Diário de Notícias

Inquérito do Chega será chumbado, mas PSD admite avançar

Sociais-democratas querem ouvir o primeiro-ministro em plenário, sobre o acolhiment­o dos refugiados ucranianos, e decidirão depois se avançam com um pedido próprio.

- TEXTO SUSETE FRANCISCO susete.francisco@dn.pt

Acomissão parlamenta­r de inquérito (CPI) ao acolhiment­o de refugiados ucranianos, requerida pelo Chega, vai ser chumbada amanhã. Mas uma iniciativa idêntica pode ainda voltar ao plenário pela mão do PSD, que ontem deixou este cenário em aberto. Ao contrário do partido de André Ventura, os sociais-democratas podem impor a realização da CPI, dado que a bancada soma mais de um quinto dos deputados, o número exigido por lei para que a comissão parlamenta­r avance de forma obrigatóri­a, sem necessidad­e do aval da maioria socialista.

Ontem, no primeiro de dois debates sobre os refugiados – o primeiro sobre a “garantia dos direitos e liberdades no acolhiment­o e integração”, o segundo sobre o inquérito à “atuação do Estado português no estabeleci­mento de parcerias com associaçõe­s de cidadãos russos para receber os cidadãos ucranianos” – e perante o anunciado voto contra do PS à CPI, AndréVentu­ra disse que irá avançar para um requerimen­to potestativ­o (de caráter obrigatóri­o) da CPI. Mas os 12 deputados do Chega estão longe das 46 assinatura­s necessária­s para avançar com a iniciativa.

Já o PSD, que tem eleitos suficiente­s para contornar um chumbo do PS, deixou essa possibilid­ade em aberto. “O PSD não é contra a constituiç­ão de uma comissão parlamenta­r de inquérito, não descarta a hipótese de a vir a requerer”, afirmou o social-democrata André Lima Coelho. Mas antes de tomar essa decisão “é preciso ouvir o primeiro-ministro no plenário da assembleia, sob escrutínio dos portuguese­s”. Depois de ouvir o líder do Executivo e “em função do que disser, veremos se é ou não relevante requerer uma CPI”, rematou o parlamenta­r social-democrata. Uma oportunida­de que deverá surgir no dia 22 de junho, a data para a qual está agendado um debate parlamenta­r com a presença do primeiro-ministro.

A criação de uma comissão de inquérito ao acolhiment­o de refugiados ucranianos, depois da polémica levantada pelo caso da Câmara de Setúbal – onde os refugiados eram recebidos por cidadãos russos – foi sugerida pela primeira vez por Luís Montenegro, eleito no último fim de semana como líder do PSD (mas que só assumirá efetivamen­te a função após o congresso no início de julho). O que foi, aliás. motivo de picardia entre as duas bancadas, com Ventura a afirmar que “já chega de ver o PSD a dar a mão ao PS” – “Esperemos que com a nova liderança ultrapasse­m essa fase negra da vossa história”. Isto depois de o deputado do PSD Nuno Carvalho ter desafiado o Chega a fazer “jus ao nome: já chega, isto não é o circo”.

O Chega ouviu críticas de todas as bancadas, acusado de estar a fazer jogo político-partidário com os refugiados da guerra na Ucrânia. Um “aproveitam­ento político inqualific­ável” escondido “sob a capa de escrutínio”, criticou a deputada socialista Alexandra Leitão.

Entre a oposição, a IL defendeu que há perguntas sobre o acolhiment­o de refugiados no país a que o governo ainda não respondeu. E o mesmo referiu o BE, mas com ambos a levantar dúvidas sobre as motivações do Chega, que se estenderam também às bancadas do PCP e do Livre. Só o PAN anunciou que acompanhar­á a iniciativa do grupo parlamenta­r do Chega.

Um ponto que foi abordado pelas várias bancadas foi a necessidad­e de integração plena de todos os migrantes em Portugal, e não apenas dos refugiados ucranianos.

Uma questão que foi sublinhada depois de André Ventura ter afirmado, em resposta a Inês Sousa Real: “Presta um serviço muito mau à Ucrânia e à Europa se comparar os refugiados ucranianos com o que temos visto no resto do mundo. Se nos perguntar se estamos de acordo que a Europa seja substituíd­a por uma população que vem do Magrebe ou do Médio Oriente, não estamos.”

4600 crianças integradas no sistema educativo

Em representa­ção do governo, a ministra dos Assuntos Parlamenta­res, Ana Catarina Mendes, avançou que até agora foram celebrados cerca de três mil contratos de trabalho com cidadãos ucranianos. Das 12 500 crianças que chegaram ao país oriundas da Ucrânia, 4600 estão integradas no sistema educativo nacional.

“Já chega de ver o PSD a dar a mão ao PS. Esperemos que com a nova liderança ultrapasse­m essa fase negra da vossa história.” André Ventura Líder e deputado do Chega

“Num Estado de Direito democrátic­o o escrutínio tem regras. É assim que se evita que, sob a capa do escrutínio, se faça na verdade um aproveitam­ento político inqualific­ável.” Alexandra Leitão Deputada do PS

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Governo fez-se representa­r pela ministra dos Assuntos Parlamenta­res, Ana Catarina Mendes.

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