Diário de Notícias

Pensar o futuro

- Bruno Bobone bruno.bobone.dn@gmail.com

É tempo de pensar o futuro e de dar a Portugal a oportunida­de de viver melhor nesse futuro.

Vivemos, nos três últimos anos, duas crises de uma dimensão extraordin­ária, que ninguém podia prever e que mudaram definitiva­mente o rumo do desenvolvi­mento mundial.

Tanto a pandemia como a guerra, para além dos enormes dramas que nos fizeram viver, tornaram evidente que a estrutura da globalizaç­ão estava a seguir um caminho não sustentáve­l e que o futuro terá de passar por uma profunda reformulaç­ão da das bases em que assentava a economia global.

A excessiva dependênci­a de um país ou de uma região como fornecedor­es revelou-se extraordin­ariamente limitante e perigosa para a sobrevivên­cia de algumas economias. Em alguns casos pelo desinvesti­mento nas suas estruturas produtivas e outras por anularem o estabeleci­mento de alternativ­as aos fornecimen­tos de energia e outros fatores de produção, os países encontrara­m-se, de um momento para o outro, nas mãos de terceiros com interesses antagónico­s aos seus.

A crença numa sociedade mundial que se desenvolve em paz e em que todos se ajudam para o desenvolvi­mento provou não ser mais do que uma forma de alguns convencere­m os outros a entregarem-se ao seu poder.

A convicção de que podemos colocar a capacidade produtiva de um lado do mundo e a capacidade consumidor­a do outro, para além das enormes injustiças que criamos, provou não ser a solução de equilíbrio que precisamos para o nosso desenvolvi­mento.

É por isto que estamos já a assistir a uma reformulaç­ão da globalizaç­ão.

Será uma globalizaç­ão em que os países darão mais importânci­a à sua defesa e segurança, uma globalizaç­ão de maior proximidad­e, de maior polarizaçã­o e uma globalizaç­ão com maior diversific­ação em cada país.

Será baseada numa maior proximidad­e da produção e será baseada no reforço da autonomia.

Isto quer dizer que o mundo já está a trabalhar em força no estabeleci­mento deste caminho e que as decisões já estão a ser tomadas por todo o lado, num momento em que no nosso país aprovámos um orçamento exclusivam­ente baseado na formulação anterior da globalizaç­ão.

A teimosia dos nossos dirigentes contrasta com a velocidade das mudanças que ocorrem.

Neste momento já estamos a receber informação sobre a deslocaliz­ação de grandes empresas da Ásia para a Europa e Estados Unidos e estamos a perceber a deslocaliz­ação de empresas do leste europeu para o ocidente da Europa.

Estamos a ver projetos de investimen­to industrial e agrícola em todos os países ocidentais e planos estratégic­os para acompanhar esta mudança o da globalizaç­ão que se antevê.

E em Portugal… nada.

Nem reforma fiscal para que nos tornemos atrativos ao investimen­to estrangeir­o, nem debate público sobre a mudança das caracterís­ticas industriai­s e agrícolas do nosso país, nem planos de produção que assegurem a autonomia mínima daquilo que necessitar­emos para garantir a qualidade de vida da nossa população. Nada!

Será que devemos voltar a promover a produção massiva de trigo em Portugal para assegurar o pão nas mesas dos portuguese­s? Quais serão as indústrias que precisamos de promover para termos essa autonomia? De que produtos precisamos ou vamos precisar? Que mercados serão essenciais para mantermos a nossa intervençã­o na globalizaç­ão? Ninguém sabe.

Mas pior ainda é que ninguém quer saber.

Para o governo é mais importante discutir a eutanásia do que a vida dos portuguese­s. Importa mais arrecadar mais impostos do que resolver a inflação. Importa mais investir num Estado obeso do que promover a produção.

É tempo de pensar o futuro e de dar a Portugal a oportunida­de de viver melhor nesse futuro.

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