Diário de Notícias

Imigração ilegal. Rota de Marrocos para o Algarve assumida pela primeira vez

O Relatório de Segurança Interna diz que a “rota de El Jadida para Faro” foi utilizada pelos migrantes marroquino­s para evitar o controlo das autoridade­s.

- V.M.

Arota de imigração ilegal de Marrocos para Portugal foi, pela primeira vez, assumida oficialmen­te pelas autoridade­s de segurança interna, contrarian­do a posição política do governo até agora conhecida e que refutava essa situação. No Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), apresentad­o ontem, é salientado que “a rota de El Jadida para Faro” foi “considerad­a e utilizada” para os migrantes “evitarem o controlo efetuado pelas autoridade­s marroquina­s a norte, apesar de se adivinhar uma rota de navegação mais difícil”. Assinala-se ainda que “a rota da África Ocidental teve um acréscimo de 550%, ou seja, a migração irregular para as ilhas Canárias aumentou drasticame­nte”, sendo “as principais áreas de embarque identifica­das ao longo da costa atlântica de Marrocos” – Sale, Kenitra, Mohammendi­a, El Jadida e Larache.

Entre dezembro de 2019 e setembro de 2020 desembarca­ram no Algarve 97 cidadãos marroquino­s. A 29 de março de 2021, entre 15 a 16 migrantes terão desembarca­do junto a Vila Real de António, mas só três foram detetados e detidos. E, a 11 de novembro, a Marinha acompanhou uma embarcação com 37 migrantes, ao largo de Faro, que foram depois acolhidos pelas autoridade­s.

Recorde-se que, na altura dos primeiros desembarqu­es, este fluxo migratório foi tratado politicame­nte como se não existisse e desvaloriz­ado pelo ex-ministro da Administra­ção Interna, Eduardo Cabrita, isto apesar do inquérito do Departamen­to Central de Investigaç­ão e Ação Penal (DCIAP) sobre esta rota ter sido aberto logo em 2019 (ao que se acrescenta ainda o trabalho da própria investigaç­ão do SEF e os avisos das secretas nacionais).

Em junho de 2020, quando já tinham chegado à costa portuguesa 48 migrantes, Cabrita sublinhava que Portugal não devia “cair no ridículo” de considerar que existia uma rede de imigração ilegal para o Algarve. Para o então titular da pasta da Segurança Interna, tendo em conta o número de migrantes que tinham já desembarca­do, devia “ter[-se] alguma dimensão do ridículo quando compararmo­s com aquilo que são 7500 chegadas a Espanha desde janeiro, mesmo com uma redução significat­iva de chegadas verificada­s neste ano”. Nessa mesma altura, o ministro dos Negócios Estrangeir­os, Augusto Santos Silva, considerou também que “não se pode falar de uma rota” de migração para o Algarve.

Conforme o DN noticiou, logo em outubro de 2020 a rota foi mesmo confirmada pela investigaç­ão criminal do SEF e, na sequência disso, criou-se uma task force com a GNR e com a Marinha para trabalhare­m em conjunto na prevenção e apoiarem a vigilância marítima.

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Entre dezembro de 2019 e setembro de 2020 desembarca­ram no Algarve 97 cidadãos marroquino­s.

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