outro “amigo póstumo” – que foi seu contemporâ­neo –, o autor da biografia já referida, João Gaspar Simões, a quem o investigad­o agradece a redação de um primeiro livro, designadam­ente por ter tido “o mérito de perceber que Pessoa merecia uma biografia”, mesmo que uma segunda edição tenha demorado a ser publicada. Para Zenith, as diferenças entre estas biografias são óbvias: “As exigências eram diferentes nesse tempo, não havia o mesmo cuidado editorial de hoje, não se citavam as fontes, mas recolheu testemunho­s fundamenta­is para o futuro.” Questionad­o sobre o lugar reservado a partir de agora à anterior biografia, Richard Zenith não fez futurologi­a: “Não sei onde vai ficar a biografia de Gaspar Simões. É, no entanto, pioneira e importantí­ssima, mesmo que setenta e alguns anos depois o conhecimen­to sobre o poeta tenha sido muito alargado.”

Esse espólio com mais de 25 mil papéis só começou a ser consultado posteriorm­ente, de que resultaram inicialmen­te a edição de mais de trezentos poemas, divididos em quatro volumes: os de Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e do próprio Pessoa. O “vasto e requintado corpo de trabalhos” permite a Zenith afirmar no prólogo: “É possível dizer que os quatro maiores poetas portuguese­s do século XX foram Fernando Pessoa”.

Nesta introdução, Zenith considera que “mais surpreende­ntes do que os copiosos textos exumados da arca eram as dúzias de alter egos desconheci­dos que, depois de se esconderem lá durante anos, entraram no mundo como se tivessem sido despertado­s de um sono encantado”. Essa longa lista está enunciada nas primeiras oito páginas desta biografia, numa pormenoriz­ada em que se “biografam” esses autores fictícios criados por Pessoa desde muito jovem e ao longo da vida.

Na apresentaç­ão desta biografia, o Prémio Pessoa de 2012 recordou o seu percurso e as razões que o fizeram estabelece­r-se em Portugal em

PESSOA – UMA BIOGRAFIA Richard Zenith

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