NATO. Pouca inteligência ou muita ingenuidade?
Q “uem levou a Finlândia e a Suécia para a NATO foi o senhor Putin”, afirmou Henrique Gouveia e Melo, Chefe do Estado-Maior da Armada, ontem em conversa com o Diário de Notícias e a TSF. O almirante, na primeira grande entrevista desde que foi nomeado, em dezembro, afirma ter sido um pedido de adesão inevitável. “Foi uma evidência, dois países que eram neutros sentiram que o mundo na região Europa era demasiado perigoso para manter a neutralidade, quando essa neutralidade está na fronteira.” Sublinhou que “é fácil ser neutro quando se está no centro da NATO, rodeado de países da NATO. Olhando para a geografia, para o terror que esta invasão criou, para a desestruturação de relações internacionais e para a incerteza que traz às populações, o desfecho é o mais natural”.
Recordo as palavras do Chefe do Estado-Maior da Armada a propósito das declarações de Joe Biden. O presidente dos Estados Unidos deixou um recado a Putin: a entrada de “novos membros na NATO não é ameaça para nenhuma nação”. A adesão da Finlândia e da Suécia à NATO tem o “total apoio dos EUA”, reforçou, e “é uma vitória para a democracia”. Para o presidente (ainda) mais poderoso do mundo, Finlândia e Suécia “cumprem todos os requisitos para entrar, e mais alguns”, na Aliança. Que não restem dúvidas. Se as houvesse, Biden disse mais: já se iniciou, esta quinta-feira, o processo para que o Congresso dos Estados Unidos ratifique “rapidamente” os pedidos de entrada desses países nórdicos na Aliança Atlântica, requisito necessário para concluir o processo de adesão. O “total apoio” dos EUA é também o apoio da maioria das nações do “primeiro mundo”.
Pensar que o novo status quo permitiria manter a neutralidade mesmo nas barbas de Vladimir Putin seria pouca inteligência ou muita ingenuidade. Os dois países nórdicos não são uma coisa nem outra, ou não fossem descendentes dos vikings.
A democracia soma mais uma vitória no campo político contra a ditadura. Para o mundo civilizado, só a invasão russa da Ucrânia empurrou a Finlândia e a Suécia para este caminho. E, pesando prós e contras, a NATO até sai reforçada. Hoje a Aliança Atlântica é relevante e necessária. E do lado da Marinha portuguesa, Henrique Gouveia e Melo garante que tem os meios comprometidos com a NATO prontos para a chamada. Só faltam mais meios e mais orçamento, mas isso digo eu. Num ano em que a Europa enfrenta o terror da guerra, sem que o final se vislumbre, a defesa nacional merece maior atenção.