UCRÂNIA Refugiados. 294 em 308 concelhos acolheram proteção temporária
A resposta portuguesa à crise dos refugiados desencadeada pela invasão russa será hoje tema de debate no Parlamento. Governo invoca a seu favor elogios do chanceler Scholz.
As mulheres refugiadas são quase o dobro dos homens. Os menores são quase um terço do total.
Uma hora e 13 minutos de debate. Este vai ser o tempo que esta tarde o plenário da Assembleia da República dedicará a debater o problema do acolhimento de refugiados da Ucrânia. Haverá primeiro um debate de urgência (43 minutos), pedido pelo Chega, sobre “a garantia dos direitos e liberdades no acolhimento e integração dos refugiados ucranianos”; e depois outro, de 30 minutos, a propósito de uma comissão de inquérito “à atuação do Estado português no estabelecimento de parcerias com associações de cidadãos russos no acolhimento e integração dos cidadãos ucranianos em Portugal”, também proposta pelo partido de André Ventura.
O que já se sabe desta comissão de inquérito é que não passará do papel. A maioria PS vai chumbá-la
e serão utilizados vários argumentos para sustentar essa decisão. Por exemplo: o de que o Parlamento não tem de iniciar um inquérito ao caso de Setúbal quando estão pelo menos três em curso (um da Proteção de Dados, outro do MP e outro da Inspeção-Geral de Finanças, para já não falar de iniciativas nesse sentido da própria autarquia).
O assunto, além do mais, saiu das primeiras páginas. O PSD ameaçou, mas não se decidiu pela iniciativa de fazer retirar todos os seus vereadores do Executivo, até porque (para já) o PS não alinha nisso. O presidente da câmara, André Martins, militante do PEV eleito pela CDU, parece, por ora, enfrentar tréguas. E não fez caminho a tese de que este seria apenas um de vários casos onde os refugiados estariam a ser acolhidos e escrutinados por russos apoiantes de Putin.
Hoje o governo até poderá usar em seu favor os elogios que, há dias, António Costa ouviu do chanceler alemão Olaf Scholz. “Portugal, em particular com a sua grande comunidade ucraniana, tem desempenhado um papel exemplar nesta matéria. Este é um grande feito, caro António, e também um sinal de visão e de liderança europeia e da sua visão e liderança. Muito obrigado por isso”, disse Scholz, na cerimónia de abertura da Feira de Hannover. Mas, mesmo assim, podendo dizer-se que o acolhimento tem funcionado genericamente bem, dificilmente se poderá dizer que a situação é perfeita.
Ontem, a secretária regional da Inclusão Social e Cidadania da Madeira, Rita Andrade, admitia que a integração de refugiados no mercado de trabalho madeirense não tem corrido tão bem quanto se esperava. “Neste momento, não tem sido tão fácil a inserção profissional das pessoas com origem na Ucrânia, contrariamente ao que inicialmente tínhamos previsto”, afirmou, justificando que os primeiros ucranianos que ficaram na Madeira eram turistas e “falavam muito bem línguas”, enquanto muitos dos que foram, entretanto, chegando à região não dominam o inglês nem o português.
Além disso, a grande maioria dos refugiados na Madeira são mulheres com crianças, que não têm estrutura familiar e, por isso, apresentam maiores dificuldades de inserção no mercado de trabalho, acrescentou a governante. O que está a correr bem, assegurou, é o o ensino do português. “Aprendem muito rapidamente, já chegámos a mais de cem pessoas ucranianas a falar a língua portuguesa.”
Os números oficiais são os que se conhecem (ver coluna ao lado). Mas há mais. 4670 refugiados matricularam-se na escola (do pré-escolar ao secundário); 36 inscreveram-se no ensino superior, invocando emergência por por razões humanitárias. Foram reconhecidos 38 graus académicos. Mas a disponibilidades de acolhimento foram apenas 752. O processo tem envolvido o governo todo e até o país todo. De um total de 308 concelhos, só 14 não registaram pedidos de proteção temporária.
“Portugal, em particular com a sua grande comunidade ucraniana, tem desempenhado um papel exemplar nesta matéria. Este é um grande feito, caro António [Costa].” Olaf Scholz Chanceler da Alemanha