Guerra. Abertura para negociar ou o jogo do gato e do rato?
T “enho de ser realista e falar com Putin”. Palavras de Zelensky, presidente da Ucrânia, proferidas ontem. Nas entrelinhas destas declarações há um sinal simbólico de abertura, mas também há um sinal de cansaço. Zelensky sabe que há uma linha limite para a resistência e para o prolongamento (que parece infinito) desta guerra no Leste europeu. E também há balizas para a ajuda internacional, sem que se desencadeie uma III Guerra Mundial, e para os efeitos das sanções.
A situação atual no terreno, sobretudo em Donbass, continua a ser de enorme gravidade. A cidade de Severodonetsk está a ser um dos alvos de massacre pelas tropas russas, e por isso o presidente ucraniano volta a acusar a Rússia de “genocídio”. Aos olhos do povo, o corajoso Zelensky é há muito um herói, mas o mesmo povo começa a pedir que se salvem vidas dos irmãos, filhos, netos. O próximo passo terá de passar por um avanço nas negociações, assim Putin o admita também. Ninguém vai querer perder a face, mas continuar uma guerra para além dos 100 dias teria um custo inimaginável para os dois países, para a Europa, para o mundo.
Vladimir Putin também deu um sinal de abertura, ainda que muito ténue. Ontem, garantiu estar disponível para a troca de prisioneiros com a Ucrânia, mas logo aproveitou também para acusar os vizinhos de estarem a sabotar o processo de negociação. O jogo do gato e do rato ainda não acabou, mas os animais começam a ficar cansados, desidratados. Até quando aguentarão o duelo?
Os portugueses, serenos e sábios, estão preparados para um impacto prolongado da guerra. Numa sondagem realizada pela Aximage para o DN, JN e TSF e publicada esta sexta-feira, cerca de 40% diziam acreditar que o conflito irá durar mais de um ano. No mesmo dia, a ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Liz Truss, alertou que os países que apoiam Kiev devem preparar-se para o longo prazo. Ao mesmo tempo, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, acusou os países ocidentais de travarem uma “guerra total” contra a Rússia. O gato tem sete vidas e o rato não lhe fica atrás. Até quando durará a perseguição?