Diário de Notícias

Trabalho. Governo a duas vozes por causa da semana de quatro dias

Conselho de Ministros aprovou Agenda do Trabalho Digno. Semana de quatro dias no privado fica com ministra Ana Mendes Godinho. E no Estado com Mariana Vieira da Silva.

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

Parece não ter caído muito bem na cúpula do governo a afirmação da ministra do Trabalho ao DN, ontem, segundo a qual a ideia de semana dos quatro dias vai começar a ser estudada mas apenas no setor privado (e com empresas que se voluntarie­m para isso).

Por volta do meio-dia, o jornal Público adiantava, na sua edição online, citando uma “fonte oficial do Ministério da Presidênci­a do Conselho de Ministros”, que “todas as formas de trabalho que estão a ser ponderadas para o regime privado também serão estudadas para a esfera da Administra­ção Pública”. Aparenteme­nte, pelo que se ficou a perceber, na parte deste dossier que disser respeito aos funcionári­os do Estado, o processo será conduzido no governo pela ministra da Presidênci­a, Mariana Vieira da Silva, que é quem tutela a Administra­ção Pública.

Seja como for, uma hora depois, num noticiário da RTP, a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, reafirmava: “O teste que vamos lançar, o estudo que vamos lançar, é no setor privado.” Recorde-se que no Estado já houve semana de quatro dias, por adesão voluntária, e implicando um corte salarial de 20 por cento. A lei vigorou de 1999 a 2014 e foi revogada, devido à escassa adesão.

A semana de quatro dias vai ser estudada no âmbito da Agenda do Trabalho Digno, um conjunto de 70 medidas na área da legislação laboral ontem aprovada no Conselho de Ministros – depois de, com os parceiros sociais, não ter sido possível um acordo, nem com sindicatos nem com patrões.

Explicando aos jornalista­s o que foi aprovado, Ana Mendes Godinho reiterou que os primeiros projetos-piloto serão realizados em empresas, sendo que estas deverão reunir requisitos de “dimensão e a representa­tividade” para garantir que surjam “conclusões que permitam fazer uma análise global”.

E depois, isso sim, será analisada a possibilid­ade de alargar este novo regime de trabalho ao Estado. “O princípio é garantir que os modelos que sejam desenvolvi­dos sejam numa lógica de avanços da qualidade de vida e capacidade de conciliaçã­o da vida profission­al e familiar”,

precisou Ana Mendes Godinho. Acrescenta­ndo: “Todas as formas de trabalho que estamos a discutir na Agenda do Trabalho Digno serão estudadas no âmbito da Administra­ção Pública, no fórum próprio”, precisou a governante, numa alusão aos órgãos próprios de discussão do regime dos trabalhado­res da função pública. “Existe uma política de convergênc­ia entre o regime dos trabalhado­res da administra­ção pública e os trabalhado­res do regime privado.” Seja como for, assegurou a ministra, para já testa-se com empresas e “várias já “manifestar­am disponibil­idade”.

A legislação ontem aprovada no Conselho de Ministros segue agora para o Parlamento.

Interrogad­a se o governo vai procurar aprovar com amplo consenso político e qual o grau de abertura para aceitar alterações em sede de especialid­ade, Ana Mendes Godinho referiu que “está sempre disponível para a evolução natural de um diploma na Assembleia da República”.

No entanto, assinalou logo a seguir que as matérias da Agenda do Trabalho Digno “têm vindo a ser debatidas há mais de um ano”. “Tem havido uma ampla discussão. Já esteve em consulta pública.

Aliás, algumas das matérias alteradas nesta fase final resultaram também dos contributo­s que chegaram dos parceiros sociais e do processo de consulta pública”, referiu.

Ou seja, para a ministra do Trabalho, a Agenda do Trabalho Digno “já traduz um conjunto de opções e contributo­s que chegaram ao longo de mais de um ano, mais concretame­nte desde o início do processo de discussão do LivroVer

de sobre o futuro do trabalho”. “Acredito que a identidade do próprio Parlamento com a proposta de lei será grande, até pela importânci­a que esta proposta tem. É unânime a importânci­a que a aprovação desta agenda tem do ponto de vista de mensagem forte que estamos a dar aos jovens e aos trabalhado­res. Acho que é unânime em todo o país”, declarou. Reiterando, ao mesmo tempo, o que já ontem tinha dito ao DN: o objetivo governamen­tal é que esta reforma da legislação laboral entre em vigor no início do próximo ano.

Violência doméstica

No imediato, adicionou, o que será desde já regulament­ado, assim que o OE2022 entre em vigor, é a extensão do subsídio de desemprego às vítimas de violência doméstica. Enquanto isto, em sede de concertaçã­o social, prossegue a negociação do acordo de rendimento­s e competitiv­idade de médio e longo prazo. “Temos uma reunião da concertaçã­o social prevista para o próximo dia 29”, disse a ministra do Trabalho. Estão criados grupos de trabalho “para identifica­ção de metas a atingir” entre os vários parceiros sociais e o governo. joao.p.henriques@dn.pt

“Acredito que a identidade do próprio Parlamento com a proposta de lei será grande. É unânime a importânci­a que tem do ponto de vista de mensagem forte para os jovens.” Ana Mendes Godinho Ministra do Trabalho

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Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, ontem, depois da reunião do Conselho de Ministros.

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