A Direção-Geral da Saúde voltou ontem a atualizar o número de casos referentes ao dia 19, passando estes de 31.861 para 33.017, e os óbitos de 30 para 33.
“Neste momento, um dos aspetos importantes é fazer os reforços recomendados, para se conseguir obter uma proteção elevada contra a doença grave na população idosa e adulta não idosa.”
ves da doença. As pessoas adultas, mesmo não sendo idosas, devem saber que, apesar de terem um risco reduzido de desenvolver formas severas da doença, existem outras pessoas à sua volta, destas faixas etárias, que podem desenvolver complicações que são evitáveis com o reforço.
A meta de obter em breve uma vacina que prevenisse a transmissão está agora mais longe?
A capacidade de impedir a transmissão depende de duas variáveis importantes: da efetividade das vacinas, a sua capacidade de evitar a infeção; e da transmissibilidade do vírus. Durante estes dois anos de pandemia temos vindo a assistir a um aumento progressivo do R0 (reprodução viral) do SARS-CoV-2, que representa a sua transmissibilidade. No início da pandemia, o vírus tinha um R0 de dois a três, por isso se disse, na altura em que apareceram as vacinas, que se conseguíssemos vacinar 70% a 80% da população conseguiríamos alcançar um impacto significativo na transmissão, eventualmente atingindo a imunidade de grupo. Contudo, o que se verificou desde essa altura é que as variantes que foram surgindo, com transmissibilidade maior, aumentaram o R0 e tornaram irrealista pensar-se que vamos conseguir ter um impacto da mesma ordem na transmissão da doença.
Ou seja, também não se atingirá a imunidade de grupo tão desejável. No contexto atual, com as variantes que existem, é irrealista pensar-se que isso será possível de alcançar para breve.
Mesmo havendo 92,1% da população residente em Portugal com o esquema de vacinação primário e mais de 60% com as doses de reforço?
Mesmo com essa cobertura excecional. Mas essa cobertura elevada no nosso país tem vantagens significativas, porque até para a população que não é vulnerável, como os adultos jovens, adolescentes ou até crianças, sabemos que a vacinação reduz muito a probabilidade de surgimento dos casos raros de complicações graves, razão pela qual os estudos científicos têm sido unânimes em sugerir que a vacinação é muito vantajosa para todas as faixas populacionais. Em relação à população mais vulnerável, havendo um risco maior, é necessário haver maior proteção em momentos críticos, como o que está a acontecer agora, com o maior número de casos, e que levou à recomendação de um segundo reforço para a faixa acima dos 80 anos.
Pouco ou nada se sabe das vacinas de 2.ª geração. Mas como se espera que estas atuem ao nível de transmissão? É seguro dizer que elas irão abolir a administração das que já existem e que reduzirão a doença grave e as mortes?
Isso irá depender dos resultados dos estudos necessários para que essas vacinas possam ser autorizadas e utilizadas. São esses resultados que irão mostrar qual a extensão do benefício trazido por essas vacinas e a melhor forma de serem utilizadas. Nomeadamente se serão utilizadas apenas na população mais vulnerável ou em determinados segmentos da população. Mas são precisamente estes resultados que ainda desconhecemos. Muitos especialistas afirmaram no final de 2021 que só com as vacinas de 2.ª geração poderíamos respirar de alívio em relação à pandemia. Como imunologista e especialista em vacinas, considera que é mesmo assim?
Temos vindo a assistir a uma evolução na nossa capacidade de conviver com o vírus e muito da nossa vida já foi normalizada ao longo deste ano com a abolição de muitas das medidas restritivas que existiam na altura dessas afirmações. Hoje, já andamos na rua sem máscara e à medida que se for evoluindo e mais vacinas surgirem, com impacto significativo, essa normalização será ainda maior. Mas penso que nesta altura já é possível fazer uma vida com menos restrições.
Neste momento já não há falta de vacinas, mas uma boa parte do mundo continua sem acesso a elas. A questão da desigualdade será sempre difícil de resolver? Sou especialista em imunologia e tenho pouco conhecimento sobre a capacidade de distribuição de vacinas pelo mundo, mas considero que a questão da desigualdade no acesso às vacinas foi algo que não correu nada bem nesta pandemia. E é importante que aprendamos com este processo, para que em situações futuras o acesso seja mais equitativo. casos de infeção.
foi o novo máximo que Portugal voltou a atingir, depois da última vaga em janeiro e fevereiro. A nova sublinhagem da variante Ómicron, BA.5, será a responsável pelo disparar do número de casos, já que em menos de um mês se tornou dominante, destronando a BA.2. E quando assim é, quer dizer que “é muito mais contagiosa do que a anterior”, explicaram ao DN. A equipa da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que faz a modelação da evolução da doença desde o início da pandemia, estima que na próxima semana o país possa atingir um novo máximo de casos, entre os 35 mil e os 40 mil, considerando no entanto, pela sua análise diária, “muito pouco provável que se atinjam os 60 mil casos”, previstos pelo INSA e referidos pela ministra da Saúde, Marta Temido, esta semana. Segundo explicou ao DN o professor Carlos Antunes, “para chegarmos aos 60 mil casos no final do mês, como referiu a ministra, já teríamos de ter registado esta semana os 40 mil casos e na próxima 50 mil, mas não é isso que indica a nossa análise, que tem por base os dados reais diários”. Até porque, referiu, “neste momento o R(t) nacional, índice de transmissibilidade, já deixou de subir, o que quer dizer que o ritmo de transmissibilidade está a desacelerar e que nos iremos aproximar do pico desta onda no final do mês ou início de junho – a nossa previsão indica os dias 28 ou 29 –, para depois se iniciar a descida”.
O professor de Ciências confirmou que o R(t) nacional atingiu nas duas últimas semanas o máximo de 1,26. A região Norte, que foi a primeira a entrar nesta nova onda, chegou a registar um R(t) de 1,28 e Lisboa eVale do Tejo de 1,21, estando as restantes regiões ainda abaixo de 1,20. Ao dia de ontem, e ainda com dados do dia 17, o R(t) nacional estava em 1,16. “A grande incerteza em relação ao R(t) é o ritmo da descida e o momento em que irá cruzar a linha 1,0, mas o número de casos dos próximos dias irá confirmar isso”, referiu.
Por agora, e de acordo com a análise da equipa da Universidade de Lisboa, Portugal está com uma média diária de 27.500 casos. A taxa de incidência a 14 dias é da ordem dos 3100 casos por 100 mil habitantes, mas “já se verifica uma desaceleração da transmissão”, destacou o analista. Ao nível de óbitos, mantém-se uma média diária de 31 óbitos e a taxa de mortalidade por milhão de habitante a 14 dias é de 34. Segundo assinalou o professor, os óbitos irão atingir o pico mais tarde do que o número de casos, sendo expectável que possam atingir um máximo de 40 e até de 50 dentro de duas semanas, como alertou Marta Temido. A taxa de positividade da testagem está agora em 53%, novo aumento nos últimos dias.
Nos dias já contabilizados desta semana, de 16 até 19, o país atingiu 38.573 casos, 34.424, 31.861 e 29.916, respetivamente. Quanto aos óbitos, foram 29, 29, 30 e 27. Na semana passada, nos mesmos dias, os números oscilaram entre os 22 mil e os 29.755, enquanto os óbitos oscilaram entre os 25 e os 29. Para Carlos Antunes, os internamentos refletiram a tendência da incidência, ultrapassando a barreira dos 1100 e dos 1200, com a região Norte a atingir as mais de 600 camas ocupadas em enfermarias e as 40 em unidades de cuidados intensivos. Um aumento que, assinalou o professor, começa agora a sentir-se em Lisboa e Vale do Tejo, enquanto as regiões do Centro, Alentejo e Algarve se mantêm estáveis.
Recorde-se que a revisão de critérios na contabilização de casos com covid-19, anunciada nesta quinta-feira pela Direção-Geral da Saúde, aumentou o total de casos reportados desde o início da pandemia quase em 243.993, até ao dia 17 de maio, sendo o total de 4.425.533. E fez o mesmo ontem em relação aos casos (passaram de 31.861 para 33.017) e mortos (30 para 33) de dia 19. Isto porque a partir de agora passam a ser contabilizadas as reinfeções, e não só a primeira infeção de cada utente. Esta mudança tem a ver também com a alteração de critérios da OMS, dado que esta nova variante tem levado a um aumento de reinfeções.