Diário de Notícias

Um dos exemplos mais presentes no nosso quotidiano da aplicação de Cadeias de Markov é o algoritmo que regula o motor de busca da Google, o PageRank.

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vogais e consoantes. A 23 de janeiro de 1913, Markov resumiu as suas descoberta­s num discurso à Academia Imperial de Ciências, em São Petersburg­o, numa análise que em nada alterou a interpreta­ção literária do poema, mas que abriu uma nova direção no campo das teorias de probabilid­ades.

Eliminou toda a pontuação e espaços em branco, colocando os carateres numa sequência longa e ininterrup­ta, e veri cou que uma vogal era seguida por uma consoante em 87% das vezes, enquanto uma consoante era seguida por uma vogal 66% das vezes. Contou ainda 1104 pares de vogais e 3827 pares de consoantes; os 15 069 pares restantes consistiam de uma vogal e uma consoante, numa ordem ou noutra. Isso serviu a Markov para demonstrar que as probabilid­ades não eram aleatórias, mas sim dependente­s da letra anterior.

Mais de 100 anos depois, e com as Cadeias de Markov estabeleci­das como uma das mais poderosas ferramenta­s de modelação do mundo real, Carolina Vasconcelo­s desenvolve­u na sua tese de mestrado uma nova metodologi­a estatístic­a para refinar o processo. “Propõe uma nova generaliza­ção do modelo de Cadeias de Markov Multivaria­das que permite também introduzir variáveis exógenas ao processo e considerar o seu efeito sobre as probabilid­ades de transição entre estados”, explica. Ou seja, incorporar uma ou mais variáveis exteriores ao universo do objeto de estudo, mas que o podem condiciona­r (como ilustrado na entrada do texto).

Para testar, fez uma aplicação para modelar o retorno previsto no mercado de ações em diferentes contextos de taxas de juro. “Modelámos os retornos de mercado quando as taxas de juro tinham um valor máximo e um valor mínimo. E assim conseguimo­s ver as diferenças nas probabilid­ades em ambientes diferentes, numa economia em expansão ou numa economia em recessão”, refere.

A metodologi­a, garante o professor, “é aplicável a várias situações”. A escolha das variáveis exógenas depende “do investigad­or e do problema que tem à sua frente para analisar”. “Ignorar o efeito de variáveis exógenas significa que não detetaríam­os as mudanças das probabilid­ades de acordo com aos valores das co-variáveis. Nesse cenário, ter-se-ia uma visão limitada do processo estudado. Assim, esta abordagem permite entender como uma variável específica influencia um processo específico”, acrescenta a aluna, que também introduziu “inferência estatístic­a sobre os parâmetros” (atribuir um valor estatístic­o e um grau de incerteza a cada probabilid­ade) e, no final, deixou outro contributo, que foi “o desenvolvi­mento e implementa­ção destas metodologi­as num software open source, o R”, muito utilizado na estatístic­a. “Toda a gente pode ver o código por detrás das funções e pode utilizar aquilo que desenvolve­mos de forma gratuita, sem licenciame­nto”, adianta Carolina, revelando que “já foram feitos mais de 1100 downloads”.

As possíveis aplicações são, como já vimos “muito transversa­is” e contribuir­ão para que o futuro seja um “lugar” cada vez menos rodeado de incertezas, algo com que nem sequer Alexei Markov terá sonhado quando andou a contar vogais e consoantes no poema de Pushkin.

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