Diário de Notícias

Mais impostos, mais despesa e menos talento

- Rosália Amorim Diretora do Diário de Notícias

Acarga fiscal sobre o trabalho tornou a subir em 2021, pelo terceiro ano consecutiv­o, colocando Portugal como o 10º país pior entre 38 do grupo da OCDE, ou seja, onde é maior a fatia de custos do trabalho entregue ao Estado sob a forma de impostos e contribuiç­ões sociais. Quanto mais impostos são cobrados em Portugal, mais cresce a despesa pública. A pescadinha de rabo na boca é real e não apenas uma expressão popular portuguesa ou uma metáfora.

Os funcionári­os públicos têm vindo a aumentar em número no nosso país, mas também o número de pessoas a trabalhar nos gabinetes ministeria­is. Até no governo – apesar do primeiro-ministro ter prometido uma “task force” – poucos foram os cortes na nova legislatur­a. No Parlamento o número de deputados mantém-se sempre igual, quer estejamos em tempos de vacas gordas ou de vacas magras e apesar da população em Portugal ser cada vez menos, a representa­tividade parlamenta­r é inamovível – esta é uma discussão que recorrente­mente vem para cima da mesa , mas, na prática, nunca há a coragem política de mudar. E reduzir impostos em Portugal, como os trabalhado­res desejam e precisam, implicaria ter a determinaç­ão de reduzir na despesa. Já é sabido que os pratos da balança orçamental têm de estar sempre equilibrad­os, logo só é possível atuar na rubrica da despesa e não mais na da carga fiscal.

De acordo com o relatório anual Taxing Wages da OCDE, no ano passado a carga fiscal sobre o conjunto dos custos do trabalho atingiu os 41,8%, subindo 0,3 pontos percentuai­s, com o país a escalar mais um patamar no ranking das economias onde impostos e contribuiç­ões sociais pagas por empregador­es e trabalhado­res mais pesam na folha salarial. A percentage­m apurada para Portugal compara com uma média de 34,6% na OCDE (menos 0,06 pontos percentuai­s que um ano antes), grupo onde 24 países aumentaram carga fiscal sobre o trabalho no último ano, havendo outros 12 com registo de diminuição e um apenas no qual o indicador se manteve, a Colômbia.

Além das contas públicas, os elevados impostos sobre o trabalho em Portugal afastam o talento deste destino. Um jovem qualificad­o que possa auferir um salário melhor no estrangeir­o e pagar menos impostos não pensa duas vezes em fazer carreira fora. No final do dia, sol, praia e boa gastronomi­a não pagam as contas de casa e o país perde competitiv­idade. Hoje sabemos que Portugal é atrativo para nómadas digitais, mas também esses, na maioria, recebem salários de empresas sediadas noutros destinos e pagam impostos fora. O que fica para Portugal?

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