“Fui médico cinco anos, até um me levar a deixar a medicina de vez. Trabalhava 60 a 100 horas por semana e isso tornou-se insuportável”, conta Mário Pereira.
Burnout
a coincidência. “Fiquei impressionado com o percurso do Mário, porque tomar uma decisão destas durante o internato ainda é uma decisão com mais impacto”, atira Gonçalo. “As nossas histórias são tão parecidas, que foi bastante engraçado. Identifiquei-me bastante com o Gonçalo e gosto bastante dele”, reage Mário.
Hoje, os dois olham para trás e para a sua mudança de carreira e a primeira expressão que sai da boca de ambos é “não estou arrependido”. Gonçalo está a trabalhar na startup portuguesa Kitch, desde janeiro, e descreve o seu novo emprego como uma “aventura fantástica”. “Posso dizer que estou feliz pela maneira como as coisas correram e pelas minhas decisões”, define.
Já Mário, cerca de duas semanas depois de ter terminado o curso intensivo de programador, foi convidado para uma entrevista na PricewaterhouseCoopers e acabou contratado. “Estou felicíssimo. São muito flexíveis, há muita liberdade em relação à gestão do nosso trabalho. Consigo investir noutras áreas, tenho tempo para continuar a aprender e aperfeiçoar temáticas na área da programação, uma realidade totalmente oposta daquela que vivi enquanto médico.”
Os dois não veem o seu futuro noutra área que não a da programação, mas enquanto Mário diz que “regressar à carreira de médico está fora de questão”, Gonçalo acredita que nunca vai deixar deixar de ser médico. “Toda a gente fala sobre saúde e acho que continuarei sempre a ajudar pessoas próximas. Isso deixa-me muito realizado e é uma mais-valia. O meu percurso vai sempre acompanhar-me: cresci imenso como pessoa e o curso de Medicina fez-me ganhar e consolidar valores que levarei comigo para a vida.”
Para quem não se sente satisfeito na sua carreira, mas tem medo de mudar, deixam alguns conselhos. “Arriscar, porque vale a pena procurar a felicidade”, frisa Gonçalo. “Estruturar as coisas e nunca dar um passo maior do que a perna. Experimentar, durante algum tempo, se é realmente o que queremos fazer”, aponta Mário.